Meu Ensaio

VOCÊ É O QUE VOCÊ COME

“O rato roeu a roupa do rei de Roma”? Por anos e anos este velho ditado popular Europeu vem entretendo as mentes juvenis. Partindo do pressuposto que roedores não são capazes de se alimentar de fibras de tecidos manufaturados, do que realmente o “rato” se alimenta? É sabido que o estudo da dieta dos roedores é um dos tripés essenciais para o entendimento e conhecimento da história natural e ecologia da ordem, e tendo estes conhecimentos em mãos torna-se possível elaborar ações mais específicas e eficientes na conservação de espécies ameaçadas de extinção, como no caso do Euryoryzomys russatus. Com a ajuda da técnica isotópica, pela fixação molecular do nitrogênio, é possível ter a confirmação dos recursos alimentares utilizados pelo E. russatus desde o seu nascimento até a sua última refeição. Pesquisas para a averiguação da dieta de roedores vêm sendo desenvolvidas desde a década de 70 com publicações como: Ecologia del zorro gris, Oryzomys sp. en la Provincia de La Pampa (CRESPO, J.A. 1971). Desde Charles Darwin, pesquisadores se perguntavam se a taxa de recrutamento, densidade e extinção de uma dada espécie estavam relacionadas com os recursos disponíveis no ambiente. Com esta indagação surgiam outras novas dúvidas, pois não bastava o recurso estar disponível no ambiente, más também a espécie tinha que ser capaz de se alimentar do dado recurso. Com a existência de algumas espécies de animais que eram extremamente dependentes de um ou poucos recursos disponíveis no ambiente (espécies especialistas) verificou-se que as ações antrópicas vinham extinguindo espécies ao longo do tempo sem saber em muitas vezes a sua causa. Portanto, foi à partir deste ponto que os estudos sobre ecologia, conservação das espécies e história natural cresceram em suma importância, principalmente para as espécies em perigo de extinção, afetadas pela falta de recursos e habitat, gerando assim o pouco conhecimento que se sabe até hoje. Alguns roedores desenvolvem papéis importantes na dinâmica ecológica em que se inserem. Como o caso das espécies do gênero Dasyprocta, como a cutia, que possuem o hábito de se alimentar de frutos além de dispersar as sementes. Já o gênero Oxymycterus possui o hábito de predar insetos e o gênero Nectomys preda pequenos peixes. Logo todos cumprem um papel ecológico trófico, sejam como dispersores ou reguladores. Apesar do E. russatus ser um roedor de pequeno porte, 10cm de corpo mais 10 cm de cauda, seu papel na dinâmica florestal não perde para nenhuma espécie de grande porte. Pelo contrário, é uma espécie-chave na preservação de ambientes florestais. Por ser um animal de hábito terrestre, este se alimenta de recursos provenientes em sua grande maioria de artrópodes. Porém, faz parte de sua dieta alguns frutos que caem das árvores. Por ser uma espécie aparentemente especialista, já foi verificado que com o desaparecimento de algumas espécies arbóreas e de algumas ordens de artrópodes o E. russatus se extingue localmente. Portanto a falta de informação destes dois pontos causa uma lacuna, não permitindo atuar na preservação da espécie corretamente e principalmente do seu habitat. Uma técnica apurada para a verificação dos recursos ingeridos tem facilitado muito a apontar com precisão qual a dieta utilizada por determinada espécie ao longo de sua vida. Trata-se da análise da taxa de nitrogênio fixada nos tecidos e órgãos do indivíduo. É sabido que cada recurso alimentar possui uma carga de nitrogênio atrelada a ela. Assim a partir da análise isotópica de fragmentos de tecido ou órgãos do indivíduo é possível chegar à identificação das ordens e até das espécies dos recursos consumidos pelo mesmo. Com esta identificação é possível traçar metas e ações mais precisas para a conservação de espécies-chave e, principalmente, dos recursos utilizados por eles. Desta maneira, é importante ressaltar que além da preservação dos recursos e espécies foco se tem também, por efeito cascata, a preservação de outras espécies ocorrentes no habitat. Assim sendo, a análise isotópica para a identificação dos recursos alimentares utilizados pelo E. russatus possibilita indicar com precisão as espécies de fauna e flora utilizadas em sua dieta, para posteriormente avaliar com mais precisão as causas da diminuição de sua densidade e/ou extinção principalmente nas áreas florestadas que estão em processos de fragmentação. Logo fica claro que a verificação da dieta é um dos estudos prioritários dentro da história natural de uma espécie, pois o conhecimento prévio dos recursos energéticos utilizados pela mesma é determinante para o sucesso do seu estabelecimento, sobrevivência e recrutamento. Além da verificação precisa dos recursos energéticos utilizados esta técnica ainda pode ser associada e aplicada na análise das fezes excretadas pelo animal, fornecendo assim a porcentagem dos recursos alimentares que foram absorvidos e dos que foram excretados pelo animal. Isto é: O quanto o animal assimilou do recurso ingerido para o uso como fonte energética e o quanto o seu organismo não assimilou (excretado nas fezes). Com isso a comparação dos recursos utilizados pelo E. russatus podem ser ranqueados e questionados quanto sua eficiência fisiológica do recursos para a espécie. Más para esta discussão será necessário mais duas páginas que ficarão para um futuro próximo.

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