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 Woolhouse, M. E. J.; D. T. Haydon; R. Antia (2005) Emerging pathogens: the epidemiology and evolution of species jumps. Trends in Ecology and Evolution 20(5): 238–244. Woolhouse, M. E. J.; D. T. Haydon; R. Antia (2005) Emerging pathogens: the epidemiology and evolution of species jumps. Trends in Ecology and Evolution 20(5): 238–244.
  
-==== A importância da integração de processos históricos e regionais na compreensão da montagem de comunidades locais  ==== 
-==Rosana Campos Paschoalino== 
  
-Existem diversos processos ecológicos, históricos e biogeográficos que norteiam a montagem das comunidades ecológicas atuais (Ricklefs 1976). Os processos históricos envolvem eventos ao longo do tempo que determinam a situação atual de uma comunidade em escala local (Cavender-Bares et al. 2009). Esses eventos podem estar relacionados à dinâmica geológica do lugar e às relações filogenéticas das espécies que formaram ao longo do tempo, seja por especiação, seleção, deriva e/ou dispersão (MacArthur 1969; Ricklefs 1987; Vellend 2010). Além da história evolutiva das espécies e das mudanças sofridas no ambiente, os processos ditos inicialmente regionais, estão relacionados ao pool regional de espécies, responsável por gerar e manter a diversidade das comunidades locais (Ricklefs 1987). Isso significa que se uma espécie se extingue dentro da comunidade, ela pode ser ‘renovada’ com a chegada de novas populações da mesma, ou substituída com a chegada de novas espécies do pool regional, já que comunidades ecológicas são abertas e sempre suscetíveis a eventos de migração (Harrison e Cornell 2008). 
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-É de grande conhecimento que processos ecológicos são resultados de processos históricos e regionais, mas pouco se discute e investiga que processos históricos e regionais também podem ser resultantes de processos ecológicos locais (Wiens e Donoghue 2004). Por isso a integração e investigação do passado e presente de comunidades locais devem ser feitas, inclusive em estudos empíricos de ecologia de comunidades, mesmo quando a base de dados é restrita (Harrison e Cornell 2008). Assim, ecólogos devem investigar processos locais (bióticos e abióticos) e padrões que formam a composição e riqueza das comunidades a fim de uma melhor compreensão sobre processos regionais e históricos, como uma via de mão dupla (o que localmente influencia os limites do alcance dos clados envolvidos) (Wiens e Donoghue 2004). Para isso, podemos contar com o avanço no desenvolvimento de ferramentas filogenéticas, surgindo um novo campo da filogenia para ecologia de comunidades (Webb et al. 2002; Cavender-Bares et al. 2009), além de modelos matemáticos desenvolvidos que incorporam cada vez mais características ambientais, relações bióticas, história evolutiva, tudo num mesmo ‘balaio’ a fim de inferir processos e padrões ecológicos de uma maneira mais integrativa (Johnson e Omland 2004). 
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-Focando agora nos processos regionais, sabemos também da forte influência dos mesmos na estruturação de comunidades locais. Cornell em 1985, estudou espécies de carvalhos e vespas-da-galha e encontrou que o tamanho do alcance regional dos carvalhos prediz a riqueza regional total e a riqueza local dos carvalhos e das vespas que ocupam cada espécie de árvore. Uma conclusão particular do trabalho é a importância do estudo ser conduzido em escalas espaciais e temporais bem definidas, de acordo com o(s) grupo(s) taxonômico(s) envolvido(s), para que assim o viés de inferência sobre processos e padrões seja menor. Além disso, devemos considerar que entre regiões e pequenas localidades também existe um sistema de ‘mão dupla’, onde sabemos, como já dito anteriormente, que a composição regional influencia as localidades que a contém. Porém o contrário também é válido, o que acontece em escala local influencia a composição regional, como num sistema de retroalimentação. Mas ainda assim, devemos considerar que a região pode apresentar características independentes e particulares, como a heterogeneidade ambiental e histórico biogeográfico diferente das localidades (Harrison e Cornell 2008). Por exemplo, uma região de savana contém um pool regional que influencia a composição das comunidades em diferentes fitofisionomias dentro da savana e o que acontece dentro das fitofisionomias também influencia a região da savana como um todo. Mas ainda assim, cada fitofisionomia possui um histórico biogeográfico diferente e que a heterogeneidade ambiental (e.g. pluviosidade, cobertura de serapilheira) influencia muito mais a região como um todo do que cada fitofisionomia em particular. Para tentar ilustrar esse cenário, utilizei a figura adaptada de Harrison e colaboradores (2006), onde os autores desenvolvem um modelo para tentar entender as relações e a força/direção da interação de diferentes fatores (ambientais, regionais e locais) na riqueza local de espécies vegetais (Fig. 1). 
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-{{  |Figura 1- Resultado do modelo de equação estrutural multiescala dos correlatos da riqueza de espécies. A largura das setas indica as forças relativas das vias. Um ‘+’ indica um efeito positivo e um ‘+⁄-‘) indica um efeito unimodal. A figura é adaptada de Harrison et al. 2006 e a legenda é reproduzida de Harrison e Cornell 2008.)}} 
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-Segundo a Teoria dos Refúgios, a Amazônia sofreu diversas flutuações em seu clima e vegetação ao longo do tempo, explicando parte da alta biodiversidade endemismo, onde espécies se dispersaram por diversos pontos do bioma e depois ficaram restritas a parte deles e diferentes formações vegetacionais surgiram e desapareceram nesse extenso processo (Haffer 1969; Ab’ Saber 1992). As regiões de savanas estão espalhadas em diversas manchas imersas na matriz de floresta ombrófila do bioma amazônico (Almeida-Júnior 1986). Em Carajás, no sudeste do estado do Pará, elas são encontradas nos topos das montanhas das serras que compreendem a Floresta Nacional de Carajás (Flonaca). O soerguimento das rochas que formam as serras é datado do período Pré-Cambriano e seu assentamento se deu no final do Mesozoico, início do período Terciário, concluindo que são formações rochosas bem antigas (Ab’Saber 1986). Dentro das áreas dessas savanas, encontramos basicamente três tipos de fitofisionomias bem distintos: capões de mata (pequenas ilhas de vegetação estruturalmente mais desenvolvidas), campos brejosos e campos rochosos, que estão uniformemente distribuídas pelas serras (Silva et al. 1996). No meu trabalho de mestrado amostramos comunidades locais de anfíbios anuros, com espécies endêmicas das savanas e outras compartilhadas com a floresta. Inicialmente, eu e meus colaboradores, investigamos a possível divergência de espécies de anuros e seus atributos funcionais entre as diferentes fitofisionomias e posteriormente, incluímos a comparação das comunidades locais entre as diferentes serras da Flonaca.  
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-Pensando na integração de diferentes processos, seria muito interessante investigar possíveis processos históricos e regionais envolvidos (tanto da área de estudo quanto das espécies) e analisar a influência do pool regional sobre a estruturação das comunidades locais. Anfíbios possuem um longo histórico evolutivo na Terra (350 Ma) (Instituto Rã-Bugio 2022), com tempo suficiente para grandes eventos de dispersão e estabilização em vários ambientes. Não seria diferente com a dispersão e estabilização das espécies nessas áreas de savana imersas na floresta amazônica, mas ao mesmo tempo, isso pode ser um impedimento para muitas delas se dispersarem. Outra questão interessante a se levantar é: e como as espécies típicas de outras áreas abertas (e.g. Cerrado) conseguiram chegar nessas ilhas de savanas amazônicas?  
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-A partir do compilado dos atributos funcionais das espécies, a análise da formação de diferentes grupos funcionais pode indicar se essas comunidades se estruturam a partir de relações bióticas (competição) ou por influência do ambiente, do histórico da área ou pelo pool regional, pensando em um modelo semelhante ao de Harrison e colaboradores (2006). Além disso, incluir a filogenia das espécies e dados das características ambientais de cada fitofisionomia, pode gerar o modelo proposto para compreender o grau de influência de cada processo diferente que possa definir os padrões de diversidade de anfíbios nas savanas. Mas pensando no que já temos e para finalizar, apesar de ter sido um estudo experimental, com coleta de dados limitada e pouco enviesada, as informações levantadas fornecerão subsídios para a compreensão da outra via que poucos ecólogos se direcionam: como processos locais podem influenciar processos regionais e até mesmo históricos. E história é o que não falta nas savanas amazônicas de Carajás. 
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-==Referências bibliográficas== 
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-Ab’Saber, A. (1986) Geomorfologia da região. Em: Carajás: Desafio político, ecologia e desenvolvimento, 1st ed (ed J. Almeida Jr.) pp. 88-124. Brasiliense, São Paulo. 
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-Ab’Sáber, A. (1992) A teoria dos refúgios: Origem e significado. Revista do Instituto Florestal. Edição Especial. 
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-Almeida-Júnior, J. M. G. (1986) Carajás: Desafio político, Ecologia e Desenvolvimento. CNPq, 1st ed. Brasiliense, São Paulo. 
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-Cavender-Bares, J; Kozak, K.H; Fine, P.V; Kembel, S.W. (2009) The merging of community ecology and phylogenetic biology. Ecology letters, doi: 10.1111/j.1461-0248.2009.01314.x. 
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-Haffer, J. (1969) Speciation in Amazonian Forest Birds. Science, New Series, v. 165,  n. 3889. 
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-Harrison, S; Safford, H.D; Grace, J.B; Viers, J.H; Davies, K.F. (2006). Regional and local species richness in an insular environment: serpentine plants in California. Ecological Monographs, 76,41–56. 
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-Harrison, S; Cornell, H. (2008) Toward a better understanding of the regional causes of local community richness. Ecology Letters, doi: 10.1111/j.1461-0248.2008.01210.x. 
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-Instituto Rã-bugio. Anfíbios. <http://ra-bugio.org.br/anfibios_sobre_01.php>. Acesso em 09 de Março de 2022. 
-Johnson, J.B; Omland, K.S. (2004) Model selection in ecology and evolution. Trends in Ecology and Evolution, doi.org/10.1016/j.tree.2003.10.013. 
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-MacArthur, R.H. (1969) Patterns of communities in the tropics. Biological Journal of the Linnean Society, Volume 1, Issue 1-2, Pages 19–30, https://doi.org/10.1111/j.1095-8312.1969.tb01809.x. 
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-Ricklefs, R.E. (1976) História, Biogeografia e Diversidade em: A economia da Natureza. 1 ed. 
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-Ricklefs, R.E. (1987) Community Diversity: Relative Roles of Local and Regional Processes. Science 235: 167-171. 
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-Silva, M.F; Secco, R.S; Lobo, M. (1996) Aspectos ecológicos da vegetação Rupestre da Serra dos Carajás (PA). Acta Amazônica 26 (1/2): 17-46. 
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-Vellend, M. (2010) Conceptual synthesis in community ecology. The Quaterly Review of Biology 85: 183-206. 
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-Webb, C.O; Ackerly, D; McPeek, M.A; Donoghue, M.J. (2002) Phylogenies and Community Ecology. Annual Review of Ecology and Systematics, Vol. 33, pp. 475-505. 
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-Wiens, J; Donoghue, M.J. (2004) Historical biogeography, ecology and species richness. Trends in Ecology and Evolution Vol.19 No.12. 
  
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