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ensaios:2011 [2011/11/25 22:07] – serrano | ensaios:2011 [2011/11/26 03:55] (atual) – santana | ||
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====== Ensaios 2011 ====== | ====== Ensaios 2011 ====== | ||
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====Nicho Ecológico==== | ====Nicho Ecológico==== | ||
===Simone Tessaro=== | ===Simone Tessaro=== | ||
Linha 559: | Linha 560: | ||
Whittaker, R. H. 1972. Evolution and measurement of species diversity. Taxon, 21: 213-251. | Whittaker, R. H. 1972. Evolution and measurement of species diversity. Taxon, 21: 213-251. | ||
- | + | ====Resiliencia e estados estáveis alternativos==== | |
+ | ===Vivian Angélica Pinzón Melo=== | ||
+ | As relações que conectam as comunidades são complexas e precisam ser abordadas desde diferentes aproximações ecológicas para assim poder compreender os processos que nelas ocorrem, Em minha visão da compreensão dos sistemas ecológicos e a ecologia de comunidades, | ||
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+ | Na visão clássica de ecologia de comunidades pretende-se chegar a constituir uma teoria geral com fortes evidencias empíricas (Roughgarden, | ||
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+ | Cada uma dessas aproximações da um suporte chave e permitem encaixar também o conceito de resiliencia ecológica neste campo do conhecimento, | ||
+ | Os pontos de vista de resiliencia e estabilidade do comportamento dos sistemas ecológicos podem produzir diversas aproximações ao manejo dos recursos (Berkes et. al. 2003), já que a estabilidade faz ênfase no equilíbrio e a manutenção de um mundo previsível com pequenas flutuações, | ||
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+ | Abordar as alterações na estrutura e composição das comunidades de mamíferos, em áreas fragmentadas ou degradadas por processos de expansão humana, precisa de uma grande quantidade de informação que nem todas às vezes esta disponível, | ||
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+ | Compreender as dinâmicas das comunidades de mamíferos em paisagens que vem sofrendo nestas ultimas décadas modificações contundentes, | ||
+ | ==Referências bibliográficas== | ||
+ | Beisner BE., Haydon DT., & Cuddington K. (2003). Alternative Stable States in Ecology. Front. Ecol. Environ. 1: 376-382 | ||
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+ | Berkes F., Colding J., Folke C. (2003). Navigating Social-Ecological Systems; Building Resilience for Complexity and Change. Cambridge University Press. U.K. | ||
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+ | Blindow I., Andersson G., Hargeby A., & Johansson S. (1993). Long – Term Pattern of Alternative Stable States in Two Shallow Eutrophic Lakes. Freshwater Biology, 30: 159 – 167 | ||
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+ | Elmqvist T., Folke C., Nystrom M., Peterson G., Bengtsson J., Walker B., & Norberg J. (2003). Responce Diversity, Ecosystem Change, and Resilience. Frontiers in Ecology and Environment 1: 488 – 494. | ||
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+ | Folke C. Carpenter S., Walker B., Scheffer M., Elmqvist T., Gunderson L., & Holling CS. (2004) Regime Shifts, Resilience, and Biodiversity in Ecosystem Management. Annu. Rev. Ecol. Evol. Syst. 35: 557-581. | ||
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+ | Holling, C.S. (1973). Resilience and Stability of Ecological Systems. Annual Review Ecological System. No 4. 1-23 | ||
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+ | Laurance W., Lovejoy T., Vasconcelos H., Bruna E., Didhham R., Stouffer P., Gascon C., Bierregaard R., Laurance S., Sampaio E., (2002). Ecosistem Decay of Amazonian Forest | ||
+ | Fragments: a 22 – Year Investigation Conservation Biology, 16: 605 – 618 | ||
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+ | May RM., (1977). Thresholds and breakpoints in ecosystems whit a multiplicity of stable states. Nature 269: 471-477 | ||
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+ | Pardini R., Bueno AdA, Gardner TA., Prado PI., Metzger JP. (2010) Beyond The Fragmentation Threshold Hypotesis Regime Shifts in Biodiversity Across Fragmented Landscapes. PLoS ONE 5(10): e13666. Doi: | ||
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+ | Persson L., Amundsen PA., De Roos AM., Klemetsen A., Knudsen R., Primicerio R. (2007) Culling Prey Promotes Predator Recovery – Alternative States in a Whole – Lake Experiment. Science 316: 1743-1746. | ||
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+ | Roughgarden, | ||
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+ | Scheffer, M. 2009. Alternative Stable States. In: Critical Transitions in Nature and Society, Chapter II, pp. 11-36, Princenton University Press | ||
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+ | Vellend M. (2010). Conceptual Synthesis in Community Ecology. The Quarterly Review of Biology. Vol 85, No. 2. 183-206 | ||
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+ | Wangchuk S. (2007) Maintaining ecological resilience by linking protected areas through biological corridors in Bhutan. Tropical Ecology. 48 (2): 176-187 | ||
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+ | ====Efeitos indiretos mediados por atributo==== | ||
+ | ===Danilo Muniz=== | ||
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+ | Efeitos indiretos podem ser definidos como o impacto de uma espécie sobre a sobrevivência e reprodução de outra através de interações diretas de ambas as espécies com uma terceira. Nestas interações diretas, uma espécie pode reduzir a população de outra através do consumo, um efeito comumente chamado de //mediado por densidade//, | ||
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+ | Efeitos indiretos mediados por atributos adicionam a estudos de redes tróficas uma ligação explícita com mecanismos evolutivos, ao considerar que as presas possuem respostas adaptativas aos seus predadores ao invés de serem apenas vítimas passivas (Schmitz et al. 2004). Estudos empíricos têm demonstrado consistentemente que efeitos mediados por atributos estão presentes nos mais variados ambientes e que comumente são mais fortes que os mediados por densidade (Preisser et al. 2005). Ou seja, o medo imposto por um predador impacta mais a população de presas do que a efetiva remoção de indivíduos, | ||
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+ | Parte do grande interesse que este mecanismo tem despertado vêm do fato de os TMIIs serem potencialmente a maior força por trás de cascatas tróficas, reações em cadeia nas quais o efeito da interação entre dois níveis tróficos têm conseqüências para os demais níveis da cadeia trófica (Holt 2009). Cascatas tróficas são apontadas como uma grande força estruturadora de comunidades (Paine 1980, Schmitz et al. 2000, Shurin et al. 2002 ) e, portanto, se boa parte do efeito de predadores sobre presas é na verdade mediado por características, | ||
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+ | Estudos teóricos (Abrams 1984, 1992) também apontam que efeitos indiretos mediados por atributo (embora este termo não seja usado) devem influenciar fortemente a dinâmica populacional das espécies envolvidas, com o potencial para mudar as conclusões de estudos teóricos de teias tróficas dinâmicas (como o de Yodzis 1989). Estes estudos também apontam que teias tróficas mais longas devem sofrer cascatas mais fortes devido a TMIIs, e que espécies em níveis tróficos superiores devem ter efeitos mais marcantes. Reafirmando, | ||
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+ | Eu escolhi os TMIIs com tema de ensaio após ler um artigo de Orians (2000) que aponta que estudiosos do comportamento deveriam prestar mais atenção nas consequências do comportamento de indivíduos sobre as comunidades. Meu principal interesse de pesquisa sempre foi na ecologia comportamental e na seleção sexual (Muniz et. al 2008), embora eu já tenha me aventurado na descrição de uma comunidade de borboletas (Muniz 2011). Ainda assim, eu sempre enxerguei a ecologia comportamental e a de comunidades como blocos separados de pesquisa. Os efeitos indiretos mediados por atributo, entretanto, permitem que respostas comportamentais atuem como forças estruturadoras de comunidades. E isso é não só surpreendente como permite usar conhecimentos e teorias comportamentais para gerar perguntas e hipóteses sobre organização de comunidades. E isso é algo relevante! | ||
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+ | O oposto também é verdade, dentro do contexto de TMIs e TMIIs a estrutura da teia trófica na qual um organismo está inserido deve influenciar seu comportamento. Não havendo nenhuma razão, a princípio, para imaginar que TMIs não poderiam influenciar características sexualmente selecionadas. Embora exista alguma literatura sobre o efeito do risco de predação sobre comportamento de corte (e.g. Kotiaho et. al 1998) e sobre a seleção sexual (Endler 1980) as implicações de efeitos **indiretos** sobre comportamentos sexuais não parecem ter sido estudadas até o momento. Eu consigo imaginar alguns cenários em que isso poderia acontecer, como uma espécie tendo seus sítios reprodutivos invadidos por uma outra, que usa estes mesmos sítios para se refugiar de um predador. Ou a pressão de predação de uma espécie variando devido a um efeito indireto, provocando variação no tempo que os machos conseguem realizar displays reprodutivos. As possibilidades são inúmeras, e tanto estudiosos do comportamento podem ganhar prestando atenção nas comunidades onde seus objetos de estudo se inserem, como os estudiosos de comunidades podem se beneficiar ao observar o comportamento de algumas de suas espécies. | ||
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+ | ==Referências bibliográficas== | ||
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+ | Abrams, P.A. 1984. Foraging Time Optimization and Interactions in Food Webs. The American Naturalist 124(1): 80-96. | ||
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+ | Abrams, P.A. 1992. Predators that Benefit Prey and Prey that Harm Predators: Unusual Effects of Interacting Foraging Adaptation. The American Naturalist 140(4): 573-600. | ||
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+ | Brown, J.S., Laundre, J.W. & Gurung, M. 1999. The ecology of fear: Optimal foraging, game theory, and trophic interactions. Journal of Mammalogy 80(2): 385-399. | ||
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+ | Endler, J.A. 1980. Natural selection on color patterns in //Poecilia reticulata// | ||
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+ | Holt, R.D. 2009. Predation and community organization. Cap. III.3 in Princeton Guide to Ecology, Levin, S.A. Editor. | ||
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+ | Kotiaho, J, R V Alatalo, J Mappes, S Parri, and A Rivero. 1998. Male mating success and risk of predation in a wolf spider: a balance between sexual and natural selection? Journal of Animal Ecology 67(2): 287-291. | ||
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+ | Muniz, D., Peixoto, P. E. C., Benson, W. W. 2008. Pegando as fêmeas pelo estômago: territorialidade baseada em recursos na borboleta // | ||
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+ | Muniz, D. 2011. Composição e sazonalidade de borboletas frugívoras no cerrado, com ênfase na relação fenológica entre //Eunica bechina// (Nymphalidae: | ||
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+ | Orians, G.H. 2000. Behavior and community structure. Etología 51: 43-51. | ||
+ | Paine, R.T. 1966. Food Web Complexity and Species Diversity. The American Naturalist, 100(910): 65-75. | ||
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+ | Paine, R.T., 1980. Food Webs: Linkage, Interaction Strength and Community Infrastructure. The Journal of Animal Ecology 49(3): 667-685. | ||
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+ | Preisser, E.L., Bolnick, D.I. & Benard, M.F., 2005. Scared To Death? the Effects of Intimidation and Consumption in Predator–Prey Interactions. Ecology 86(2): 501-509. | ||
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+ | Schmitz, O.J., Hamback, P.A. & Beckerman, A.P. 2000. Trophic cascades in terrestrial systems: A review of the effects of carnivore removals on plants. The American Naturalist 155(2): 141-153. | ||
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+ | Schmitz, O.J., Krivan, V. & Ovadia, O., 2004. Trophic cascades: the primacy of trait-mediated indirect interactions. Ecology Letters 7(2): 153-163. | ||
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+ | Schmitz O.J. 2009. Indirect Effects in Communities and Ecosystems: The Role of Trophic and Nontrophic Interactions. Cap. III.5 in Princeton Guide to Ecology, Levin, S.A. Editor. | ||
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+ | Shurin, J. B., E. T. Borer, E. W. Seabloom, K. Anderson, C.A. Blanchette, B. Broitman, S. D. Cooper, and B. S. Halpern 2002. A cross-ecosystem | ||
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+ | Werner, E.E. & Peacor S.D. 2003. A review of trait-mediated indirect interactions in ecological communities. Ecology 84(5): 1083-1100. | ||
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+ | Yodzis, P. 1980. The connectance of real ecosystems. Nature 284: 544-545. | ||
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+ | ==== Limites de similaridade e sua contribuição para a teoria de Ecologia de Comunidades ==== | ||
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+ | === Gabriel Ponzoni Frey === | ||
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+ | A teoria do nicho (Elton 1927, Hutchinson 1957) é uma das principais explicações para a coexistência de espécies em Ecologia. O nicho, no conceito mais moderno de Hutchinson, é um espaço multidimensional das condições e recursos que permitem aos indivíduos de uma espécie exercerem seu modo de vida (Begon et al., 2007). Cada espécie possui um nicho fundamental, | ||
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+ | Ao olharmos para a diversidade numa escala regional, fica claro que os processos que influenciam a troca (// | ||
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+ | Não é por acaso que Richard Condit e Jerome Chave, dois dos autores citados anteriormente, | ||
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+ | == Referencias Bibliograficas == | ||
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+ | Begon, M., C.R. Townsend e J.L. Harper. 2007. Ecologia: De Indivíduos a Ecossistemas. 4a edição. Artmed. Porto Alegre. | ||
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+ | Chave, J. 2009. Competition, | ||
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+ | Elton, C. 1927. Animal Ecology. Sidgwick and Jackson, London. | ||
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+ | Condit, R., N. Pitman, E.G. Leigh, J. Chave, J. Terborgh, R. B. Foster, P. Núñez, S. Aguilar, R. Valencia, G. Villa, H. C. Muller-Landau, | ||
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+ | Cornell H.V. 1985. Local and regional richness of Cynipine gall wasps on California oaks. Ecology 66: 1247-1260. | ||
+ | |||
+ | Condit, R., N. Pitman, E.G. Leigh, J. Chave, J. Terborgh, R. B. Foster, P. Núñez, S. Aguilar, R. Valencia, G. Villa, H. C. Muller-Landau, | ||
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+ | Hutchinson, G. E. 1957. Concluding remarks. Cold Spring Harbor Symposia on Quantitative Biology 22: 415-427. The founding paper of the population persistence niche concept. | ||
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+ | Ricklefs, R. E. 1987. Community diversity: relative roles of local and regional processes. Science 235: 167-171. | ||
+ | |||
+ | Soininen J., J. Heino, M. Kokocinski & T. Muotka. 2009. Local–regional diversity relationship varies with spatial scale in lotic diatoms. Journal of Biogeography 36: 720–727. | ||
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+ | Steinitz, O., J. Heller, A. Tsoar, D. Rotem & R. Kadmon 2006. Environment, | ||
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+ | Tuomisto H, Ruokolainen K, Yli-Halla M. 2003. Dispersal, environment, | ||
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+ | ====Metacomunidades==== | ||
+ | ===Paulo Ilha=== | ||
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+ | O termo “metacomunidade” descreve um conjunto de comunidades locais conectadas pela dispersão de múltiplas espécies entre manchas de habitat (Wilson 1992), de tal forma que interações locais (intra específicas, | ||
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+ | Historicamente, | ||
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+ | Contudo, estes paradigmas são uma mera abstração dos processos que ocorrem na natureza, que é não só fragmentada e heterogênea (Mouquet et al. 2005), mas também estocástica e determinística (Hubbell 2001). Logo, a aplicação desta classificação não é diretamente operacional, | ||
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+ | A teoria de metacomunidades gerou um grande avanço no entendimento da dinâmica espacial das comunidades (Logue et al. 2011), mas algumas questões ainda foram pouco exploradas por esta teoria. Por exemplo: as comunidades locais nem sempre possuem limites discretos e a distribuição espacial pode encontrar-se organizada em gradientes ao invés de manchas. Além disso, é preciso considerar-se que a capacidade de dispersão e a escala local-regional variam entre espécies (Leibold et al. 2004), bem como o fato de que as espécies podem evoluir em resposta a seus ambientes. Estas e outras questões demonstram que o a teoria de metacomunidades ainda é passível de aprimoramentos e pode gerar novas formas de compreender a ecologia de comunidades (Leibold 2009). | ||
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+ | Neste sistema de estudo, tenho a hipótese de que a assembléia de peixes que habita cada conjunto de riachos de cabeceira afluente de um rio maior (3ª ordem) constitui uma comunidade local, e que a assembléia de peixes que habita a rede hidrográfica formada pelo conjunto de afluentes deste rio maior (Rio Tanguro) constitui uma metacomunidade. Os riachos de cabeceira são manchas de habitat cujas características dependem do tipo de uso da microbacia e afetam potencialmente o desempenho das espécies. A dispersão entre manchas é possível por meio do deslocamento de indivíduos através do rio maior, porém esta dispersão deve ser modesta, uma vez que este rio maior apresenta condições bióticas (intensa predação) e abióticas (estrutura física do rio, fluxo e qualidade da água) desfavoráveis a performance dos indivíduos e persistência das populações. Além disso, barragens devem constituir uma limitação ou impedimento à dispersão para algumas espécies de peixes. Embora meu projeto foque apenas nas comunidades de peixes, tenho consciência de que comunidades de riachos vão além de peixes, assim como metacomunidades também vão. Para alguns organismos, como insetos com larvas aquáticas, o processo de dispersão pode e deve ser completamente diferente. Enquanto as larvas são incapazes de vencer a correnteza e são continuamente transportadas rio abaixo, os adultos voadores retornam para as cabeceiras para depositar seus ovos e recomeçar o ciclo. Neste caso, é possível que as mudanças no uso da terra afetem a dispersão dos adultos se, por exemplo, eles dependerem da estrutura da vegetação para o deslocamento. | ||
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+ | Conceitos envolvidos na teoria de metacomunidades nortearão as seguintes hipóteses de meu projeto se as respectivas premissas forem verdadeiras: | ||
+ | 1)Se processos locais atuam de forma similar dentro da escala regional da minha área de estudo, então riachos cujas bacias possuam o mesmo tipo de uso da terra apresentarão comunidades com composição e estrutura semelhantes. | ||
+ | 2)Se riachos degradados são mais sujeitos a eventos estocásticos de enxurrada e/ou contaminação aguda (elevadas concentrações de pesticidas em um curto intervalo de tempo) que removem grande quantidade de indivíduos das comunidades, | ||
+ | 3)Se a comunidade que eu observar nos riachos degradados for aquela que precede futuras extinções de espécies que estão em declínio populacional devido a interações negativas com as condições ambientais decorrentes das mudanças no uso da microbacia, então a diversidade dos riachos degradados esta sendo mantida pela ocorrência de espécies com populações-poço sustentadas por imigração de populações-fonte que habitam riachos preservados. | ||
+ | 4)Se a construção de barragens limita ou impede a dispersão de determinadas espécies de peixes, então riachos com barragens apresentarão comunidades distintas daqueles que não possuem barragens. | ||
+ | 5)Se a capacidade e a probabilidade de dispersão das espécies afeta sua ocorrência nas manchas de habitat, então as espécies que possuem maior probabilidade (populações maiores) e/ou capacidade de dispersão (tamanho corporal relativamente maior, nadadoras pelágicas ativas, predadoras) estarão presentes em mais manchas de habitat que espécies que possuem menor probabilidade (populações maiores) e/ou capacidade de dispersão reduzida (tamanho corporal relativamente menor, espécies bentônicas que se alimentam de sedimento e/ou perifíton). | ||
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+ | ==Referências bibliográficas== | ||
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+ | Callisto, M.; Gonçalves, J.F. & Moreno, P. 2005. Invertebrados aquáticos como bioindicadores p. 555-567. In: M. Goulart (ed.). Navegando o Rio das Velhas das minas aos gerais. Belo Horizonte, UFMG. | ||
+ | |||
+ | Goulart, M. & Callisto, M. 2003. Bioindicadores de qualidade de água como ferramenta em estudos de impacto ambiental. Revista da FAPAM 2(1): 9p. | ||
+ | |||
+ | Holyoak, M.; Leibold, M.A. & Holt, R.D. 2005. Metacommunities: | ||
+ | |||
+ | Hubbell, S.P. 2001. The Unified Neutral Theory of Biodiversity and Biogeography, | ||
+ | |||
+ | Leibold, M.A.; Holyoak, M.; Mouquet, N.; Amarasekare, | ||
+ | |||
+ | Leibold, M.A. 2009. Spatial and Metacommunity Dynamics in Biodiversity. In: The Princeton guide to ecology (Simon A. Levin, ed.). Princeton University Press, Princeton, New Jersey. | ||
+ | |||
+ | Logue, J.B.; Mouquet, N.; Peter, H.; Hillebrand, H.; Declerck, P.; Flohre, A.; Gantner, S.; Gulzow, N.G.; Hortnagl, P.; Meier, S. & Pecceu, B. 2009. Empirical approaches to metacommunities: | ||
+ | |||
+ | Mouquet, N. et al. (2005) The world is patchy and heterogenous! Tradeoff and source-sink dynamics in competitive metacommunities. In Metacommunities – Spatial Dynamics and Ecological Communities (Holyoak, M. et al., eds), pp. 233–236, University of Chicago Press. | ||
+ | |||
+ | Wilson, D.S. 1992. Complex interactions in metacommunities, | ||
+ | |||
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+ | ==== Resiliência e diversidade de espécies ==== | ||
+ | === Erika Marques de Santana === | ||
+ | Comunidades ou ecossistemas podem ser considerados sistemas dinâmicos, já que são o resultado do balanço de diversos processos internos e externos (Scheffer, 2009a). Resiliência é uma característica de sistemas dinâmicos relacionada ao comportamento desses sistemas mediante a pressões externas. Na literatura, são encontradas diferentes definições de resiliência (Holling 1996; Peterson et al., 1998; Scheffer, 2009b). No presente ensaio, considerarei como resiliência a habilidade que um sistema possui em absorver mudanças ocorridas nas condições do ambiente, sem sofrer alterações significativas na sua estrutura e função (Holling, 1973). Nessa definição, | ||
+ | |||
+ | A resiliência de um sistema varia, podendo diminuir de acordo com flutuações na dinâmica interna ou externa ao sistema (Holling, 1973; Scheffer, 2009a). Tais mudanças na dimensão da resiliência de um sistema podem ocorrer de forma suave e imperceptível, | ||
+ | |||
+ | As características das espécies dentro do sistema podem ter grande importância na determinação na capacidade de persistência do sistema (Elmqvist et al., 2003; Folke et al., 2004). Sistemas com um maior número de espécies pertencentes a um mesmo grupo funcional podem possuir maior resiliência (Peterson, 1998; Elmqvist et al., 2003). Grupos funcionais de espécies se referem a conjuntos de diferentes espécies que apresentam funções semelhantes no sistema, como fixadores de nitrogênio, | ||
+ | |||
+ | Até o momento, procurei expor o meu entendimento da importância da diversidade de espécies e suas interações para a resiliência de um sistema. Atualmente, constantes e vastas alterações causadas pelo homem aos sistemas naturais têm apresentado graves conseqüências aos sistemas naturais, como extinções de grupos de espécies (e. g. Pardini et al., 2010) e perda de diversidade funcional e serviços do ecossistema (e. g. Brandt et al., 2010). Os processos envolvidos e os mecanismos relacionados a tais alterações sempre despertaram meu interesse acadêmico e permeiam a maior parte dos meus questionamentos científicos. Dessa forma, o estudo da resiliência dos sistemas naturais me parece de suma importância tanto no que diz respeito as espécies que dele fazem parte quanto as funções por elas exercidas. | ||
+ | |||
+ | No meu atual projeto de mestrado eu estudarei os efeitos da poluição gerada por indústrias sobre uma floresta ombrófila. Devido à poluição, já foram observadas graves alterações na estrutura do sistema, como morte na vegetação, | ||
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+ | == Referências bibliográficas == | ||
+ | |||
+ | Alonso, C. D.; Godinho, R. A evolução da qualidade do ar em Cubatão. Química Nova. 1992, vol. 15, n. 2. | ||
+ | |||
+ | Blindow, I.; Andersson, G.; A. Hargeby & S. Johansson. 1993. Long-term pattern of alternative stable states in two shallow eutrophic lakes. Freshwater Biology, 30: | ||
+ | |||
+ | Brandt K. K., Frandsen R. J. N., Holmb P. E., Nybroe O. 2010 .Development of pollution-induced community tolerance is linked to structural and functional resilience of a soil bacterial community following a five-year field exposure to copper. Soil Biology & Biochemistry 42: 748-757. | ||
+ | |||
+ | Elmqvist T., Folke C., Nyströn M., Peterson G., Bengtsson J., Walker B., Norberg J. 2003. Response diversity, ecosystem change, and resilience. Frontiers in Ecology and Environment1: | ||
+ | |||
+ | Ferreira, L. G. A gestão ambiental do pólo industrial de Cubatão a partir do Programa de Controle da Poluição iniciado em 1983: atores, instrumentos e indicadores. (Dissertação de Mestrado). São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2007. | ||
+ | |||
+ | Folke C., Carpenter S., Walker B., Scheffer M., Elmqvist T., Gunderson L., Holling C.S. 2004. Regime shifts, resilience, and biodiversity in ecosystem management. Annual Review of Ecology and Systematics 35: 557–81. | ||
+ | |||
+ | Gutberlet, J. Cubatão: Desenvolvimento, | ||
+ | |||
+ | Holling C.S. 1973. Resilience and stability of ecological systems. Annu. Rev. Ecol. Syst. 4: 1-23. | ||
+ | |||
+ | Holling CS. 1996. Engineering resilience versus ecological resilience. In: Schulze PC (Ed). Engineering within ecological constraints. Washington DC: National Academy Press. | ||
+ | |||
+ | Leibold. M.A. 2009. Spatial and Metacommunity Dynamics in Biodiversity. In: The Princeton Guide to Ecology, Cap. III.8. (Simon A. Levin. ed.) Princeton University Press, Princeton, New Jersey. | ||
+ | |||
+ | Leitão Filho, H.F (org.). Ecologia da Mata Atlântica em Cubatão. Campinas: Universidade Estadual de São Paulo e Universidade de Campinas, 1993, | ||
+ | |||
+ | Pardini, R., Bueno, A. A., Gardner, T. A., Prado, P. I., Metzger, J. P. 2010. Beyond the fragmentation threshold hypothesis: Regime shifts in biodiversity across fragmentes landscapes. Plos One. Vol. 5:10. | ||
+ | |||
+ | Peterson, G., Allen C. R., Holling C. S. 1998. Ecological Resilience, | ||
+ | |||
+ | Scheffer, M. et al. 2001. Catastrophic shifts in ecosystems. Nature 413: 591-596. | ||
+ | |||
+ | Scheffer, M. 2009a. Alternative Stable States. In: Critical Transitions in Nature and Society, Chapter II, pp. 11-36, Princenton University Press. | ||
+ | |||
+ | Scheffer, M. 2009b. Conclusion: From Theoretical Concepts to Reality. In: Critical Transitions in Nature and Society, Chapter VI, pp. 11-36, Princenton University Press. | ||
+ | |||
+ | Venail, P.A. et al. 2008. Diversity and productivity peak at intermediate dispersal rate in evolving metacommunities. Nature 452: 210–215 | ||
+ | |||
+ | Warren, P.H. 1996. The effects of between-habitat dispersal rate on protist communities and metacommunities in microcosms at two spatial scales. Oecologia 105: 132–140. | ||