Prefácio
O Cerrado Paulista foi tão destruído que estava desaparecendo inclusive dos trabalhos científicos. Isso começou a mudar recentemente, quando uma série de pesquisadoras e pesquisadores dedicados passou a nos revelar a surpreendente riqueza de espécies que persistia nos poucos, pequenos e ameaçados remanescentes de Cerrado do estado de São Paulo. Novas espécies foram descritas, dados sobre ecologia e comportamento se acumularam e foram evidenciados tanto a importância regional e global da preservação desses fragmentos, quanto os significativos desafios para atingir este objetivo.
As aves, além de constituírem um grupo localmente diverso e composto por várias espécies ameaçadas, apresentam grande carisma entre os humanos, podendo contribuir para valorizar o Cerrado e estimular sua preservação. Contudo, estas aves não se revelam ou demonstram seus comportamentos facilmente, é preciso perseverança e percorrer uma área extensa a cada dia, enfiar o pé em buracos de tatu, levar picada de mutuca e estorricar ao Sol, antes de voltar feliz da vida para casa. As recompensas podem ser o dueto do casal de bandoleta, o voo nupcial do galito, um bando misto com uma dúzia de espécies diferentes... as possibilidades parecem infinitas.
Com grata surpresa fomos convidados a prefaciar este livro, fruto de mais de vinte anos de pesquisa do Doutor Motta-Junior, seus alunos e colaboradores, sobre as aves do remanescente mais importante para a conservação do Cerrado Paulista, a Estação Ecológica de Itirapina. Este trabalho magnífico combina informação científica rigorosa, parte dela original e resultante de trabalho de campo, com belas imagens das aves, seus habitats e aspectos da sua ecologia e comportamento. O esmero em transmitir informações precisas sobre as características do Cerrado e de suas aves acompanha toda obra e fica mais claro, por exemplo, nas imagens que mostram um mesmo local se regenerando após a passagem do fogo ou uma lagoa temporária sendo preenchida pela água. Vale apreciar com calma os mosaicos de imagens de aves em voo, principalmente a do gavião-peneira. E o que dizer da buraqueira regurgitando uma pelota e dos flagrantes de predadores se alimentando? Certamente demandaram muita paciência e dedicação para serem obtidos. Outra característica bem vinda desta obra é indicar as espécies que ainda necessitam ter sua História Natural detalhada, o que pode funcionar como um convite para jovens ornitólogos se dedicarem ao Cerrado.
Por ser constituída por um ecossistema frágil, a Estação Ecológica de Itirapina não está acessível ao grande público. Esta obra oferece a oportunidade para que mais pessoas possam conhecer e valorizar sua biodiversidade, em especial suas aves, com a vantagem de não causarem impacto algum.
E é por tudo isso que parabenizamos e agradecemos aos autores por este presente!
Alexsander Zamorano Antunes
Pesquisador do Instituto Florestal do estado de São Paulo - SIMA
São Paulo, junho de 2020
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Boa Leitura.
José Carlos Motta-Junior
São Paulo, 07 de Outubro de 2020
Tamanho: 558mb
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