Eu não entendi muito bem a técnica de força bruta para a transformação da equação de crescimento discreto para crescimento continuo. De fato, compreendi o mecanismo de se procurar o limite em que o tempo entre gerações tenda a zero ou o número de gerações por unidade de tempo continuo tenda ao infinito ($\Delta t \to 0$ ou $n \to \infty$). Porém, não captei como esse limite foi calculado (no caso, para $n \to \infty$).
O exemplo apresentado no roteiro me pareceu mais uma dessas inspirações sobrenaturais. O que percebi é que se acha um número, portanto trata-se de uma solução numérica. Mas daí só com muita inspiração para inferir que o valor encontrado é $e^r$. Na verdade, para alguns casos particulares como quando o resultado é $e^r$ ou algo linear a inspiração não precisa ser muito grande. Mas para muitos outros casos, isso não é tão intuitivo. Se estou correto, isso torna essa técnica muito restrita ( mas, se possível, gostaria de saber mais detalhes de como se calcula analiticamente o limite acima ).
Lembrei-me de uma técnica que vi em alguns livros. Ela me parece mais lógica, mas não sei o quão geral ela é. Considerando o modelo de crescimento apresentado, trata-se de se fazer as seguintes operações:
$ N_{t+1}=\lambda N_t$
Subtraindo $N_t$ e dividindo por $\Delta t$ dos dois lados da equação teremos:
$ \frac{N_{t+1}-N_t}{\Delta t}=\frac{N_t\lambda-N_t}{\Delta t}=\frac{N_t(\lambda-1)}{\Delta t}$
Se considerarmos esta equação acima num limite em que $\Delta t \to 0$, o primeiro termo da equação será igual a $\frac{d}{dt}N_t$. Então:
$ \frac{d}{dt}N_t = (1-\lambda)Nt$. Uma vez que $1-\lambda =r$, essa equação diferencial será:
$ \frac{d}{dt}N_t = rNt$, cuja solução é:
$ N_t = ce^{rt}$. Sendo $c$ o intercepto da função, $c = N_0$. Assim,
$$N_t = N_0e^{rt}$$
Segundo, é que para $\lambda > 1$, quanto for o $\lambda$, mas rápido é o crescimento populacional com o tempo. Ao contrário, para $0<\lambda < 1$, quanto mais próximo de 0 for $\lambda$, mais rápido é o declínio do tamanho populacional com o tempo. Por fim, vale enfatizar que as população crescerão indefinidamente ($\lambda > 1$) ou se extinguirão ($0<\lambda < 1$) com o tempo.
Neste exercício, considerei a estimativa de $\lambda$ como sendo a média aritmética dos $\lambda$s calculados para o intervalo entre cada geração. Pode-se perceber que quanto maior for número de gerações usado para o cálculo da estimativa de $\lambda$, mais precisa será esta estimativa. Na realidade, as estimativas para número de gerações baixos (i.e. 2 ou 4) são muito pouco precisas se considerarmos uma análise para um intervalo de tempo total de 10 anos (fig.1). De fato, 8 gerações parece fornecer uma boa estimativa de $\lambda$, sendo que o uso de 10 gerações desviou um pouco mais, mas ainda permanece uma estimativa apropriada (fig.1).
Entretanto, se usássemos quaisquer destes valores para prever o tamanho populacional de pardais nos 36 anos amostrados, perceberíamos que nenhuma das estimativas é apropriada. Na realidade, este modelo de crescimento populacional exponencial se mostraria inadequado (e na verdade ele sempre será para populações em condições naturais), visto que a população de pardais não cresceu indefinidamente ao longo do tempo. Ela na realidade parece oscilar (fig.2).
$ N_t= N_0e^{rt}$
$ 2N_0=N_0e^{rt}$
$ 2 = e^{rt}$
$ln(2) = rt$
$$t_{duplic} =\frac{ln(2)}{r}$$
A função em R é:
t.duplic<-function(r) log(2)/r rs<-c(0.01,0.1,0.5,1) resp.ex3<-t.duplic(rs) resp.ex3
Gerando os seguintes resultados:
$t_{duplic}|r=0.01 = 69.31$
$t_{duplic}|r=0.1 = 6.93$
$t_{duplic}|r=0.5 = 1.39$
$t_{duplic}|r=1 = 0.69$
Para 10 realizações (pontos = média $Nt$, barras = +/- 1 desvio padrão)
Para 1000 realizações (pontos = média $Nt$, barras = +/- 1 desvio padrão)
Um outro padrão interessante é que a média (e consequentemente o desvio padrão) de $Nt$ será pior estimada quanto menor for o número de realizações (i.e. réplicas) de cada simulação. O que se espera é que a média do tamanho populacional num tempo qualquer seja igual à média esperada pelo modelo determinístico. Em outras palavras, como a média de $r$ é igual ao $r$ do modelo determinístico, depois de muitas simulações, a média de $r$ e portanto de $Nt$ serão iguais às do modelo determinístico. Se o número de realizações da simulação for pequeno, teremos um outro erro associado à estimativa dos parâmetros.