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ensaios:paula_hanna_valdujo [2009/10/03 01:40] – paulahv | ensaios:paula_hanna_valdujo [2011/07/20 14:40] (atual) – edição externa 127.0.0.1 |
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==Importância de fatores locais e regionais na estruturação de comunidades em um contexto histórico e evolutivo== | ==Importância de fatores locais e regionais na estruturação de comunidades em um contexto histórico e evolutivo== |
| ((Apreciação Geral: uma revisão abrangente do assunto, bem articulada e fundamentada. As duas críticas que tenho são: (1) Não ficou claro para mim qual o impacto dos conceitos discutidos em sua pesquisa. Como conheço um pouco sua pesquisa e sei que ela está exatamente neste contexto teórico, minha hipótese é que apenas fazer a revisão do tema já lhe pareceu auto-evidente, mas não é. (2) A revisão é bastante completa, mas o preço que vc pagou por isto foi deixar de explorar ligações entre as proposições teóricas, e as possibilidades de formarem um corpo teórico integrado. Por exemplo: quais as relações entre a nova teoria de metacomunidades e o binômio clássico local/regional de Ricklefs e colaboradores? Como estes dois conceitos podem dialogar com toda a escola de filogeografia (para além de comparar clados irmãos e convergência fenotípica)? Qual o papel de diferentes processos de especiação na riqueza local, e vice-versa? Cada uma destas perguntas já resultaria em um ensaio, e algumas delas foram mencionadas neste. Mas me parece que prevaleceu o caráter de revisão bibliográfica, mais do que de ensaio. )) |
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Paula Hanna Valdujo | Paula Hanna Valdujo |
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Importância de fatores locais e regionais na estruturação de comunidades em um contexto históricoe e evolutivo | Importância de fatores locais e regionais na estruturação de comunidades em um contexto histórico e e evolutivo |
Compreender os fatores que determinam a distribuição das espécies pelo planeta e os padrões de diversidade resultantes tem sido um desafio que interessa a ecólogos e biogeógrafos há muito tempo. Desde a década de 80 e, com maior intensidade, a partir da década de 90 diversos estudos enfocando o papel de fatores regionais na estruturação das comunidades foram publicados. Os termos "local"e "regional" referem-se a escalas espaciais nas quais predominam respectivamente processos ecológicos e biogeográficos (Cornell e Lawton 1992). Estudos têm demostrado a importância de processos que operam em cada uma das escalas na estruturação de comunidades (eg. Paine, 1966; Mittelbach et al., 2001). A relação entre as escalas local e regional não pode ser definida simplesmente como comunidades locais sendo amostras do pool regional de espécies, já que o conjunto de espécies em uma região é, por definição, a soma das espécies que ocorrem em comunidades locais nesta região (Cornell e Lawton 1992). Desta forma, a compreensão da estrutura das comunidades e de seus condicionantes dependem de um enfoque integrado de padrões e processos e suas interações nas diversas escalas espaciais. | Compreender os fatores que determinam a distribuição das espécies pelo planeta e os padrões de diversidade resultantes tem sido um desafio que interessa a ecólogos e biogeógrafos há muito tempo. Desde a década de 80 e, com maior intensidade, a partir da década de 90 diversos estudos enfocando o papel de fatores regionais na estruturação das comunidades foram publicados. Os termos "local"e "regional" referem-se a escalas espaciais nas quais predominam respectivamente processos ecológicos e biogeográficos (Cornell e Lawton 1992). Estudos têm demostrado a importância de processos que operam em cada uma das escalas na estruturação de comunidades (eg. Paine, 1966; Mittelbach et al., 2001). A relação entre as escalas local e regional não pode ser definida simplesmente como comunidades locais sendo amostras do pool regional de espécies, já que o conjunto de espécies em uma região é, por definição, a soma das espécies que ocorrem em comunidades locais nesta região (Cornell e Lawton 1992). Desta forma, a compreensão da estrutura das comunidades e de seus condicionantes dependem de um enfoque integrado de padrões e processos e suas interações nas diversas escalas espaciais. |
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Processos que operam em escala local, tais como interações competitivas, podem interferir em padrões de diversidade em escala regional, pois de acordo com Cornell e Lawton (1992), se a diversidade local é saturada, então a diversidade regional deve ser limitada por processos locais. Entretanto, devido a heterogeneidades nos ambientes, ocorre uma alta substituição de espécies entre locais o que parece atenuar os efeitos dos processos locais sobre a diversidade regional (Cornell e Lawton 1992). Esse padrão pode ser gerado também por processos geológicos, tais como eventos de orogênese ou epirogênese, que venham a isolar populações que, por processos locais de interações com outras espécies e com o habitat que sofreu modificações, podem sofrer especiação por vicariância (Brown e Lomolino, 2006), o que aumenta a diversidade regional pelo aumento da substituição de espécies entre comunidades, sem que a diversidade local tenha sofrido alterações. Isso deixa claro que tão importante quanto a escala espacial no entendimento da organização das comunidades é a escala temporal, na medida em que os padrões observados atualmente são o resultado de processos ocorridos ao longo do tempo evolutivo. | Processos que operam em escala local, tais como interações competitivas, podem interferir em padrões de diversidade em escala regional, pois de acordo com Cornell e Lawton (1992), se a diversidade local é saturada, então a diversidade regional deve ser limitada por processos locais. Entretanto, devido a heterogeneidades nos ambientes, ocorre uma alta substituição de espécies entre locais o que parece atenuar os efeitos dos processos locais sobre a diversidade regional (Cornell e Lawton 1992). Esse padrão pode ser gerado também por processos geológicos, tais como eventos de orogênese ou epirogênese, que venham a isolar populações que, por processos locais de interações com outras espécies e com o habitat que sofreu modificações, podem sofrer especiação por vicariância (Brown e Lomolino, 2006), o que aumenta a diversidade regional pelo aumento da substituição de espécies entre comunidades, sem que a diversidade local tenha sofrido alterações. Isso deixa claro que tão importante quanto a escala espacial no entendimento da organização das comunidades é a escala temporal, na medida em que os padrões observados atualmente são o resultado de processos ocorridos ao longo do tempo evolutivo. |
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Uma estratégia para reconstruir a história evolutiva e seus efeitos sobre a organização das comunidades é a utilização de táxons mais inclusivos, tais como pares de espécies-irmãs, grupos monofiléticos de espécies, gêneros, etc (Brooks e MacLennan, 1991, Ricklefs e Schluter, 1993). Os padrões correspondem à escala dos processos que os geraram (Ricklefs, 1987), e conjuntos de espécies-irmãs podem revelar padrões não detectados quando são apenas contados os números de espécies. Isso se aplica também a estudos de diversidade em escala global, que buscam entender como fatores ecológicos e climáticos atuam nos processos evolutiovs e biogeográficos para determinar padrões de riqueza (Wiens e Donoghue 2004). | Uma estratégia para reconstruir a história evolutiva e seus efeitos sobre a organização das comunidades é a utilização de táxons mais inclusivos, tais como pares de espécies-irmãs, grupos monofiléticos de espécies, gêneros, etc (Brooks e MacLennan, 1991, Ricklefs e Schluter, 1993). Os padrões correspondem à escala dos processos que os geraram((ou seja, padrões estão restritos à escala dos processos que os geraram? Os parágrafos anteriores argumentam o contrário)) (Ricklefs, 1987), e conjuntos de espécies-irmãs podem revelar padrões não detectados quando são apenas contados os números de espécies. Isso se aplica também a estudos de diversidade em escala global, que buscam entender como fatores ecológicos e climáticos atuam nos processos evolutiovs e biogeográficos para determinar padrões de riqueza (Wiens e Donoghue 2004). |
Assim, com o avanço das técnicas de filogenia molecular, estudos mais recentes tem incorporado informações filogenéticas a análises de diversidade (e.g. Webb, 2000). Com isso, desenvolve-se atualmente uma interface entre a sistematica filogenética, a biogeografia, a biologia evolutiva e a ecologia de comunidades (Wiens e Donoghue, 2004). Apesar de não ser possível testar os mecanismos que geram os padrões nesta escala espacial / temporal, o reconhecimento de padrões recorrentes entre espécies de diferentes linhagens que compõem as comunidades, associado a informações a respeito da história da Terra permite que sejam formuladas hipóteses bem embasadas para explicar determinados processos. | Assim, com o avanço das técnicas de filogenia molecular, estudos mais recentes tem incorporado informações filogenéticas a análises de diversidade (e.g. Webb, 2000). Com isso, desenvolve-se atualmente uma interface entre a sistematica filogenética, a biogeografia, a biologia evolutiva e a ecologia de comunidades (Wiens e Donoghue, 2004). Apesar de não ser possível testar os mecanismos que geram os padrões nesta escala espacial / temporal, o reconhecimento de padrões recorrentes entre espécies de diferentes linhagens que compõem as comunidades, associado a informações a respeito da história da Terra permite que sejam formuladas hipóteses bem embasadas para explicar determinados processos. |
Estes estudos integrativos reunem três elementos importantes à compreensão da relação entre as escalas local e regional: composição de comunidades, filogenia e atributos das espécies. A base destes estudos é a idéia de que espécies interagem em comunidades, que essas interações são determinadas pelas diferenças e semelhanças fenotípicas e que a variação entre fenótipos tem base na história evolutiva (Webb et al.,2002). Deste modo, conhecer a história evolutiva das espécies e suas linhagens fornece elementos importantes para o entendimento das comunidades atuais tanto em escala local quanto regional. | Estes estudos integrativos reunem três elementos importantes à compreensão da relação entre as escalas local e regional: composição de comunidades, filogenia e atributos das espécies. A base destes estudos é a idéia de que espécies interagem em comunidades, que essas interações são determinadas pelas diferenças e semelhanças fenotípicas e que a variação entre fenótipos tem base na história evolutiva (Webb et al.,2002). Deste modo, conhecer a história evolutiva das espécies e suas linhagens fornece elementos importantes para o entendimento das comunidades atuais tanto em escala local quanto regional. |
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Wiens (2004) propõe que a tendência das espécies de reter nichos ecológicos ao longo do tempo evolutivo e sua inabilidade de adaptar-se a novas condições ambientais sejam fatores-chave para o isolamento das populações e criação de novas linhagens, o que pode explicar a presença ou a ausência de determinadas espécies tanto em escala local quanto em escala regional. Este enfoque não se restringe a estudos em escala regional, pois considerando que a conservação de atributos ecológicos é amplamente observada nos mais diferentes grupos taxonômicos (Wiens e Graham 2005), o efeito de interações locais e filtros ambientais em escala local podem ser avaliados medindo-se o quanto espécies filogeneticamente relacionadas e ecologicamente similares co-ocorrem. Espera-se que se houver competição entre espécies com atributos similares, as comunidades tenderão a apresentar um padrão de dispersão filogenética ("overdispersion"; Webb et al., 2002). | Wiens (2004) propõe que a tendência das espécies de reter nichos ecológicos ao longo do tempo evolutivo e sua inabilidade de adaptar-se a novas condições ambientais sejam fatores-chave para o isolamento das populações e criação de novas linhagens, o que pode explicar a presença ou a ausência de determinadas espécies tanto em escala local quanto em escala regional((o argumento aqui não ficou claro: o que é causa e o que é efeito, e quais os processos envolvidos?)). Este enfoque não se restringe a estudos em escala regional, pois considerando que a conservação de atributos ecológicos é amplamente observada nos mais diferentes grupos taxonômicos (Wiens e Graham 2005), o efeito de interações locais e filtros ambientais em escala local podem ser avaliados medindo-se o quanto espécies filogeneticamente relacionadas e ecologicamente similares co-ocorrem. Espera-se que se houver competição entre espécies com atributos similares, as comunidades tenderão a apresentar um padrão de dispersão filogenética ("overdispersion"; Webb et al., 2002). |
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Assim, a adição e interação entre processos em diferentes escalas espaciais, temporais e taxonômicas na estruturação de comunidades e na diversidade local, regional ou continental favorecem estudos que integrem teorias da ecologia de comunidades à biogeografia e macroecologia para que sejam formuladas e testadas hipóteses a respeito de padrões que não podem ser explicados por estudos que se concentram em uma escala apenas. | Assim, a adição e interação entre processos em diferentes escalas espaciais, temporais e taxonômicas na estruturação de comunidades e na diversidade local, regional ou continental favorecem estudos que integrem teorias da ecologia de comunidades à biogeografia e macroecologia para que sejam formuladas e testadas hipóteses a respeito de padrões que não podem ser explicados por estudos que se concentram em uma escala apenas. |