ECOLOGIA VEGETAL 2012
Módulo I
Tópicos
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Linha 4: | Linha 4: | ||
{{: | {{: | ||
- | "A relação espécies-área é uma das poucas **leis** genuínas em ecologia" | + | "A relação espécies-área é uma das poucas **leis** genuínas em ecologia" |
- | Como toda lei que se preze, a lei da relação espécies-área é descrita por uma equação matemática: | + | Que tal agora darmos um passeio pelo mundo " |
- | < | + | |
- | <m |> | + | |
- | + | ||
- | < | + | |
- | spp.area=function(c , z){ | + | |
- | curve(expr = c*x^z , from=1, to=100, ylim=c(1, | + | |
- | ylab=" | + | |
- | curve(expr = c*x^z , from=1, to=100, ylim=c(1, | + | |
- | ylab=" | + | |
- | } | + | |
- | + | ||
- | par(mfrow=c(2, | + | |
- | spp.area(c = 1.1 , z = 2) | + | |
- | + | ||
- | + | ||
- | </ | + | |
- | + | ||
- | Note que os dois eixos do gráfico da direita estão em escala logarítmica. Note também que a função lhe permite variar os dois parâmetros da equação: **c** e **z**. Altere os valores desses parâmetros e veja o que acontece. Você consegue pensar em um significado biológico para esses dois parâmetros? | + | |
- | + | ||
- | Que tal agora darmos um passeio pelo mundo " | + | |
< | < | ||
Linha 40: | Linha 20: | ||
calif | calif | ||
- | # Ajuste da reta | + | # Gráfico |
- | mod=lm(log10(riqueza)~log10(area), | + | plot(riqueza~area, |
- | mod | + | |
+ | </ | ||
+ | A lei da relação espécies-área é empírica, ou seja, foi descrita a partir de dados como os acima. A relação acima pode ser descrita por uma função de potência: | ||
+ | < | ||
+ | Veja o gráfico dessa função: | ||
+ | < | ||
+ | x11() | ||
+ | curve(expr = 2.39*x^.22 , from=0, to=25000, xlab=" | ||
+ | ylab=" | ||
+ | </ | ||
+ | |||
+ | Agora observe o que acontece quando transformamos as escalas do gráfico em logaritmos: | ||
+ | < | ||
# Gráfico | # Gráfico | ||
- | par(mfrow=c(1, | + | plot(riqueza~area, |
- | plot(riqueza~area, | + | |
| | ||
+ | |||
+ | |||
+ | # Ajuste da reta | ||
+ | mod=lm(log10(riqueza)~log10(area), | ||
+ | mod | ||
abline(mod, | abline(mod, | ||
</ | </ | ||
+ | |||
+ | Note que o que era uma função de potência, na escala logaritmica vira uma equação de reta: | ||
+ | <m |> | ||
+ | |||
Esses dados, | Esses dados, | ||
- | Aí vai um desafio para vocês fazerem em casa: será que é possível recriar esses dados com os modelos vistos no exercício? Então se liga nos modelos | + | Agora vamos brincar |
+ | |||
+ | < | ||
+ | spp.area=function(c , z){ | ||
+ | curve(expr = c*x^z , from=1, to=10^10, xlab=" | ||
+ | ylab=" | ||
+ | curve(expr = c*x^z , from=1, to=10^10, xlab=" | ||
+ | ylab=" | ||
+ | } | ||
+ | |||
+ | par(mfrow=c(2, | ||
+ | spp.area(c = 1.5 , z = .25) | ||
+ | spp.area(c = 2.1 , z = .25) | ||
+ | |||
+ | |||
+ | </ | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Note que os dois eixos do gráfico da direita estão em escala logarítmica. Note também | ||
+ | |||
===== Modelo de amostragem passiva ===== | ===== Modelo de amostragem passiva ===== | ||
{{: | {{: | ||
Linha 320: | Linha 340: | ||
===== O equilíbrio de MacArthur & Wilson ===== | ===== O equilíbrio de MacArthur & Wilson ===== | ||
{{: | {{: | ||
- | A idéia básica deste modelo é que o número de espécies de uma ilha é um balanço entre a // | + | A idéia básica deste modelo é que o número de espécies de uma ilha é um balanço entre a // |
- | <m>dS/dt=lambda-mu</m> | + | $$\frac{dS}{dt} \ = \ \lambda-\mu$$ |
O modelo assume que quanto mais espécies presentes na ilha, menor é a chegada de novas espécies do continente. Lembra de como vai ficando cada vez mais difícil encontrar figurinhas que não sejam repetidas? Pois é, o princípio é o mesmo. Neste modelo a função que descreve a taxa de imigração é: | O modelo assume que quanto mais espécies presentes na ilha, menor é a chegada de novas espécies do continente. Lembra de como vai ficando cada vez mais difícil encontrar figurinhas que não sejam repetidas? Pois é, o princípio é o mesmo. Neste modelo a função que descreve a taxa de imigração é: | ||
- | <m>lambda=I-(I/ | + | $$\lambda=I-(I/ |
onde **I** é a taxa de imigração máxima (quando a ilha está deserta) e **P** é o número de espécies no continente. | onde **I** é a taxa de imigração máxima (quando a ilha está deserta) e **P** é o número de espécies no continente. | ||
Faça o gráfico: | Faça o gráfico: | ||
Linha 341: | Linha 361: | ||
O modelo assume também uma taxa de extinção. Supondo que todas as espécies tenham uma mesma e constante taxa de extinção, esperamos que quanto maior o número de espécies presentes, maior o número de espécies que se extinguirá. É como na loteria: se cada bilhete tem uma certa probabilidade de estar premiado, quanto mais bilhetes você comprar, mais chances tem de ganhar. Vamos à equação da taxa de extinção: | O modelo assume também uma taxa de extinção. Supondo que todas as espécies tenham uma mesma e constante taxa de extinção, esperamos que quanto maior o número de espécies presentes, maior o número de espécies que se extinguirá. É como na loteria: se cada bilhete tem uma certa probabilidade de estar premiado, quanto mais bilhetes você comprar, mais chances tem de ganhar. Vamos à equação da taxa de extinção: | ||
- | <m>mu=(E/P)S</ | + | $$\mu=(E/P)S$$ ; |
onde **E** é a taxa máxima de extinção, que ocorre quando o número de espécies da ilha é igual ao do continente. Veja o gráfico: | onde **E** é a taxa máxima de extinção, que ocorre quando o número de espécies da ilha é igual ao do continente. Veja o gráfico: | ||
Linha 358: | Linha 378: | ||
Juntando tudo... | Juntando tudo... | ||
- | <m>dS/ | + | $${dS}/{dt}\ = \ I-(I/P)\ S-(E/P)\ S$$ |
...e batendo no liquidificador, | ...e batendo no liquidificador, | ||
- | <m>S=IP/(I+E)</ | + | $$S \ = \ \frac{ I P }{I+E}$$ |
+ | |||
+ | $$T \ = \ \frac{ I E }{I+E}$$ | ||
que são, respectivamente, | que são, respectivamente, | ||
Linha 392: | Linha 414: | ||
< | < | ||
- | # aumentando apenas | + | # aumentando apenas |
a=seq(from=.01, | a=seq(from=.01, | ||
for(i in 1:100){ | for(i in 1:100){ | ||
Linha 400: | Linha 422: | ||
</ | </ | ||
< | < | ||
- | # aumentando apenas | + | # aumentando apenas |
for(i in 1:100){ | for(i in 1:100){ | ||
grafeq(E=.5, | grafeq(E=.5, | ||
Linha 428: | Linha 450: | ||
} | } | ||
</ | </ | ||
+ | |||
==== Adicionando ilhas ==== | ==== Adicionando ilhas ==== | ||
Linha 523: | Linha 546: | ||
===== EXTRAS ===== | ===== EXTRAS ===== | ||
- | <box 60% red|Atenção!> | + | <box 60% red|Atenção!> |
==== Complicando... ==== | ==== Complicando... ==== | ||
Como diria o ditado, para quê simplificar se podemos complicar! Até agora consideramos o efeito da distância e do tamanho da ilha, só que a distância só tinha efeito sobre a taxa de imigração e o tamanho só tinha efeito na taxa de extinção. Mas será que distância não pode afetar também a taxa de extinção? E o tamanho da ilha não pode alterar a taxa de imigração? | Como diria o ditado, para quê simplificar se podemos complicar! Até agora consideramos o efeito da distância e do tamanho da ilha, só que a distância só tinha efeito sobre a taxa de imigração e o tamanho só tinha efeito na taxa de extinção. Mas será que distância não pode afetar também a taxa de extinção? E o tamanho da ilha não pode alterar a taxa de imigração? | ||
Linha 617: | Linha 641: | ||
Note que foi preciso acrescentar mais quatro parâmetros à nossa função: //e//, //f//, //g// e //h//, que correspondem às relações entre área e imigração e entre distância e extinção, respectivamente. Note também que foi preciso estabelecer uma ordem de importância entre os fatores distância e área. Por exemplo, sabendo que a imigração aumenta com a área da ilha, mas diminui com a distância desta ilha ao continente, a taxa de imigração em uma ilha pequena próxima do continente deve ser maior do que a taxa de imigração em uma ilha grande, porém distante do continente? Foi para responder a essa pergunta que criamos o argumento //peso.A// na função. //peso.A// se refere à importância da área em relação à distância. Portanto, se // | Note que foi preciso acrescentar mais quatro parâmetros à nossa função: //e//, //f//, //g// e //h//, que correspondem às relações entre área e imigração e entre distância e extinção, respectivamente. Note também que foi preciso estabelecer uma ordem de importância entre os fatores distância e área. Por exemplo, sabendo que a imigração aumenta com a área da ilha, mas diminui com a distância desta ilha ao continente, a taxa de imigração em uma ilha pequena próxima do continente deve ser maior do que a taxa de imigração em uma ilha grande, porém distante do continente? Foi para responder a essa pergunta que criamos o argumento //peso.A// na função. //peso.A// se refere à importância da área em relação à distância. Portanto, se // | ||
- | | + | |
+ | |||
+ | < | ||
+ | # Ilhas com diferentes áreas, mas com as mesmas distâncias | ||
+ | par(mfrow=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | |||
+ | # Ilhas com as mesmas áreas, mas com diferentes distâncias | ||
+ | MW.2.0(areas=rep(50, | ||
+ | |||
+ | # Ilhas com diferentes áreas e distâncias | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | </ | ||
+ | |||
+ | Vamos agora comparar esse novo modelo 2.0 ao original: | ||
+ | |||
+ | < | ||
+ | # Comparando... | ||
+ | MW(areas=c(1, | ||
+ | x11() | ||
+ | par(mfrow=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | |||
+ | MW(areas=rep(50, | ||
+ | x11() | ||
+ | par(mfrow=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=rep(50, | ||
+ | |||
+ | MW(areas=c(1, | ||
+ | x11() | ||
+ | par(mfrow=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | |||
+ | MW(areas=c(1, | ||
+ | x11() | ||
+ | par(mfrow=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | |||
+ | MW(areas=c(1, | ||
+ | x11() | ||
+ | par(mfrow=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | |||
+ | # Comparando II (alterando peso.A) | ||
+ | par(mfrow=c(2, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | MW.2.0(areas=c(1, | ||
+ | </ | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Entre um modelo e outro houve alteração do resultado? Essa mudança foi qualitativa ou quantitativa? | ||
===== A hipótese da diversidade de habitat ===== | ===== A hipótese da diversidade de habitat ===== | ||
Uma das primeiras explicações para a relação espécies-área foi a de que quanto maior uma ilha, mais tipos diferentes de habitats ela abrigava. Assim, quanto maior a ilha, maior a diversidade de habitats e, portanto, maior o número de espécies. Note que para isso ser verdade cada espécie só deve ser capaz de viver em determinado tipo de habitat. Acontece que isso raramente é encontrado na natureza e é por essas e outras que essa hipótese anda em baixa hoje em dia. Em todo caso vamos dar uma olhadinha nela. | Uma das primeiras explicações para a relação espécies-área foi a de que quanto maior uma ilha, mais tipos diferentes de habitats ela abrigava. Assim, quanto maior a ilha, maior a diversidade de habitats e, portanto, maior o número de espécies. Note que para isso ser verdade cada espécie só deve ser capaz de viver em determinado tipo de habitat. Acontece que isso raramente é encontrado na natureza e é por essas e outras que essa hipótese anda em baixa hoje em dia. Em todo caso vamos dar uma olhadinha nela. | ||
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==== Uma espécie, um habitat e vice-versa ==== | ==== Uma espécie, um habitat e vice-versa ==== | ||
Primeiro vamos modelar um sistema em que cada espécie só pode viver em um determinado tipo de habitat e cada habitat só pode abrigar um tipo de espécie. Antes de seguirmos em frente é preciso determinarmos qual a relação entre área da ilha e a quantidade de habitats ela tem: | Primeiro vamos modelar um sistema em que cada espécie só pode viver em um determinado tipo de habitat e cada habitat só pode abrigar um tipo de espécie. Antes de seguirmos em frente é preciso determinarmos qual a relação entre área da ilha e a quantidade de habitats ela tem: | ||
Linha 660: | Linha 735: | ||
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- | Habitats ao acaso | + | === Habitats ao acaso === |
+ | Imaginemos agora que os habitats ocorrem ao acaso nas ilhas. Então, quanto maior a ilha, maior a chance de haver maior quantidades de habitats diferentes (maior diversidade de habitats). | ||
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Linha 678: | Linha 754: | ||
abline(lm(log10(riq)~log10(area)), | abline(lm(log10(riq)~log10(area)), | ||
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===== Bibliografia | ===== Bibliografia | ||
* Gotelli, N.J. 2007 Ecologia. Cap. 7 - Biogeografia de ilhas. Pp. 159-181. Ed. Planta. | * Gotelli, N.J. 2007 Ecologia. Cap. 7 - Biogeografia de ilhas. Pp. 159-181. Ed. Planta. | ||
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===== Código ===== | ===== Código ===== | ||
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