Aqui você vê as diferenças entre duas revisões dessa página.
Ambos lados da revisão anteriorRevisão anteriorPróxima revisão | Revisão anterior | ||
ensaios:vania_luisa_spressola_prado [2009/10/03 03:50] – edição externa 127.0.0.1 | ensaios:vania_luisa_spressola_prado [2011/07/20 14:40] (atual) – edição externa 127.0.0.1 | ||
---|---|---|---|
Linha 1: | Linha 1: | ||
+ | ====== O eclipse do equilíbrio ====== | ||
+ | |||
+ | **Por Vânia Luisa Spressola ** | ||
+ | |||
+ | ===== introdução ===== | ||
+ | |||
+ | |||
+ | A história importa. | ||
+ | |||
+ | No que diz respeito às interações ambiente-humano, | ||
+ | |||
+ | História, escala local e regional. Temas centrais do ensaio, questões que importam também para a ecologia. Daí, o ponto de partida. Mas aonde se deseja aportar? O que motiva a reflexão é a pergunta fundamental do trabalho de quem escreve aqui. Como é que as pessoas das comunidades ditas tradicionais articulam a influência de fatores locais e regionais na produção de seus status nutricionais (o balanço entre consumo alimentar e nível de atividade física)? Vale lembrar, os fatores não diferem apenas em escala espacial, mas na ontologia (são fisiológicos, | ||
+ | |||
+ | ===== 1 história : 2 paradigmas ===== | ||
+ | |||
+ | Para abrir, uma demonstração empírica de que história importa. Estudando a organização de comunidades, | ||
+ | |||
+ | O segundo passo é responder o que define, então, história. Para Prigogine (1977 apud Prado, 2009((como são notas de aula, vale uma observação, | ||
+ | |||
+ | Acontece que a noção de sistemas ecológicos (ecossistemas, | ||
+ | Não por acaso, este foi o período de consolidação do novo paradigma nas ciências ecológicas: | ||
+ | |||
+ | Quem seriam os atores dessa revolução? | ||
+ | Sim, diversidade local resulta deterministicamente das interações que ocorrem dentro da comunidade, especialmente competição. | ||
+ | |||
+ | Similaridade limitante é chave de compreensão do divórcio entre processos regionais e diversidade local. Espécies competidoras coexistem se a compressão do nicho em razão de seu partilhamento estiver abaixo do limite a partir do qual ocorreria exclusão competitiva. Assim, diversidade é mais ou menos fixada no ponto de saturação, | ||
+ | |||
+ | Com tanta força explicativa dos mecanismos locais, por pouco o mundo todo não é homogêneo na diversidade de espécies. Mas pela regra geral da ecologia teórica, a diversidade da comunidade responde à variação nas condições físicas locais. Acontece que em condições físicas similares, a diversidade das comunidades biológicas nem sempre é a mesma em termos de riqueza de espécies (Orion e Pane, 1983; Lawton, 1984 apud Rickelfs, 1987). A diversidade local apresenta uma demonstrável dependência da diversidade regional (Cornell, 1985). Tais observações sugerem que processos regionais e históricos, | ||
+ | |||
+ | Na verdade, a ecologia teórica se opõe à visão de mundo da história natural –origem da ecologia e biologia evolutiva (McIntosh, 1985) - que considera | ||
+ | |||
+ | Reações não tardaram. Oster e Wilson (1978, apud Kingsland, 1995) defendem, a consciência histórica não implica em tudo ser aleatório e sem padrões, nem que a disciplina histórica não é cientifica. Para eles, modelos matemáticos tinham que ser usados com cautela, como guias provisionais da pesquisa. Whittaker e Levin (1977) sugeriram: o desejo dos ecologistas((para evitar confusão com o grupo mais amplo que inclui amadores e ativistas, prefiro " | ||
+ | |||
+ | Apesar das evidencias da atuação dos fatores de maior escala sobre a diversidade local, Ricklefs (1987) se pergunta por que é que os ecólogos tem sido tão tardios em adotar uma perspectiva regional? Para ele, a resposta está no conceito de comunidade, infrutífero nesse sentido. Por isso é que em 2008, propõe a desintegração desse conceito, propõe fragmentá-lo, | ||
+ | |||
+ | Um conceito individualistico já havia sido proposto originalmente por Gleason em 1917 apud McIntosh, (1985): as espécies têm características ecológicas individualistas e se reúnem em comunidades locais de acordo com a estocástica da dispersão e de ambientes disponíveis. Peter Taylor, em seu livro Complexidade sem Regras (2005 apud Prado, 2009) define comunidades como situações. Estão embebidas num contexto onde tudo se define. Os limites entre escalas local e regional são tênues. A regional é ao mesmo tempo contexto e produto da local. Entre elas, não há limites claros, nem dinâmica interna coerente e nem relações simples com o contexto. | ||
+ | |||
+ | E assim, chegamos às bases do mais novo paradigma, o do não-equilibrio, | ||
+ | |||
+ | ===== O mau selvagem ===== | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Narrativas românticas de pessoas bem adaptadas e vivendo em balanço com seus ambientes são cada vez mais vistas com ceticismo. Do mesmo modo, narrativas pessimistas de pessoas destruindo seus ambientes (Vayda, 1998).((faltou algo aqui?)) , há crescente consideração de que influências locais e não-locais podem afetar a maneira das pessoas usarem seus recursos ambientais num dado momento, o que pode mudar quando as circunstancias mudam((ou seja, bom ou mau selvagem são relativos? | ||
+ | |||
+ | A revisão de Cristina Adams (2000) sobre caiçaras é bom exemplo. Ela constatou que na literatura de 1970 pra cá, é regularidade((regular)) a caracterização das populações caiçaras como isoladas, pescadoras tradicionais, | ||
+ | Em poucas palavras, a pesca artesanal é antes momento econômico último na vida dos caiçaras do que atividade tradicional em que se esmeraram ao longo de gerações. Originalmente eram populações de lavradores-pescadores, | ||
+ | |||
+ | No artigo de Rui Murrieta (1994) vemos que as comunidades camponesas estão integradas à economia de mercado e aos sistemas políticos nacionais e internacionais há muito tempo, negando que tenham permanecido isoladas da sociedade colonial ou nacional, com as quais estabelecem uma interação dialética, com diferentes graus de envolvimento e dependência política-economica. Tal qual Adams entre os caiçaras, o autor observa este fenômeno entre as populações caboclas da Amazonia e argumenta que a idealização deve ter sido inspirada por um dos momentos históricos de menor integração com o mercado, ou pelo ponto de vista colonial e discriminatório disseminado pelas elites locais e nacionais. | ||
+ | Nesse sentido, a Ecologia Histórica – área recente da Antropologia Ecológica – é ferramenta importante. O estudo dos sistemas ecológicos não é só através dos componentes humanos (economia, religião, política, etc), como também pelo aspecto diacrônico. Nessa linha, Walters e Vayda (2009) propõe((propõem)) a ecologia do evento, metodologia alinhada com o debate ecológico. Por meio dela, a pesquisa é guiada por questões abertas sobre porque mudanças ambientais de interesse aconteceram. Procura explicar tais mudanças por fazer conexões causais com acontecimentos anteriores e construir cadeias causais pra trás no tempo e geralmente pra frente no espaço((previsões de padrões espaciais futuros?)), dos efeitos para as causas. A abordagem é congruente com a visão de não-equilibrio da natureza uma vez que não requer suposições a priori sobre limite, estabilidade ou integridade dos sistemas ecológicos (ou sócio-ecológicos). O foco está na explicação dos eventos, e não de comunidades ou sistemas((não ficou claro para mim como tal abordagem permitiria fazer pervisões. Isto a diferenciaria das vertentes históricas tradicionais. Aliás, se não é isto, há outra característica que contribui para esta diferenciação? | ||
+ | |||
+ | Contra qualquer ingenuidade russoniana, o paradigma do não-equilíbrio e seu impacto sobre a interação ambiente-humano, | ||
+ | ((Apreciação geral: um passeio original e instigante por várias questões teóricas que tratamos na disciplina. Está claro que você abraçou a proposta de dialogar com estas questões, e colocá-las para trabalhar. Na minha opinião, é o que esperava provocar nos alunos e alunas da disciplina. Gostei muito do estilo também, embora em alguns pontos as omissões e referências, | ||
+ | |||
+ | ===== BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ===== | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Adams, C. 2000. As populações caiçaras e o mito do bom selvagem: a necessidade de uma nova abordagem interdisciplinar. Rev. Antropol. vol.43 n.1 São Paulo 2000. | ||
+ | |||
+ | Chesson, PL & TJ Case 1986. Overview: nonequilibrium community theories: chance, variability, | ||
+ | |||
+ | Cornell, H.V. 1985. Local and regional richness of cynipine gall wasps on California | ||
+ | |||
+ | Drake, J.A. 1991. Community-assembly mechanisms and the structure of an experimental species ensemble. The American Naturalist 137: 1-26. | ||
+ | |||
+ | Kingsland, S. 1995. Modeling nature-Episodes in the history of population ecology. The Chicago University Press, Chicago. | ||
+ | |||
+ | McIntosh, R. 1985. The Background of Ecology. Concept and Theory. New York: Cambridge University Press. | ||
+ | |||
+ | Murrieta, R. S. S. 1994 Diet and subsistence: | ||
+ | |||
+ | Prado, P.I.K.L. 2009. Slides da aula Fatores Regionais. | ||
+ | |||
+ | Ricklefs, R. E. 1987. Community diversity: relative roles of local and regional processes. Science 235: 167-171. pdf | ||
+ | |||
+ | Ricklefs, R.E. & Schluter, D. 1993. Species diversity in ecological communities: | ||
+ | |||
+ | Ricklefs, R.E. 2008. Disintegration of the ecological community. The American Naturalist 172: | ||
+ | |||
+ | Vayda A.P. 1994. Actions, variations, and change: The emerging anti-essentialist view in anthropology. In Assessing cultural anthropology, | ||
+ | |||
+ | Vayda, A.P. 1998. Anthropological perspectives on tropical deforestation? | ||
+ | |||
+ | Walters, B.B. 2004. Local management of mangrove forests in the Philippines: | ||
+ | |||
+ | Walters, Bradley B. and Vayda, Andrew P.(2009)' | ||
+ | |||
+ | Whittaker, R.H.; Levin, S.H. 1977. The role of mosaic phenomena in natural communities. Theoritica Population Biology, 12,117-39. | ||
+ | |||
+ | ===== Arquivo do Ensaio ===== | ||
+ | |||
{{: | {{: | ||