Jogando Futebol na quadra de Basquete

Não se busca um jogador de futebol em uma quadra de basquete. Para ver um jogo é preciso ir ao campo certo. Existem controvérsias sobre quem atua no processo de degradação de folhas em riachos tropicais, enquanto sabe-se que em regiões temperadas o processo é realizado por insetos fragmentadores, sugere-se que em riachos tropicais a degradação de folhas seja exercida ou por fungos ou por macroconsumidores (peixes e camarões). Será que os macroconsumidores realmente substituem os insetos no processo de degradação de folhas em riachos tropicais? Ao longo de um contínuo fluvial (i.e. nascente à foz) a cadeia trófica de riachos maiores depende do processo de degradação de folhas que ocorre nas nascentes, de forma que alterações no processo de degradação rio acima podem afetar toda a estrutura trófica rio abaixo. Conhecer o funcionamento de processos ecológicos em ambientes naturais e os organismos que atuam no processo permite o uso e a aplicação deste conhecimento em futuras oportunidades de restauração de ecossistemas. Com um experimento no qual se exclua separadamente os macroconsumidores e os insetos é possível isolar os efeitos dos diferentes agentes de degradação de folhas e descobrir o principal atuante no processo de degradação em riachos tropicais.

Existem três alternativas sobre qual o principal grupo que realiza o processo de degradação de folhas em riachos: os fungos, os insetos ou os macroconsumidores. Os estudos que apontam os fungos como os principais decompositores de folhas em riachos tropicais são baseados apenas em teorias que consideram que o crescimento de fungos é maior em águas relativamente mais quentes. Já os estudos que apontam os macroconsumidores como os principais atuantes no processo de degradação se baseiam em dados coletados em experimentos realizados em riachos que não possuíam insetos fragmentadores, mas que possuíam camarões e peixes. A ausência dos insetos fragmentadores nestes estudos pode ser devida apenas ao tamanho dos riachos em que estes estudos foram realizados, geralmente riachos de tamanho médio. A teoria do rio contínuo sugere que os insetos fragmentadores ocorrem principalmente em riachos pequenos, como as nascentes. Outra possível fonte de erro nestes estudos é o fato de a maioria dos estudos serem realizados em partes dos riachos onde a velocidade da água é alta, enquanto os insetos fragmentadores em riachos tropicais ocorrem mais em remansos. Portanto, a afirmação sobre o baixo papel de insetos fragmentadores na degradação de folhas em riachos tropicais pode ser enganosa, já que os estudos foram realizados em locais inadequados à questão. A cadeia trófica ao longo do contínuo fluvial é estruturada pela forma com que os insetos aquáticos obtêm seus recursos alimentares e pelas características da paisagem, que alteram as fontes dos recursos alimentares. Por exemplo, os insetos que ocorrem em trechos intermediários do contínuo fluvial (i.e. riachos de tamanho médio) geralmente são organismos coletores e filtradores que se alimentam do material orgânico que foi particulado rio acima pelos organismos fragmentadores. O efeito das características da paisagem que afetam a origem dos recursos alimentares é baseado principalmente na estrutura da cobertura vegetal. Riachos menores são cobertos pelo dossel, evitando a entrada de luz e conseqüentemente o crescimento de algas, de forma que as folhas que caem do dossel são o principal recurso alimentar em riachos pequenos. Com o alargamento dos riachos a entrada de luz é maior, aumentando o crescimento de algas, que passam a ser uma parte importante dos recursos, enquanto as folhas são mais escassas devido à maior velocidade da água, que evita sua retenção. Nos rios grandes a turbulência da água aumenta a quantidade de sedimentos suspensos diminuindo a entrada de luz e o crescimento de algas, onde a principal fonte de recursos passa a ser oriunda dos processos que ocorrem rio acima. Dada a importância das dependências tróficas ao longo do contínuo fluvial e das controvérsias sobre os principais atuantes no processo de degradação de folhas, futuras decisões ações de restauração de ecossistemas podem ser tomadas erroneamente devido às controvérsias. Com um experimento de exclusão com três tratamentos, um que exclua macroconsumidores, outro que exclua insetos e macroconsumidores e um tratamento controle com livre acesso, podemos avaliar qual grupo de organismos possui maior efeito sobre o processo de degradação de folhas. Para excluir apenas macroconsumidores podemos usar uma gaiola com uma malha de tamanho que evite a entrada de peixes e camarões, mas permita o acesso aos insetos e fungos. Com uma malha mais fina é possível excluir insetos e macroconsumidores permitindo o acesso apenas aos fungos. O desenho experimental pode ser feito em blocos (um bloco por riacho) para remover o efeito da variação natural no processo de degradação entre riachos. O teste de quais organismos possuem maior efeito sobre o processo de degradação pode ser feito usando análise de variância com dois fatores, que são: o fator tratamento e o fator bloco. O fator “bloco” remove o efeito da variação entre riachos e o fator tratamento avalia a magnitude do efeito de cada um dos organismos. A magnitude do efeito de cada um dos organismos pode ser calculada através da partição de variâncias devido a cada tratamento. Ou seja, com o tratamento que exclui insetos e macroconsumidores podemos estimar o papel de fungos, com o tratamento que exclui macroconsumidores podemos estimar o papel de insetos e com o controle podemos estimar o papel dos macroconsumidores. Diversos autores possuem opiniões e dados que são divergentes sobre quais os principais organismos responsáveis pelo processo de degradação de folhas em riachos tropicais. Esta incerteza sobre a forma como processo de degradação ocorre pode acarretar em decisões errôneas em planos de manejo e conservação de ambientes lóticos. Contudo, esta questão pode ser facilmente respondida através de um experimento de exclusão, replicado em blocos instalados em diferentes riachos pequenos. O entendimento dos processos ecológicos que ocorrem em ambientes naturais (i.e. sem impactos antrópicos) pode ter uma aplicação prática no futuro. Atualmente, a restauração de ambientas ainda é uma atividade não muito possível e executável, porém esta oportunidade será real no futuro e somente poderemos restaurar fielmente os ambientes se tivermos um conhecimento sólido sobre os processos ecológicos que ocorrem na natureza.

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