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A
vegetação do Bioma do Cerrado, considerado aqui em seu "sensu lato",
não possui uma fisionomia única em toda a sua extensão. Muito ao contrário,
ela é bastante diversificada, apresentando desde formas campestres bem
abertas, como os campos limpos de cerrado, até
formas relativamente densas, florestais, como os cerradões. Entre estes
dois extremos fisionômicos, vamos encontrar toda uma gama de formas
intermediárias, com fisionomia de savana, às vezes de carrasco, como
os campos sujos, os campos cerrados, os cerrados "sensu stricto" (s.s.).
Assim, na natureza o Bioma do Cerrado apresenta-se como um mosaico de
formas fisionômicas, ora manifestando-se como campo sujo, ora como cerradão,
ora como campo cerrado, ora como cerrado s.s. ou campo limpo. Quando
percorremos áreas de cerrado, em poucos km podemos encontrar todas estas
diferentes fisionomias. Este mosaico é determinado pelo mosaico de manchas
de solo pouco mais pobres ou pouco menos pobres, pela irregularidade
dos regimes e características das queimadas de cada local (freqüência,
época, intensidade) e pela ação humana. Assim,
embora o Bioma do Cerrado distribua-se predominantemente em áreas de
clima tropical sazonal, os fatores que aí limitam a vegetação são outros:
a fertilidade do solo e o fogo. O clímax climático do Domínio do Cerrado
não é o Cerrado, por estranho que possa parecer, mas sim a Mata Mesófila
de Interflúvio, sempre verde, que hoje só existe em pequenos relictos,
sobre solos férteis tipo terra roxa legítima. As diferentes formas de
Cerrado são, portanto, pedoclímaces ou piroclímaces, dependendo de ser
o solo ou o fogo o seu fator limitante. Claro que certas formas abertas
de cerrado devem esta sua fisionomia às derrubadas feitas pelo homem
para a obtenção de lenha ou carvão.
De
um modo geral, podemos distingüir dois estratos na vegetação dos Cerrados:
o estrato lenhoso, constituído por árvores e arbustos, e o estrato herbáceo,
formado por ervas e subarbustos. Ambos são curiosamente heliófilos.
Ao contrário do caso de uma floresta, o estrato herbáceo aquí não é
formado por espécies de sombra, umbrófilas, dependentes do estrato lenhoso.
O sombreamento lhe faz mal, prejudica seu crescimento e desenvolvimento.
O adensamento da vegetação lenhosa acaba por eliminar em grande parte
o estrato herbáceo. Por assim dizer, estes dois estratos se antagonizam.
Por esta razão entendemos que as formas intermediárias de Cerrado -
campo sujo, campo cerrado e cerrado s.s. - representem verdadeiros ecótonos,
onde
a vegetação herbácea/subarbustiva e a vegetação arbórea/arbustiva estão
em intensa competição, procurando, cada qual, ocupar aquele espaço de
forma independente, individual. Aqueles dois estratos não comporiam
comunidades harmoniosas e integradas, como nas florestas, mas representariam
duas comunidades antagônicas, concorrentes. Tudo aquilo que beneficiar
a uma delas, prejudicará, indiretamente, à outra e vice-versa. Elas
diferem entre si não só pelo seu espectro biológico, mas também pelas
suas floras, pela profundidade de suas raízes e forma de exploração
do solo, pelo seu comportamento em relação à seca, ao fogo, etc., enfim,
por toda a sua ecologia. Toda a gama de formas fisionômicas intermediárias
parece-nos expressar exatamente o balanço atual da concorrência entre
aqueles dois estratos.
Troncos
e ramos tortuosos, súber espêsso, macrofilia e esclerofilia são características
da vegetação arbórea e arbustiva, que de pronto impressionam o observador.
O sistema subterrâneo, dotado de longas raízes pivotantes, permite a
estas plantas atingir 10, 15 ou mais metros de profundidade, abastecendo-se
de água em camadas permanentemente úmidas do solo, até mesmo na época
seca.
Já
a vegetação herbácea e subarbustiva, formada também por espécies predominantemente
perenes, possui órgãos subterrâneos
de resistência, como bulbos, xilopódios, sóboles, etc., que lhes garantem
sobreviver à seca e ao fogo. Suas raízes são geralmente superficiais,
indo até pouco mais de 30 cm. Os ramos aéreos são anuais, secando e
morrendo durante a estação seca. Formam-se, então 4, 5, 6 ou mais toneladas
de palha por ha/ano, um combustível que facilmente se inflama, favorecendo
assim a ocorrência e a propagação das queimadas nos Cerrados. Neste
estrato as folhas são geralmente micrófilas e seu escleromorfismo é
menos acentuado.
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