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 Para abrir, uma demonstração empírica de que história importa. Estudando a organização de comunidades, Drake (1991) mostrou que a sequencia de invasão de espécies, bem como o intervalo entre as invasões resultam em comunidades com estruturas diferentes. “Historical explanations emphasize the way particular events accumulating over time have given rise to certain patterns, for instance patterns of species distribution and abundance. These explanations, often framed as narratives, tend to be cautious in offering predictions, focusing instead on how unusual events can change the course of history.”(Kingsland, 1995, 218). Para abrir, uma demonstração empírica de que história importa. Estudando a organização de comunidades, Drake (1991) mostrou que a sequencia de invasão de espécies, bem como o intervalo entre as invasões resultam em comunidades com estruturas diferentes. “Historical explanations emphasize the way particular events accumulating over time have given rise to certain patterns, for instance patterns of species distribution and abundance. These explanations, often framed as narratives, tend to be cautious in offering predictions, focusing instead on how unusual events can change the course of history.”(Kingsland, 1995, 218).
  
-O segundo passo é responder o que define, então, história. Para Prigogine (1977 apud Prado, 2009), além de irreversibilidade, história pressupõe acontecimento (realização de um entre muitos estados possíveis), contexto (conjunto de condições que definem os acontecimentos possíveis, suas probabilidades, e seus efeitos no sistema) e coerência (relações que definem o contexto como consequência de acontecimentos prévios).+O segundo passo é responder o que define, então, história. Para Prigogine (1977 apud Prado, 2009((como são notas de aula, vale uma observação, esclarecendo, para que nãos e confunda com algo que escrevi)) ), além de irreversibilidade, história pressupõe acontecimento (realização de um entre muitos estados possíveis), contexto (conjunto de condições que definem os acontecimentos possíveis, suas probabilidades, e seus efeitos no sistema) e coerência (relações que definem o contexto como consequência de acontecimentos prévios).
  
 Acontece que a noção de sistemas ecológicos (ecossistemas, comunidades) em equilibrio já faz tropeçar a história ao nível do acontecimento. A desconsideração da influencia de fatores de maior escala, o contexto. O determinismo, a coerencia. Proponho constatarem isso, partindo do momento em que idéias assim ocultaram a história, feito Terra e lua num eclipse. Nas palavras de Kingsland (1995), o “eclipse da história”.  Acontece que a noção de sistemas ecológicos (ecossistemas, comunidades) em equilibrio já faz tropeçar a história ao nível do acontecimento. A desconsideração da influencia de fatores de maior escala, o contexto. O determinismo, a coerencia. Proponho constatarem isso, partindo do momento em que idéias assim ocultaram a história, feito Terra e lua num eclipse. Nas palavras de Kingsland (1995), o “eclipse da história”. 
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-Narrativas românticas de pessoas bem adaptadas e vivendo em balanço com seus ambientes são cada vez mais vistas com ceticismo. Do mesmo modo, narrativas pessimistas de pessoas destruindo seus ambientes (Vayda, 1998). , há crescente consideração de que influências locais e não-locais podem afetar a maneira das pessoas usarem seus recursos ambientais num dado momento, o que pode mudar quando as circunstancias mudam (Walters, 2004).+Narrativas românticas de pessoas bem adaptadas e vivendo em balanço com seus ambientes são cada vez mais vistas com ceticismo. Do mesmo modo, narrativas pessimistas de pessoas destruindo seus ambientes (Vayda, 1998).((faltou algo aqui?)) , há crescente consideração de que influências locais e não-locais podem afetar a maneira das pessoas usarem seus recursos ambientais num dado momento, o que pode mudar quando as circunstancias mudam((ou seja, bom ou mau selvagem são relativos?)) (Walters, 2004).
  
-A revisão de Cristina Adams (2000) sobre caiçaras é bom exemplo. Ela constatou que na literatura de 1970 pra cá, é regularidade a caracterização das populações caiçaras como isoladas, pescadoras tradicionais, autosuficientes e em equilíbrio com o ambiente, primitivas, “bons selvagens”. Sua investigação no tempo desnudou a idealização resultante narrativas sem perspectiva histórica, sincrônicas, produto típico do neofuncionalismo reinante na Ecologia Cultural da década de 1970 (Headland, 1997 apud Adams, 2000). Vale dizer, o neofuncionalismo adota abordagem ecossistêmica de comunidades humanas. Daí a noção de equilíbrio, isolamento e sincronia. +A revisão de Cristina Adams (2000) sobre caiçaras é bom exemplo. Ela constatou que na literatura de 1970 pra cá, é regularidade((regular)) a caracterização das populações caiçaras como isoladas, pescadoras tradicionais, autosuficientes e em equilíbrio com o ambiente, primitivas, “bons selvagens”. Sua investigação no tempo desnudou a idealização resultante narrativas sem perspectiva histórica, sincrônicas, produto típico do neofuncionalismo reinante na Ecologia Cultural da década de 1970 (Headland, 1997 apud Adams, 2000). Vale dizer, o neofuncionalismo adota abordagem ecossistêmica de comunidades humanas. Daí a noção de equilíbrio, isolamento e sincronia. 
-Em poucas palavras, a pesca artesanal é antes momento econômico último na vida dos caiçaras do que atividade tradicional em que se esmeraram ao longo de gerações. Originalmente eram populações de lavradores-pescadores, muito relacionadas com caipiras, no interior. Apesar do papel transformador da chegada do barco a motor que resultou no abandono total ou parcial das práticas agrícolas e que rompeu com a situação de isolamento, Adams insere a mudança num contexto histórico mais amplo, que naturaliza o evento. É mais um dos inúmeros ciclos econômicos pelos quais a comunidade teria passado.+Em poucas palavras, a pesca artesanal é antes momento econômico último na vida dos caiçaras do que atividade tradicional em que se esmeraram ao longo de gerações. Originalmente eram populações de lavradores-pescadores, muito relacionadas com caipiras, no interior. Apesar do papel transformador da chegada do barco a motor que resultou no abandono total ou parcial das práticas agrícolas e que rompeu com a situação de isolamento, Adams insere a mudança num contexto histórico mais amplo, que naturaliza o evento((não compreendi o que foi naturalizado nem como)). É mais um dos inúmeros ciclos econômicos pelos quais a comunidade teria passado.
  
 No artigo de Rui Murrieta (1994) vemos que as comunidades camponesas estão integradas à economia de mercado e aos sistemas políticos nacionais e internacionais há muito tempo, negando que tenham permanecido isoladas da sociedade colonial ou nacional, com as quais estabelecem uma interação dialética, com diferentes graus de envolvimento e dependência política-economica. Tal qual Adams entre os caiçaras, o autor observa este fenômeno entre as populações caboclas da Amazonia e argumenta que a idealização deve ter sido inspirada por um dos momentos históricos de menor integração com o mercado, ou pelo ponto de vista colonial e discriminatório disseminado pelas elites locais e nacionais.   No artigo de Rui Murrieta (1994) vemos que as comunidades camponesas estão integradas à economia de mercado e aos sistemas políticos nacionais e internacionais há muito tempo, negando que tenham permanecido isoladas da sociedade colonial ou nacional, com as quais estabelecem uma interação dialética, com diferentes graus de envolvimento e dependência política-economica. Tal qual Adams entre os caiçaras, o autor observa este fenômeno entre as populações caboclas da Amazonia e argumenta que a idealização deve ter sido inspirada por um dos momentos históricos de menor integração com o mercado, ou pelo ponto de vista colonial e discriminatório disseminado pelas elites locais e nacionais.  
-Nesse sentido, a Ecologia Histórica – área recente da Antropologia Ecológica – é ferramenta importante. O estudo dos sistemas ecológicos não é só através dos componentes humanos (economia, religião, política, etc), como também pelo aspecto diacrônico. Nessa linha, Walters e Vayda (2009) propõe a ecologia do evento, metodologia alinhada com o debate ecológico. Por meio dela, a pesquisa é guiada por questões abertas sobre porque mudanças ambientais de interesse aconteceram. Procura explicar tais mudanças por fazer conexões causais com acontecimentos anteriores e construir cadeias causais pra trás no tempo e geralmente pra frente no espaço, dos efeitos para as causas. A abordagem é congruente com a visão de não-equilibrio da natureza uma vez que não requer suposições a priori sobre limite, estabilidade ou integridade dos sistemas ecológicos (ou sócio-ecológicos). O foco está na explicação dos eventos, e não de comunidades ou sistemas.+Nesse sentido, a Ecologia Histórica – área recente da Antropologia Ecológica – é ferramenta importante. O estudo dos sistemas ecológicos não é só através dos componentes humanos (economia, religião, política, etc), como também pelo aspecto diacrônico. Nessa linha, Walters e Vayda (2009) propõe((propõem)) a ecologia do evento, metodologia alinhada com o debate ecológico. Por meio dela, a pesquisa é guiada por questões abertas sobre porque mudanças ambientais de interesse aconteceram. Procura explicar tais mudanças por fazer conexões causais com acontecimentos anteriores e construir cadeias causais pra trás no tempo e geralmente pra frente no espaço((previsões de padrões espaciais futuros?)), dos efeitos para as causas. A abordagem é congruente com a visão de não-equilibrio da natureza uma vez que não requer suposições a priori sobre limite, estabilidade ou integridade dos sistemas ecológicos (ou sócio-ecológicos). O foco está na explicação dos eventos, e não de comunidades ou sistemas((não ficou claro para mim como tal abordagem permitiria fazer pervisõesIsto a diferenciaria das vertentes históricas tradicionais. Aliás, se não é isto, há outra característica que contribui para esta diferenciação?))
  
 Contra qualquer ingenuidade russoniana, o paradigma do não-equilíbrio e seu impacto sobre a interação ambiente-humano, a dissolução do local e regional relativizando isolamento e autosuficiencia nas comunidades humanas bem como a   fluidez e embebimento dos novos conceitos de comunidade podem ser reveladores para quem lida com maus selvagens e bons ocidentais.   Contra qualquer ingenuidade russoniana, o paradigma do não-equilíbrio e seu impacto sobre a interação ambiente-humano, a dissolução do local e regional relativizando isolamento e autosuficiencia nas comunidades humanas bem como a   fluidez e embebimento dos novos conceitos de comunidade podem ser reveladores para quem lida com maus selvagens e bons ocidentais.  
 +((Apreciação geral: um passeio original e instigante por várias questões teóricas que tratamos na disciplina. Está claro que você abraçou a proposta de dialogar com estas questões, e colocá-las para trabalhar. Na minha opinião, é o que esperava provocar nos alunos e alunas da disciplina. Gostei muito do estilo também, embora em alguns pontos as omissões e referências, por vezes estilísticas, não foram claras o suficiente para ecólogos. Por fim, me pareceu que o fôlego (ou o tempo?) acabaram bruscamente na última seção, o que foi particularmente frustrante para mim, e deve ser para ecólogos em geral. Estou familiarizado com os temas das seções precedentes (embora como professor seja um prazer ler reflexões provocadas por eles), e o que ainda me intriga é se/como conceitos como local, regional, história e determinismo são colocados para trabalhar na sua área de conhecimento.))
  
 ===== BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ===== ===== BIBLIOGRAFIA CONSULTADA =====
ensaios/vania_luisa_spressola_prado.1258582574.txt.gz · Última modificação: 2011/07/20 14:39 (edição externa)
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