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 Wiens, J. J., & Donoghue, M. J. (2004). Historical biogeography, ecology and species richnes. Trends in ecology & evolution, 19(12), 639–44.  Wiens, J. J., & Donoghue, M. J. (2004). Historical biogeography, ecology and species richnes. Trends in ecology & evolution, 19(12), 639–44. 
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 +====Biogeografia de Ilhas: Aplicável a Microrganismos?====
 +===Ananda Brito de Assis===
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 +A Teoria da Biogeografia de Ilha (Mac Arthur e Wilson, 1967) prevê que, em ambientes insulares, o número de espécies tem correlação positiva com a área da ilha, correlação negativa com a distância do continente mais próximo – ou reservatório de espécies – e, ao se atingir a capacidade de suporte, tal número permanece mais ou menos constante, apesar da mudança contínua na composição da comunidade. A diversidade de hábitat é uma das explicações para a relação espécie-área, assim, quanto maior o número de hábitats mais espécies a ilha poderá suportar. Alternativamente, esta relação pode ser explicada pelo modelo de equilíbrio da biogeografia de ilhas, onde o número de espécies presentes em uma ilha é explicado pelo balanço entre as taxas de imigração e extinção, sendo que a área afeta a extinção e a distância afeta a imigração (Gotelli, 2007). Os processos envolvidos nos padrões observados sob a luz desta teoria são a deriva e a dispersão (Vellend, 2010). 
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 +A teoria de MacArthur e Wilson tem tido grande influência na Biogeografia e na Ecologia e o modelo de equilíbrio da riqueza de espécies tem sido aplicado a diversos ecossistemas isolados como lagos, topos de montanhas e outros ambientes terrestres com assembléias de biotas isoladas (Losos e Ricklefs, 2010). Na disciplina Ecologia de Paisagens, desde a década de 1980, biogeógrafos e ecólogos adaptam os princípios desta teoria ao planejamento de reservas naturais no continente, ao considerarem fragmentos florestais como ilhas (Metzger, 2001), quando aparecem os conceitos de “matrix” e “patchs” (Fahring, 2003).
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 +A relação espécie-área enquanto “uma das poucas leis genuínas em Ecologia”, segundo Gotelli (2009), é aplicada às iniciativas de preservação de espécies em paisagens fragmentadas, seguindo a premissa de que fragmentos maiores abrigam maior riqueza de espécies, que também é dependente do grau de isolamento dos mesmos. A teoria também tem servido de inspiração ao desenvolvimento de hipóteses nulas testáveis em Ecologia de comunidades e Biogeografia (Cassemiro e Pardial, 2008).
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 +A existência ou não de Biogeografia para microrganismos é uma das questões que têm se preponderado nos últimos anos na ciência Microbiologia. Principalmente após o surgimento de técnicas de Biologia Molecular que possibilitaram a caracterização – taxonômica e metabólica – de comunidades de microrganismos em larga escala, em um curto período de tempo e com os custos cada vez menores. Hoje é possível estudar a composição de comunidades microbianas, com amplas amostragens, em diversas partes do mundo (Martiny et al., 2006). 
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 +Em oposição à idéia da existência de padrões geográficos para microrganismos, no início do século dezenove Augustin de Candolle (1778-1841) postulou que “os mais baixos níveis de organização organismal são mais genericamente distribuídos” e Lourens G.M. Baas Becking (1895-1963) afirmou que “microrganismos estão em qualquer lugar, o substrato os seleciona”. Em concordância, a “hipótese da dispersão ubíqua” traz a idéia de que tamanho pequeno, dispersão ilimitada e vasto tamanho populacional, previnem o isolamento e a extinção (Fenchel e Finlay, 2004; Finlay, 2002). Por outro lado, estudo mais recentes, sobretudo na Antártica, tem trazido indícios de possíveis padrões biogeográficos para grupos específicos de microrganismos (Gibson et al., 2006).
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 +Minha pesquisa atual busca entender como são moldadas as comunidades microbianas que vivem sobre a epiderme de uma espécie de anfíbio. Utilizo a descrição de padrões de riqueza e densidade total para caracterizar as comunidades microbianas que habitam indivíduos em manchas de habitats e medições de variáveis abióticas ambientais – pH, temperatura, umidade, radiação – com o intuito de identificar qual delas (ou suas interações) poderiam sem mais predizíveis para os padrões observados.  
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 +Sob a perspectiva da Teoria da Biogeografia de Ilhas é possível pensar que os mecanismos de deriva e dispersão das bactérias dessas comunidades se dão em duas escalas espaciais. Primeiro uma mais estrita: ao considerar cada indivíduo como uma ilha, a dispersão e deriva das bactérias se dariam entre cada sapo (ilha) e o ambiente (continente). Segundo uma mais ampla: com a dispersão e deriva se dando entre as manchas de habitats, porém sendo mediada pelos sapos. Assim, uma vez que os indivíduos transitassem entre manchas, o padrão da microbiota cutânea dos anfíbios deveria ser interpretado como resultado dos processos de dispersão e deriva destes indivíduos entre as manchas de hábitats e da dispersão e deriva das bactérias entre o indivíduo e o ambiente. 
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 +Outro aspecto a ser verificado neste sistema, sob a luz da Biogeografia de Ilhas, é a relação espécie-área: o tamanho dos indivíduos (ilhas) pode influenciar a riqueza de espécies bacterianas residentes. Além disso, talvez o tamanho de um fragmento (continente) pode ser um determinante na riqueza de espécies bacterianas encontradas sobre os sapos (ilhas). Esta observação também estaria em sincronia com a idéia de Ricklefs (1987) de que é necessário olhar para o contexto regional (comunidade do fragmento) para entender o local (comunidade do sapo).
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 +Com base nos autores citados e seus postulados, fica uma questão a ser elucidada: o que explicaria melhor os padrões observados na microbiota cutânea do anfíbio em estudo? A resposta poderia ser elaborada segundo o postulado de Baas Becking acima: uma vez que microrganismos estão amplamente distribuídos – ampla dispersão e deriva –, indiferentemente ao macroambiente, o substrato (pele) selecionaria e modularia a comunidade que habita sobre os anfíbios. De outra maneira, tais padrões poderiam ser explicados como o resultado de uma colonização, determinada por mecanismos de imigração e extinção subsequentes, a partir de uma ampla capacidade de dispersão das bactérias entre ambiente e indivíduo – Biogeografia de ilhas. Eis um sistema a ser testado para verificar a validade da teoria para o mundo dos microrganismos?
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 +==Referências bibliográficas==
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 +Cassemiro, F.A.S. e Padia, A.A. (2008) Teoria neutra da biodiversidade e biogeografia: Aspectos teóricos, impactos na literatura e perspectivas. Oecologia Brasiliensis 12 (4): 706-719.
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 +Fahring, L. (2003) Effects of habitat fragmentation on biodivesity. Annual Reviews of Ecology and Systematics 34: 487-515.
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 +Fenchel T, Finlay BJ. 2004. The ubiquity of small species: patterns of local and global diversity. BioScience 54: 777–784.
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 +Finlay BJ. 2002. Global dispersal of free-living microbial eukaryote species. Science (296): 1061–1063.
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 +Gibson, J.A.E.; Wilmotte, A.; Taton, A.; van de Vijver, B.; Beyens, L.; Dartnall, H.J.G. Biogeographic trends in Antartic lake communities. In: Trends in Antarctic Terrestrial and Limnetic Ecosystems: Antarctica as a Global Indicator, Springer, DM Bergstrom, P Convey and AHL Huiskes (ed), Dordrecht, pp. 71-99 (2006)
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 +Gotelli, N. J. 2009. Ecologia. 4 edição. Editora Planta.
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 +Losos, J. & Ricklefs, R. (Eds.) The Theory of Island Biogeography Revisited. Princenton University Press.
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 +MacArthur, R.H. & Wilson, E.O. (1967). The Theory of Island Bio- geography. Princeton University Press, Princeton.
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 +Martiny, J.B.H.; Bohannan, B.J.M.; Brown, J.H.; Colwell, R.K.; Fuhrman, J.A.; Green, J.L.; Horner-Devine, M.C.; Kane, M.; Krumins, J.A.; Kuske, C. R.; Morin, P.J.; Naeem, S.; Ovreas,L.; Reysenbach, A.L.; Smith, V.L.H.; Staley, J.T. (2006) Microbial biogeography: putting microorganisms on the map.Nature (4):102-112.
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 +Metzger, J.P. (2001). “O que é ecologia de paisagens?”. Biota Neotropica v1http://www.biotaneotropica.org.br/v1n12/pt/abstract?thematic-review+BN00701122001 (último acesso 20.12.2012)
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 +Ricklefs, R. E. 1987. Community diversity: relative roles of local and regional processes. Science 235: 167-171.
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 +Vellend, M. (2010) Conceptual synthesis in community ecology. The Quarterly Review of Biology 85 (2): 183-206. 
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ensaios/2012.1356802070.txt.gz · Última modificação: 2012/12/29 17:27 por paulo
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