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resenhas [2010/09/25 00:19] aluno
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 +=======Disciplina Ecologia de Comunidades – BIE 5778-3=================================================================
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 +=====================================Processos locais e regionais======================================================
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 +Cornell (1985). Local and Regional richness of Cynipine Gall wasps on California Oaks. Ecology. 66 (4): 1247-1260.
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 +Fernanda D. Abra, Herbert Serafim de Freitas e Vinicius S.  Antunes
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 +O presente artigo teve como foco investigar os principais processos que operam sobre a riqueza de espécies de herbívoros em diferentes escalas espaciais.  Até então, diversos outros estudos haviam focado sobre o número e tipos de herbívoros que ocorriam em uma espécie de planta hospedeira, ou seja tratam-se de estudos comparativos, que não buscam a compreensão de mecanismos que estejam envolvidos nos padrões encontrados. O autor se propõe a investigar qual a relação entre a riqueza local e regional de espécies de vespas Cinipine, que são galhadoras de espécies de carvalho (gênero Quercus). Parte da premissa de que se as espécies de hospedeiros (carvalhos) com maior riqueza regional tem maiores médias de riqueza local, então pode-se concluir que a riqueza local e regional sobre um hospedeiro estão ligadas. O estudo fora realizado na vertente do pacífico na Califórnia (EUA), onde existe uma flora de carvalhos endêmica, associada a uma diversa fauna Cinipine (vespas). A flora consiste de 15 espécies de carvalho de três subgêneros (tratados popularmente como: brancos, pretos e primitivos), e a fauna de vespas compreende mais de 150 espécies. Duas questões centrais são colocadas: (1) A extensão geográfica e o isolamento taxonômico dos carvalhos influenciam a riqueza regional de Cinipines nesta flora? (2) As riquezas local e regional dos Cinipines estão fortemente correlacionadas?  Para a seleção dos locais de estudo foram utilizados mapas com a distribuição geográfica das espécies de carvalhos, afim de melhor amostrar a extensão geográfica de ocorrência das espécies. Também existem extensos estudos sobre a fauna de vespas Cinipine que foram determinantes para a correta determinação das espécies em campo. Para a amostragem foram feitas buscas das espécies de galhas Cinipine que ocorriam nas diferentes espécies de carvalhos em diferentes escalas (um indivíduo de carvalho, população local do carvalho, ao longo da extensão geográfica do carvalho hospedeiro). Para garantir a adequada amostragem de vespas Cinipine nas diferentes escalas foram feitas observações até que o numero de novas espécies de Cinipine descobertas por unidade de esforço amostral fosse quase zero. Devido as dificuldades observacionais e fenológicas foram incluídas apenas as galhas “foliares” (ou seja, as observadas nos ramos, superfície das folhas e gemas). 
 +A análise de regressão revelou que a extensão geográfica de ocorrência da espécie de carvalho influencia na riqueza regional de Cinipine, tanto para galhas foliares, quanto não foliares, e também considerando a somatória dos dados. Dentre os subgêneros, os carvalhos brancos apresentaram maior riqueza de Cinipine, o que pode ser reflexo de ter havido maior tendência para radiação adaptativa neste grupo. Buscando compreender a relação entre riqueza local e regional, foram obtidos três padrões gerais a partir de modelos gráficos. Estes modelos foram testados por meio de uma ANOVA (análise de variância para testar a relação entre a riqueza local e regional). A partir desta análise verificou-se que o modelo I (enriquecimento do pool), que corresponde a uma clara influencia da riqueza regional sobre a riqueza local, foi o que melhor descreveu as relações entre riqueza local e regional da fauna Cinipine. Para confirmar esta conclusão foi estabelecida uma nova análise considerando as espécies raras e comuns de Cinipine por meio de uma ANOVA. Esta analise também corroborou o modelo I, que enfatiza o papel dominante do tamanho do pool regional de espécies em determinar os níveis de riqueza de espécies Cinipine nas populações de carvalhos. Por fim o autor conclui que há nichos disponíveis para Cinipines nos carvalhos, e que o limite para similaridade entre a fauna Cinipine que coexiste ainda não foi alcançado. Isto sugere que não é possível obter informações suficientes sobre as causas responsáveis pela riqueza local de Cinipine a partir do estudo de populações de carvalhos em isolado. O autor destaca ainda que a especialização de habitat em Cinipine e as interações locais não são preditas a partir da riqueza regional, mas que podem influenciar a riqueza local independentemente da riqueza regional.
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 +===Resenha crítica: On the relationship betwen regional and local species richness: a test of saturation theory. Starzomsky et al,. 2008===
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 +Fernanda D. Abra, Hebert Serafim e Vinicius Soares Antunes
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 +O artigo proposto foi o primeiro estudo em que se relacionou a influência da riqueza e composição regional sobre a riqueza e composição local a partir de manipulações experimentais. Todos os outros estudos relacionados ao mesmo tema eram unicamente observacionais. 
 +O método experimental baseou-se na montagem de comunidades de microartrópodes a partir da coleta de musgos ao longo de um gradiente latitudinal, diferindo na composição e riqueza regional, porém não em área. 
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 +Foram montados 12 combinações diferentes a partir das estações de coleta, sendo 7 réplicas para cada combinação em que, círculos com 35,5 cm de diâmetros contendo pedaços de diferentes locais e a partir de uma nona estação de coleta foi criado e colocado no centro do circulo um “tampão” de 10cm de diâmetro “defaunado” (método de filtragem para retirar todos os microartrópodos presentes nessa área). A área do círculo maior representou o “pool” riqueza regional que teoricamente influenciaria na riqueza local, representado pelo circulo central. Para examinar a comunidade presente nos círculos “defaunados”, a cada 0,5, 2, 3, 4, 8, 11 e 16 meses foram retirados para amostragem dos microartrópodos e consequentemente fixação e identificação das morfoespécies a fim de mensurar a riqueza e composição local. As ferramentas estatísticas utilizadas no experimento foram: ANOVA (análise de variância para testar os efeitos totais do tempo na riqueza local e regional), Análise de regressão linear (avaliar a relação entre o numero de locais representados na região e a riqueza de espécies regional inicial), ANOSIM (para testar os efeitos da composição de espécies local por análise de similaridade) e finalmente usados em conjunto ANOSIM e NMDS – escala multidimensional não métrica (para testar as diferenças no “pool” de espécies de microartrópodes em diferentes locais).
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 +Os resultados apontaram que não houve diferença significativa entre riqueza local e regional nos diferentes tratamentos em qualquer tempo do experimento, já a composição local foi afetada pela riqueza e composição regional e tempo. O que se previa é que a riqueza local era dependente da riqueza regional em pelo menos algum ponto do experimento, mas isso não foi observado uma vez que o fator sazonalidade foi determinante em influenciar a riqueza e composição da comunidade local. Na estação úmida, a oferta de recursos é maior, possibilitando o aparecimento de um maior número de espécies na comunidade local, independente das interações interespecíficas, como competição, que “saturavam” o ambiente, porém na estação seca os recursos eram escassos, diminuindo conseqüentemente o numero de espécie. Por fim, os resultados mostraram que efeitos da composição regional estruturam a composição e riqueza de espécies local, mas também demonstrou que esses efeitos são muito dependentes da sazonalidade.
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 +==== Ecologia de Comunidades - Questões Gerais ====
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 +=== Roughgarden, J. 2009. - Is there a general theory of community ecology? ===
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 +Daniela Zanelato e Mathias M. Pires
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 +O artigo se propõe inicialmente a uma retrospectiva histórica sobre a busca por uma teoria geral em ecologia de comunidades. Um primeiro esforço nesse sentido foi a definição da teoria de nicho e sua exploração sob um quadro de referência matemático. Contudo, o conjunto de evidências empíricas obtidas com o objetivo de testar hipóteses relacionadas à teoria de nicho era ambíguo, ora correspondendo e ora contradizendo as expectativas relacionadas a essas hipóteses. Mais tarde, a noção de que uma teoria geral deveria incorporar predições que levassem em consideração tanto o componente abiótico quanto o biótico também apontava a impossibilidade da definição de uma teoria geral, dada a necessidade de lidar com as idiossincrasias de ambos os componentes. Em decorrência dessas limitações o foco em ecologia de comunidades foi mudado para a representação da estrutura de sistemas particulares, em contraste com a busca por generalidade. A partir dessa contextualização o objetivo artigo é discutir se ainda é possível que tal teoria geral de ecologia de comunidades exista.
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 +De modo geral, o autor sugere que as teorias em ecologia de comunidades têm sido construídas com enfoque primeiramente na estrutura das comunidades e apenas secundariamente nos processos de construção das comunidades. Propõe então que a ecologia de comunidades tenha um enfoque formacional mais do que estrutural e sugere um paralelo com a teoria da evolução.  De acordo com essa analogia, os processos de dispersão e transporte físico que levam as espécies até as comunidades são comparados aos processos de mutação, ou seja, introduzem variação ao sistema. As interações biológicas, que estão sujeitas a modulação pelas condições locais, determinam quais espécies se estabelecem com sucesso na comunidade sendo, portanto, análogas ao processo de seleção natural. A estrutura de uma comunidade e conseqüentemente sua dinâmica são, portanto, um produto da chegada das espécies aos limites físicos da comunidade e a sua permanência ou não, mediada pelas interações ecológicas. Assim cria-se uma lógica subjacente ao processo de formação de qualquer comunidade independente de suas particularidades.
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 +A idéia do artigo como um todo é bastante sedutora, uma vez que traça um paralelo simples e coerente com uma teoria já bem estabelecida. Apresenta uma idéia inovadora, baseada na análise crítica de teorias que foram desenvolvidas ao longo de décadas, para a partir delas lançar um novo ponto de vista. São também ressaltados os pontos favoráveis e desfavoráveis relacionados a definição dessa teoria geral. Dentre as principais vantagens podemos destacar o estabelecimento de um formato comum capaz de guiar a elaboração de modelos e teorias derivadas. A principal desvantagem por sua vez é exatamente a limitação de novas teorias e modelos a esse formato o que condiciona as possibilidades. Por fim, apesar de cumprir a necessidade da definição de uma teoria geral, a própria proposição é desafiada levando-se em conta o balanço entre os custos e benefícios da definição de uma teoria geral.
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 +=== Werner, E.E. 2009. Ecological experiments and a research program in community ecology ===
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 +Primeiramente o artigo fala sobre duas abordagens científicas que têm sido utilizadas de forma relativamente isoladas, a observacional e a experimental, e discute os problemas que esse uso de forma desconexa gera. A abordagem observacional é baseada na descrição de padrões na natureza e na comparação dos resultados obtidos com aqueles previstos por modelos teóricos. A principal crítica a esta abordagem está relacionada ao fato de que um mesmo padrão pode muitas vezes ser gerado por diversos processos distintos, de modo que a discriminação entre os processos é difícil. Já a abordagem experimental baseia-se na manipulação de sistemas naturais com o intuito de identificar os fatores mais relevantes na estruturação de sistemas ecológicos. Esta abordagem por sua vez sofre a limitação de ser ineficaz por si só na identificação de efeitos indiretos do fator estudado, ou ainda seus efeitos em diferentes escalas de tempo e espaço. Dentro deste contexto, o autor explora mais especificamente o papel da abordagem experimental em estudos de ecologia de comunidades e sua relação com as abordagens descritiva e teórica. Destaca ao longo de todo o texto as vantagens e limitações de cada uma destas abordagens e tem por objetivo demonstrar como devem ser utilizadas em conjunto de modo a gerar conhecimento em um programa de pesquisa efetivo. Além disso, discute as implicações de integrar estas três abordagens em uma abordagem reducionista, que é baseada na busca por mecanismos capazes de explicar os padrões observados. 
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 +O autor constrói um triângulo conceitual unindo as três abordagens e mostra como elas se retroalimentam. A idéia geral é que os padrões encontrados na natureza permitem a construção de teorias sobre os processos que geram tais padrões. A partir desta teoria é possível extrair previsões claras, que são então testadas de modo experimental. A partir dos resultados obtidos experimentalmente é possível corrigir os pontos da teoria onde há inconsistências com os padrões empíricos. Em seguida, é possível retornar para as observações de campo com previsões bem claras extraídas a partir da teoria e mais uma vez verificar sua consistência. O autor enfatiza que este ciclo é uma abordagem mecanicista, pois busca explicações para padrões observados ao nível de comunidades em níveis inferiores de organização, como indivíduos e populações. Enfatiza também que é preciso atenção para não trabalhar dentro de um contexto de reducionismo ingênuo, que ignora o fato de níveis inferiores de organização serem também influenciados por efeitos vindos de níveis superiores de organização.
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 +De modo geral, a construção do triângulo conceitual observação-teoria-experimento desenvolvido ao longo do texto é bem fundamentado por diversos exemplos de suas aplicações na pesquisa do próprio autor e de outros pesquisadores, em especial utilizando anfíbios e peixes como modelo de estudo. Além disso, embasa sua discussão sobre a integração de diferentes abordagens científicas na construção de conhecimento em textos de outros autores que também discutem estas questões, como P. Kareiva e E. Mayer. 
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 +==== Competição ====
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 +=== Kaplan, I. & Denno, F.R. 2007. Interspecific interactions in phytophagous insects revisited: a quantitative assessment of competition theory. Ecology Letters 10: 977-994. ===
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 +Camilla P. Pagotto e Leandro Kodama Kasamatsu
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 +O artigo é uma compilação de trabalhos sobre competição entre insetos herbívoros onde os autores buscam testar as idéias que dão base à teoria tradicional da competição. Os autores buscam reavaliar as evidências da competição inter-específica em insetos herbívoros. Para isso foram avaliados os seguintes fatores:  (1) efeito do dano da herbivoria, (2) magnitude da competição intra VS. Inter – específica, (3) impacto da semelhança filogenética, (4) magnitude da interação entre e dentro de guildas (alimentares), (5) conseqüência da partição de recursos em escala espacial e temporal e (6) simetria da interações entre espécies competidoras.
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 +Os resultados evidenciam que houve interação inter-específica em 73% de todas as interações, sendo que a maioria delas mostraram existência de competição. O efeito do dano da herbivoria não teve impacto na competição heteroespecífica sugerindo que o dano foliar não afetou a competição inter-específica.  Em relação à competição inter e intra-específica, elas afetaram de maneira diferente os insetos herbívoros, apesar disso a magnitude da competição inter-específica e da magnitude intra-específica não foi diferente significativamente. A similaridae filogenética não explica a interação entre insetos mastigadores, diferentemente do que foi observado para insetos sugadores. Na avaliação entre e dentro de guildas, de modo geral, não houve diferença em relação à interação. O fator da ocorrência espaço-temporal dos organismos teve resultados controversos de acordo com a teoria da competição já que não houve padrão definido fatores observados. Enquanto algumas variáveis se mostravam de acordo com a teoria, outras seguiram um padrão inverso. No que diz respeito à simetria, grande parte das variáveis mostrou assimetria.
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 +De acordo com os resultados obtidos o autor conseguiu demonstrar que as idéias da teoria de competição tradicional não foram corroboradas pelo seu trabalho. Apesar do apoio empírico para a competição não foi evidenciado correspondência com os paradigmas tradicionais o que sugere pouca concordância entre teoria e o que foi demonstrado pelo trabalho. A idéia proposta pelos autores é válida no que diz respeito a colocar a prova uma teoria a tempos sedimentada, uma vez que o conhecimento científico avança, os paradigmas podem ser reavaliados.
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 +=== Brown, J. H. & Davidson, D.W. 1977. Competition between seed-eating rodents and ants in desert ecosystem. Science, New Series 196(4292): 880-882 ===
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 +O artigo propõe avaliar a competição entre espécies diferentes, porém com mesma dieta. O estudo foi realizado com roedores e formigas granívoras de ambiente desértico. Foram feitos experimentos de exclusão, onde em diferentes tratamentos foram excluídos somente um táxon, em outros, ambos foram excluídos e em outros tratamentos foram mantidos tanto roedor quanto formiga. O estudo tem como objetivo avaliar quanto os organismos são afetados em relação à aquisição de recurso.
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 +Em relação aos controles, na exclusão de roedores houve um aumento de 71% na número de colônias de formigas enquanto na exclusão de formigas, houve aumento de 18% no número de indivíduos e 24% em aumento de biomassa de roedores. Tais resultados são forte evidência para existência da competição. Estudos preliminares mostram que na exclusão de ambas as espécies o número de sementes e plantas é consideravelmente maior. Foi observado também que fatores ambientais influenciam no número de espécies de roedores e formigas, o que pode indicar que quando um fator preponderante afeta uma espécie a outra consegue atingir maior densidade, biomassa e diversidade.
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 +Os resultados obtidos mostram que há um padrão claro de competição já que foi possível perceber no trabalho que a exclusão de uma espécie afeta positivamente a outra já que com a exclusão de uma espécie, ocorre aumento de recurso disponível para a outra. É possível observar que esse artigo corrobora a teoria de competição tradicional, o que não invalida o que foi evidenciado no trabalho de Kaplan & Denno (2007).
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 +====  Interações Positivas ====
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 +=== Bascompte, J., Jodano,P. Olesen, J.M. Asymmetric Coevolutionary Networks Facilitate Biodiversity Maintenance. Science 312, 431 (2006). ===
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 +Daniela Zanelato e vanda Ferreira
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 +Os autores argumentam que os estudos em coevolução focavam até então em pares ou pequenos grupos de espécies e em interações qualitativas, nas quais era considerada apenas a existência ou não das ligações entre as espécies.  Tais abordagens, segundo eles, limitam o entendimento mais profundo de teias mutualisticas mais amplas e como a organização em tais teias afeta a coexistência das espécies. Dessa forma, o artigo tem por objetivo abordar como as interações entre as espécies moldam a estrutura de teias mutualísticas de forma quantitativa, e utiliza dados sobre interações planta-polinizador e planta-dispersor. Utilizam um modelo mutualístico simples que leva em conta as dependências mútuas entre as espécies para investigar a coexistência de espécies mutualistas em diferentes comunidades. O modelo utiliza dois valores de dependências mútua para cada par de interação, sendo um da planta em relação ao animal e o outro do animal em relação à planta. Segundo este modelo, conforme o tamanho da comunidade aumenta, o produto das dependências mútuas deve diminuir para que as espécies possam coexistir, o que pode ser conseguido de duas formas: se ambas as dependências são fracas ou se uma dependência forte é acompanhada de uma dependência fraca.  
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 +Primeiramente analisam as espécies par a par em várias comunidades e encontram evidências que apóiam o primeiro cenário previsto pelo modelo (ambas dependências fracas), uma vez que ocorreu predomínio de dependências fracas na maioria das comunidades observadas. Ou seja, os valores de dependência pequenos são mais prováveis de ocorrer tanto no sentido planta-animal como animal-planta.  Evidências que apóiam o segundo cenário (uma dependência forte acompanhada de uma fraca) também foram encontradas, já que na maior parte das comunidades as interações são assimétricas. Justifica o fato de valores baixos de assimetria serem pouco comuns no conjunto de dados observados, uma vez que duas interações fortes em um par de espécies tenderiam a ser evitadas, ou seja, pouco vantajosas evolutivamente.  Para abordar as implicações dos padrões de dependência e assimetria ao nível de comunidade utilizam os conceitos de força das espécies (“species strength”), que se baseia na importância de cada espécie em relação ao conjunto das demais espécies, e de nível da espécie (“species degree”), que é o número de interações por espécie. Encontra uma relação positiva entre essas duas variáveis, sendo que a força das espécies tende a aumentar de maneira mais rápida que o nível das espécies. Isso ocorre porque espécies com muitas conexões tendem a ser ligadas a espécies especialistas, que dependem fortemente da espécie generalista a qual estão ligadas. De maneira geral, os resultados indicam que a arquitetura das teias mutualistas é caracterizada por baixas dependências, alta assimetria e heterogeneidade da força das espécies (as espécies diferem quanto a sua importância na comunidade), característica que promovem a coexistência das espécies nas comunidades. Ressaltam ainda que as teias mutualísticas são produtos de mecanismos coevolutivos, que resultam de associações morfológicas íntimas entre pares de espécies (complementariedade) e conjuntos de espécies (convergência).
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 +Os resultados são embasados em dados provenientes de dois tipos de interações mutualísticas (polinização e dispersão de sementes de várias regiões do planeta, que variam desde ecossistemas do ártico a tropicais. A partir desse conjunto de dados de ampla distribuição percebem padrões que se repetem em todas as variáveis abordadas, o que fortalece suas conclusões, já que se aplicam a interações que ocorrem em condições completamente distintas. Além disso, utiliza um modelo relativamente simples para explicar a arquitetura de teias mutualísticas, e verifica que as predições geradas por esse modelo são de fato verificadas no conjunto de dados gerados. De modo geral, o destaque do artigo está em sua abordagem quantitativa de interações em teias mutualísticas e na apresentação do papel da assimetria nestas interações. 
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 +=== Waser, N.M. Competition for hummingbird pollination and sequential flowering in two Colorado wildflowers'  Ecology, 59(5), 1978, pp. 934-944 . ===
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 +Primeiramente o autor argumenta que o padrão de floração das espécies deve ser moldado evolutivamente através de interações com os agentes polinizadores, assim como se sabe que ocorre em relação às características morfológicas das flores e à presença de recompensa para os polinizadores.  Em seguida, argumenta porque a atração  diferencial de polinizadores como mecanismo de competição  não explica a separação  temporal da floração  das espécies.  Segundo ele uma espécie com maior capacidade de atração dos polinizadores levaria a espécie menos atraente à extinção, ou teria seu período de floração sobreposto ao desta. Isso deve ocorrer uma vez que a espécie mais atraente não teria nenhum prejuízo com a presença da menos atrativa e, portanto não haveria pressão seletiva para separação temporal da floração.  Propõe então um segundo mecanismo para explicar essa separação  temporal de diferentes espécies, tambem baseada na competição por um polinizador em comum, porém cujo mecanismo de ação  é o prejuízo reprodutivo gerado pela tranferência interespecífica  de pólen.  Essa tranferencia resulta em desperdicio do pólen que cai sobre a outra espécie, de modo que a visita do polinizador foi em vão e não resultará na produção de sementes. Para verificar se de fato este é o mecanismo que ocorre, integra estudos observacionais com experimentos realizados em campo e laboratorio, utilizando como modelo de estudo duas espécies perenes que coexistem em campo e cujos padrões de floração são seqüenciais, com curto período de sobreposição.  
 +
 +Sua hipótese, portanto, é que a competição por polinizadores é a força seletiva que promove a floração seqüencial de espécies coexistentes. Dessa forma, indivíduos de cada espécie que florescem em períodos em que não ocorre a sobreposição da floração são privilegiados, produzindo maior número de sementes. Para averiguar essa hipótese, levanta três questões, sendo a primeira se de fato ambas as espécies compartilham um polinizador. A segunda questão é se o forrageamento desse polinizador causa transferência interespecífica de pólen entre as duas espécies visitadas. E por fim, a terceira questão é se essa transferência está relacionada à diminuição da produção de sementes em ambas as espécies.  Para responder essas questões realiza um experimento em campo de exclusão dos polinizadores e um outro experimento também em campo, no qual cultiva as espécies em populações monoespecíficas e mistas. Além disso, observa o pólen aderido ao corpo dos polinizadores, bem como o pólen presente no estigma das duas espécies.  Por fim, realiza um experimento de polinização artificial, no qual há polinização entre cada uma das espécies isoladamente e de forma mista. Verifica que as espécies de beija-flores são os principais polinizadores compartilhados pelas duas espécies de plantas, e que de fato transportam pólen das duas espécies durante o período de sobreposição  da floração . Além disso, no experimento de exclusão de polinizadores observou que a produção de sementes foi drasticamente reduzida nos tratamentos que impediam acesso dos beija-flores em relação ao tratamento que permitia o acesso de todos os polinizadores.  Por fim, observou redução na quantidade de sementes produzidas em ambas as espécies, durante o periodo de sobreposição da floração nas observações em campo, bem como no experimento em campo nos cultivos mistos e no experimento de polinização artificial nos tratamento de polinização interespecífica. 
 +
 +Juntando os resultados de todas as observações e experimentos o autor conclui haver fortes evidências que as duas espécies competem pelo polinizador e que o mecanismo envolvido é a transferência interespecífica de pólen. Dessa forma, a separação temporal do período de floração seria uma estratégia desenvolvida de modo a evitar a competição pelo polinizador.  Argumenta que a separação em outras dimensões do nicho também pode ocorrer como estratégia para evitar competição, por exemplo, a ocupação de diferentes hábitats ou a diferenciação de características morfológicas das flores. De modo geral, suas conclusões são bem fundamentadas, pois não só explicam um padrão observado na natureza, como também propõe e testa de modo elegante o mecanismos responsável pelo padrão observado. Suas conclusões são coerentes com os resultados conseguidos através de diversas abordagens, pois cerca muito bem as questões levantadas, observando não só a produção de sementes, como também o transporte de pólen no corpo dos polinizadores e nos estigmas das flores. 
 +
 +====Efeitos Indiretos Mediados em Teias Tróficas====
 +
 +CAMILLA P. PAGOTTO E DIOGO B. PROVETE
 +
 + === Peacor, S.D. & Werner, E.E. 2001. The contribution of trait-mediates indirect effects to the net effects of a predator. PNAS 98(7): 3904-3908. ===
 +
 +
 +O artigo traz uma contribuição na área de efeitos indiretos mediados por atributos
 +(trait-mediated indirect impacts, TMII) em um sistema envolvendo uma teia trófica
 +simplificada com um recurso, 2 consumidores e um predador em ecossistemas
 +aquáticos. O principal problema abordado pelos autores foi qual a contribuição
 +relativa dos TMII para o efeito líquido indireto do predador? O principal achado
 +do artigo foi que TMII contribuiram substancialmente e atuaram ao longo de todo
 +o eixo de variação dos efeitos letais-não letais do predador (“predator-prey effect
 +space”), em relação aos efeitos indiretos mediados por densidade (DMII), que foram
 +relevantes somente numa estreita faixa deste gradiente. Uma das implicações diretas
 +disso é de que “muitos dos efeitos tradicionamente atribuídos ao fato de predadores
 +//consumirem// presas podem ser devido na verdade ao fato de predadores //induzirem
 +mudanças nos atributos// de suas presas” (p.3907).
 +   
 +O estudo envolveu experimentos em mesocosmos envolvendo larvas de libélula do
 +gênero Anax (Aeshnidae), 2 classes de tamanho de girinos de Lithobates catesbeianus
 +(Ranidae) e perifíton como recurso. Girinos menores são mais suscetíveis à predação
 +por larvas de libélula que os maiores e, portanto seriam competidores inferiores. O
 +experimento foi conduzido num desenho factorial 3x4. Os tratamentos envolveram
 +diversas densidades de larvas de Anax confinadas (não-letal) e livres (letal). A
 +variável resposta foi o número de girinos acima do fundo do tanque e se esses
 +girinos eram ativos. A presença de Anax teve um efeito negativo sobre o forrageio de
 +girinos menores e este efeito foi em função da densidade de Anax confinadas. Além
 +disso, girinos maiores ganharam mais massa no tratamento letal. Larvas de Anax
 +também reduziram a taxa de forrageio e consumiram metade dos girinos menores nos
 +tratamento letal.
 +
 +Assim, os autores demonstraram que respostas fenotípicas da presa à predação
 +provavelmente desempenham um papel maior em determinar as consequências das
 +interações interespecíficas. E ainda, que os efeitos não-letais podem ser influentes
 +não só quando efeitos de densidade são baixos, mas ao longo de uma grande gama
 +de variação de indução de redução de taxa de forrageio por predadores. E por fim
 +os resultados obtidos neste estudo indicam que diferentes densidades de predadores
 +podem ter efeitos distintos sobre a densidade de presas e sobre atributos delas. Ao
 +longo de todo o artigo os autores explicitam claramente suas hipóteses, objetivos
 +e resultados, contextualizando claramente a base teórica, a qual é retomada na
 +discussão, o que facilita ao leitor entender os resultados obtidos e também qual
 +implicação do trabalho realizado num contexto mais amplo e consequentemente seu
 +poder de extrapolação para outros grupos.
 +
 +
 + === Lebrun G. E.; Plowers R.M & Gilbert L.E. 2007. Indirect competition facilitates widespread displacement of one naturalized parasitoid of imported fire ants by another. Ecology 90(5):1184-1194. === 
 +
 +
 +O artigo teve como objetivo testar como se dá a interação entre duas espécies de
 +forídeos parasitóides que possuem similaridade num mesmo tipo de recurso, o
 +hospedeiro, formigas da espécie Solenops invicta. Foram avaliadas as 1) densidades das
 +duas populações em duas escalas temporais e espaciais distintas; mecanismos potenciais
 +de deslocamento competitivo: 2) mudança na razão sexual; 3) competição direta pelo
 +hospedeiro; e 4) comparação entre o padrão de coexistência entre espécies no seu
 +hábitat nativo (América do Sul) e em ambiente onde foram introduzidas (América do
 +Norte). As duas espécies de parasitóides diferem na classe de tamanho das formigas
 +utilizadas para a produção de fêmeas, enquanto que Pseudacteon curvatus necessita
 +de operárias de menor tamanho para a produção de fêmeas, Pseudacteon tricuspis
 +necessita de operárias grande para a produção de fêmeas e operárias menores para a
 +produção de machos. No entanto, operárias menores são mais abundantes do que as
 +maiores.
 +
 +Embora Pseudacteon tricuspis seja boa dispersora, esta não consegue penetrar em
 +áreas onde Pseudacteon curvatus já se encontrava estabelecida anteriormente, ademais
 +quando as duas espécies se encontram numa mesma área, Pseudacteon curvatus causa
 +diminuição na densidade de Pseudacteon tricuspis. Ainda a população de Pseudacteon
 +curvatus é naturalmente mais densa que Pseudacteon tricuspis. Quanto à razão sexual
 +Pseudacteon curvatus afeta produção de fêmeas por P. tricuspis. Uma vez que P.
 +curvatus ocorre em maior densidade, esta espécie tende a chegar primeiro em ninhos
 +danificados, induzindo uma mudança comportamental em operárias maiores, que
 +se escondem dentro do ninho. A partir de dados de trabalhos anteriores, os autores
 +concluíram que há uma relação negativa entre as densidades de fêmeas de P tricuspis e
 +P. curvatus, no seu habitat nativo, o que não foi verificado no presente trabalho.
 +
 +Os autores atribuíram como principal mecanismo de deslocamento competitivo a
 +modificação comportamental das formigas maiores por P. curvatus, provocando um
 +efeito negativo na reprodução de P. tricuspis. Apesar dos objetivos a que os autores
 +propuseram-se a responder de forma adequada, houve a necessidade de retomada de
 +base teórica exposta na introdução do artigo, onde limitaram-se a discutir os resultados
 +baseados nas informações sobre o sistema de estudo. Alguns pontos relacionados
 +ao sistema de estudo necessitam de maiores esclarecimentos tais como a utilização
 +das operárias para a produção de machos e fêmeas para a espécie P. curvatus.
 +
 +====Teorias neutras da biodiversidade====
 +
 +Diogo Borges Provete & Joyce Marques Barbosa
 +
 +===Harpole, S. W; Tilman; D. 2006. Non-neutral patterns of species abundance in grassland communities. Ecology Letters 9: 15- 23.===
 +
 +O objetivo do trabalho foi verificar se padrões de abundância de espécies em comunidades de gramíneas de pradarias apresentam características além das esperadas em processos neutros. Para tal foram levantadas as seguintes questões: (1) A distribuição de abundancia de espécies nessas pradarias são consistentes com a teoria neutra? (2) Qual é a relação entre os atributos das espécies e sua abundância – as espécies são equivalentes? (3) Os padrões de abundancia das espécies mudam de forma neutra em resposta à mudanças ambientais?
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 +Para responder as questões levantadas pelos autores foram realizados três experimentos em duas áreas de pradaria, utilizando ao todo 27 espécies de plantas perenes. Para responder à primeira questão foram comparadas as distribuições de abundancia relativa observada em três áreas de pradarias antigas (com mais de 60 anos) com a abundância relativa que seria esperada pela hipótese nula, correspondente ao padrão de neutralidade predito pelo modelo multinominal de soma zero da teoria neutra. A segunda questão foi respondida através da análise de abundancia e cobertura das espécies vegetais quando espécies distintas, com diferença de atributos, foram expostas a eventos estocásticos. A terceira questão foi respondida examinando a mudança na abundancia relativa das espécies em um gradiente de adição de nitrogênio no solo e, em outro experimento, os autores analisaram o gradiente de sucessão em 21 campos de idades diferentes mensurando a área coberta pelas espécies. Os atributos das espécies foram incluídos na análise por meio da integração de características morfológicas e fisiológicas das espécies em um valor R*, funcionando como um índice de habilidade competitiva. 
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 +Os resultados nos mostram em uma primeira análise que os padrões encontrados se ajustam ao modelo proposto pela teoria neutra, logo poderíamos supor que a abundancia de espécies segue um padrão de neutralidade. Porém, os resultados dos experimentos apontam que os atributos possuem importância na abundância das espécies da comunidade e que a abundância varia em função desses atributos quando ocorrem mudanças no ambiente, tendo como conseqüência um melhor ajuste à teoria do nicho. Esse fato ressalta a importância dos atributos e da competição entre as espécies no entendimento da estruturação da comunidade.
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 +Os autores argumentam que faltam experimentos rigorosos para verificar a consistência do modelo previsto pela teoria neutra e que a falta desses testes mais rigorosos podem ocasionar padrões falsos de neutralidade. Para sanar esse problema, os autores vão além do teste de ajuste de modelos de distribuição de abundância de espécies observados e esperados, adicionando a esses testes atributos das espécies estudadas, avaliando assim as predições da teoria do nicho em contraposição à teoria neutra. Logo, os resultados obtidos abrem caminho para uma nova forma de testar padrões observados na natureza e dão um passo inicial para a criação de novos modelos preditivos de padrões de comunidades ecológicas, com potencial para predizer, de forma qualitativa, padrões de abundância relativa de espécies.
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 +===Hubbell, S. P. 1979. Tree dispersal, abundance, and diversity in a tropical dry forest. Science 203: 1299-1309.===
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 +O artigo traz uma contribuição que pode ser dividida em dois aspectos: 1) testar a teoria de Janzen-Connell, que diz respeito à distribuição de árvores adultas e plântulas em florestas; e 2) apresentar um modelo de distribuição de abundância para espécies arbóreas em florestas secas. Ainda, este estudo fornece a primeira evidência empírica de que processos neutros, ou seja, independentes da biologia das espécies, podem atuar para determinar a distribuição das espécies na natureza. Além disso, aparece pela primeira vez a versão de uma distribuição estatística que descreve a abundância relativa das espécies, posteriormente chamada de multinomial de somatório zero (Zero-Sum Multinomial), bem como idéias que formariam o germe da teoria unificada da biodiversidade e biogeografia, do mesmo autor. Ao todo o autor busca responder 10 questões, das quais pode-se ressaltar as seguintes: i) a dispersão da população de árvores adultas é uniforme?; ii) as árvores adultas são menos agrupadas que os juvenis, ou que a população como um todo?; iii) qual é a relação entre raridade e de uma espécie arbórea e o seu padrão de dispersão ou sua estrutura populacional?; iv) O modo de dispersão de sementes ou sistema de reprodução está relacionado à abundância ou padrão de dispersão?; v) Quais são os padrões de abundância relativa das espécies na floresta seca e como eles são comparados com padrões em florestas em outras latitudes? Esses padrões sugerem mecanismos similares?
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 +O autor mapeou e determinou a posição de indivíduos de 135 espécies de plantas lenhosas com dap > 2cm em uma área de floresta seca no noroeste da Costa Rica. Posteriormente, as densidades de adultos e juvenis foram determinados em diferentes distâncias a partir de cada árvore adulta e um mapa foi gerado em computador. 
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 +As principais conclusões deste estudo foram que as árvores adultas no sítio estudado não estavam uniformemente dispersas, mas sim agrupadas. Adicionalmente, árvores adultas foram menos agrupadas que as plântulas e que a população como um todo, bem como as densidades de adultos e juvenis decresceram exponencialmente a partir de um dado indivíduo adulto. Logo, diversas linhas de evidência fornecidas por este estudo contrariariam a hipótese de Janzen-Connell. A outra vertente do estudo forceneu um modelo que descreve a distribuição de abundância de espécies. O modelo tem como premissas que 1) a floresta está saturada de árvores, de modo que todos os recursos são utilizados; 2) quando um ciclo de distúrbio é imposto, a mortalidade é aleatoriamente distribuída, mas que a perda de indivíduos é proporcional à sua abundância; 3) este distúrbio deixaria livre locais para o estabelecimento de novos indivíduos. Uma das grandes contribuições deste estudo foi o modelo proposto que levou em conta somente aspectos não baseados no nicho das espécies, e que mesmo assim conseguiu explicar com bastante acurácia a distribuição de abundância das espécies de árvores numa floresta seca. Com isso, o autor chamou a atenção, numa época em que a teoria do nicho estava bastante em voga, de que processos estocásticos (random-walk) podem ser responsáveis por determinar padrões em comunidades ecológicas.   
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 +====O nicho====
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 +Hamanda Cavalheri e Leandro Kodama
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 +===Hoogenboom, M.O. & Connolly, S.R. 2009. Defining fundamental niche dimensions of corals: synergistic effects of colony size, light and flow. Ecology, 90(3): 767-780===
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 +Os autores propõem quantificar o nicho fundamental de três espécies de coral (Acropora nasuta, Montipora foliosa e Leptoria phrygia) levando em consideração gradientes de luz e velocidade do fluxo de água, além de avaliar se o tamanho da colônia de coral influencia no tamanho do nicho. O estudo foi baseado em dados obtidos em experimentos em laboratório e observações em campo juntamente com elaboração de modelo matemático. No modelo a relação entre a taxa fotossintética e a respiração é utilizada para avaliar a aquisição de energia do organismo, relacionando a qualidade do tecido (quantidade de proteína) e reprodução (quantidade de ovos).
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 +O trabalho mostra que o tamanho do nicho aumenta com o aumento do tamanho da colônia. Isso ocorre porque colônias maiores possuem balanço de energia positivo por tolerar maiores amplitudes de velocidade de fluxo de água e intensidade luminosa quando comparadas a colônias pequenas. Pequenas mudanças no fluxo de água afetam a respiração e a fotossíntese. A aquisição de energia é uma boa preditora de qualidade do tecido e reprodução, em duas das três espécies estudadas.
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 +As bases das conclusões dos autores são coerentes com os resultados obtidos de seus experimentos. Além disso, eles apresentam evidências que corroboram seus resultados e outras que as contrapõem. Apesar de mostrar argumentos a favor do que foi encontrado em seu trabalho, os autores admitem que muitas outras condições ainda podem ser relevantes.
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 +===Connell, J.H. 1961. The influence of interspecific competition and other factors on the distribution of the barnacle Chthamalus stellatus. Ecology, 42(4): 710-723===
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 +O objetivo do trabalho foi determinar a causa de morte da espécie de craca Chthamalus stellatus que se estabelecem em partes do costão rochoso que fica entre a média do nível da maré e o máximo. O autor propôs a hipótese de que a ausência de adultos de Chthamalus stellatus na zona mencionada ocorre devido à competição interespecífica por espaço com Balanus balanoides. Para isso, o autor separa as áreas de estudo em partes que contenham ambas as espécies e partes onde são excluídos os espécimes de B. balanoides.  Para mensurar a sobrevivência de C. stellatus, o autor realiza um censo dos organismos. Com o intuito de verificar se a restrição espacial de C. stellatus ocorria por competição ou restrição fisiológica, o autor realocou indivíduos estabelecidos na parte alta da zona entre - marés para locais mais abaixo da zona entre - marés. Além disso, foram realizados experimentos de exclusão de um predador comum às duas espécies, Thais lapillus.
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 +O trabalho mostra que na ausência de B. balanoides, T. lapillus e do dano causado pelo batimento das ondas, a sobrevivência de C. stellatus foi maior. C. stellatus pode ocorrer em partes mais altas da zona entre - marés por ser mais tolerante à dessecação e ao calor. A competição intra-específica foi raramente observada e a competição interespecífica por espaço com B. balanoides foi o fator mais importante na distribuição de C. stellatus. As populações de C. stellatus são mais afetadas pela predação por T. lapillus quando localizadas abaixo da linha média da zona entre – marés. Nas partes mais altas, a predação não é intensa, pois a atuação de T. lapillus nesses locais não é comum.
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 +O autor conseguiu responder a questão proposta através da metodologia abordada. Muitas de suas evidências são obtidas de outros de seus trabalhos. Além disso, ele explica muitas de suas evidências baseadas em outros trabalhos realizados com as espécies abordadas neste estudo. 
 +====Estrutura Trófica e Redes Complexas====
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 +Vanda Lucia Ferreria e Hamanda Cavalheri
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 +===Paine, R.T. 1988. Food Webs: Road Maps of Interactions or Grist for Theoretical Development? Ecology, 69 (6): 1648-1654=== 
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 +O artigo se propõe a avaliar a abordagem da teoria de redes tróficas pelo uso do valor de conectância. O autor, então, critica o valor de conectância apontando os vieses de seu uso na construção de redes tróficas e no desenvolvimento de novas idéias. 
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 +O autor mostra que a coleta de dados brutos pode ser influenciada pelo modo de detecção das espécies no sistema, mobilidade de espécies, deslocamento de espécies entre comunidades e variação de dieta, por exemplo, com tamanho e ontogenia. Uma espécie pode apresentar variação espacial de dieta entre populações, a qual não pode ser generalizada para toda a espécie, pois torna as interações obscuras. Agregar espécies que estão no mesmo nível trófico pode gerar um viés, por diminuir o número de categorias de presas, perdendo o refinamento das interações e a capacidade de comparação entre redes tróficas. O valor de conectância varia com o número de espécies de uma comunidade, dependendo do modo como o pesquisador aborda as espécies na construção da rede trófica. O valor de conectância tem pouca relação com a estabilidade da comunidade, pois interações competitivas podem ser mais importantes na manutenção da estabilidade do que a predação.
 +
 +O autor contextualiza a base teórica com estudos prévios apresentados, mostrando que abordagem utilizada não é adequada, pois o valor de conectância é arbitrário. Para isso, traz bons argumentos e recalcula o valor de conectância dos outros estudos sob uma nova visão, embasando sua crítica na forma de construção de redes tróficas. Dessa forma, incentiva a busca de novas formas de estudo que não incluam o valor de conectância. 
 +
 +===Allesina, S.; Alonso, D. & Pascual, M. 2008. A General Model for Food Web Structure. Science, 320 (2): 658-660===
 +
 +Os autores se propuseram a criar um modelo geral para estrutura de redes tróficas. Esse modelo, diferentemente daqueles propostos anteriormente (modelo de cascata, de nicho e de hierarquia “aninhada”) é capaz de generalizar dados empíricos. 
 +
 +Os autores descreveram três modelos de estrutura da cadeia trófica (citados acima) e destacam as limitações, sendo a maior delas a incapacidade dos modelos de replicarem totalmente dados empíricos. Dessa forma, os autores propõem um novo modelo baseado na análise de verossimilhança, a qual permite a comparação entre modelos alternativos. Comparativamente, o modelo do nicho apresentou melhor verossimilhança, o que apóia a idéia central desse modelo de que predadores tendem a consumir presas que compartilham  características comuns. No entanto, o modelo de nicho apresenta maior número de ligações não reproduzíveis, indicando que uma única dimensão espacial não é suficiente para descrever a similaridade entre as presas (limitação do modelo). O modelo proposto é chamado de modelo do potencial mínimo do nicho, no qual o nicho é representado de forma multidimensional. As espécies são ordenadas em um espaço uni-dimensional, mostrando a amplitude presas potenciais do predador. Contudo, no nicho efetivo o predador pode não realizar interações alimentares com todas as espécies presentes, para resolver esse problema essas interações não realizadas são mensuradas pelas ligações proibidas (f). Dessa forma, o modelo requer três parâmetros: número de especies (S), densidade de conexões potenciais (Cp) e probabilidade de ligações proibidas (f). Sendo que os três podem ser obtidos a partir de dados empíricos.
 +
 +No artigo as evidências das limitações dos modelos atuais de redes tróficas são apontadas. Dessa forma, a criação de um modelo que exclua essas limitações foi proposto. Além disso, os autores deixam explícita a importância do modelo do potencial mínimo do nicho como um modelo geral, que permite comparações e uso de dados empíricos.
 +==== Resiliência e estados múltiplos ====
 +=== Sutherland, J.P. 1974. Multiple stable points in natural communities. The American Naturalist 108: 859-872 ===
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 +Cybele Araujo e Mathias M. Pires
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 +O estudo contrapõe dois pontos de vista relacionados a estrutura de comunidades. A visão mais tradicional despreza fatores históricos e considera que a estrutura de uma comunidade é determinada por um conjunto fixo de mecanismos sendo, portanto, previsível. Em contrapartida, se a estrutura depende de fatores históricos, uma mesma comunidade pode possuir diversas configurações estáveis e, portanto, múltiplos pontos de equilíbrio. Se fatores históricos são importantes espera-se que comunidades com estrutura distinta persistam, mesmo sob condições similares.  Dentro desse contexto, o autor buscou demonstrar a ocorrência de múltiplos pontos de equilíbrio em um sistema natural.
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 +Usando placas de cerâmica submersas, que simulavam um substrato em estágio inicial de sucessão primária, a porcentagem de cobertura por diferentes organismos marinhos sésseis foi estimada em diferentes períodos após a submersão. Foram considerados estados em equilíbrio aquelas configurações que, mesmo na presença de perturbação, eram mantidas por um tempo considerável, arbitrariamente definido. Por meio manipulações de exclusão de predadores e remoção de competidores foi testado o efeito de perturbações sobre o sistema. Dois pontos de equilíbrio foram identificados. Essas duas configurações foram geradas tanto nas manipulações de exclusão quanto nas observações sem manipulação. Adicionalmente, o desenvolvimento em direção a um ou outro ponto de estabilidade pareceu depender da ordem cronológica dos eventos durante a formação da comunidade.
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 +A partir desses resultados o autor sugere que a estrutura de uma comunidade dependeria da interação de diversos mecanismos e de fatores históricos, o que torna o comportamento do sistema pouco previsível. Esses resultados contrastam com a noção prevalente na época de que em processo de sucessão, comunidades se dirigiam a uma única situação de clímax. Entretanto, as conclusões do autor esbarram em limitações metodológicas e nas definições arbitrárias de estabilidade. Além disso, próprio autor reconhece a existência de uma situação de clímax na comunidade. Assim, as evidências apontariam não para múltiplos pontos de equilíbrio, mas para estados transientes que se mantêm por certo tempo e possuem diferentes graus de estabilidade. Por fim, o autor em uma tentativa de demonstrar que a existência de múltiplos pontos de equilíbrio é um padrão frequente na natureza, relata exemplos de outros sistemas que possuiriam estados estáveis alternativos. Baseando-se em seus resultados o autor sugere que estudos mais criteriosos de caráter experimental que avaliem os efeitos das interações entre as espécies na estrutura poderiam permitir o desenvolvimento de modelos mais precisos e capazes de identificar diferentes pontos de equilíbrio e os mecanismos responsáveis por eles. Apesar das conclusões não serem subsidiadas pelos resultados obtidos no estudo, o artigo tem o mérito de abordar a possibilidade da existência de múltiplos pontos de equilíbrio e a relevância de fatores históricos, hoje pontos centrais nas teorias de não-equilíbrio.
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 +
 +=== Persson, L., Amundsen,P., De Roos, A.M., Klemetsen, A., Knudsen, R., Primicerio, R. 2007. Culling prey promotes predator recovery—alternative states in a whole-lake experiment. Science 316:1743–1746 ===
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 +Cybele Araujo e Mathias M. Pires
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 +Estudos teóricos tem sugerido que a predação diferencial por tamanho e crescimento dependente da disponibilidade de recursos alimentares podem ser mecanismos que levam a estados alternativos de equilíbrio. Sob intensa pressão de predação, a competição entre indivíduos de uma população predada é reduzida. Por conseguinte, o crescimento e a taxa reprodutiva da presa são incrementados e consequentemente a densidade de indivíduos que podem ser predados aumenta, permitindo a manutenção da população do predador. Para testar a ocorrência desses mecanismos na natureza foi usado um modelo que incorpora esses mecanismos.  Na situação inicial a presa encontra-se em alta densidade o predador em baixa. Então foi simulada uma perturbação por meio da redução na densidade de presas. As predições geradas pelo modelo foram comparadas com os padrões encontrados em um sistema natural, que foi submetido a uma intervenção de manejo que reduziu a população da espécie predada.
 +
 +Em um lago contendo uma espécie de peixe predador e outra que atua no sistema como sua principal presa, a abundância da presa foi reduzida com o intuito de restabelecer a densidade da população de predadores. Por meio de amostras das populações antes e após a remoção, a dinâmica de ambas as populações, estrutura de tamanho e condição corpórea do predador foi analisada. Um lago próximo e similar, onde não houve intervenção de manejo foi usado como controle. Todas as predições geradas pelo modelo foram reproduzidas no sistema de estudo. As densidades de predadores e presas foram consideravelmente alteradas em relação a situação anterior ao manejo e se mantiveram estáveis por 15 anos de acompanhamento. Desta forma, os autores sugerem que um estado alternativo de equilíbrio foi atingido no sistema como predito pelo modelo. 
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 +O conjunto de evidências apresentados neste trabalho é uma demonstração inequívoca da existência de estados alternativos de equilíbrio em um sistema natural. O estudo difere de esforços anteriores, nos quais a existência de estados alternativos foi observada apenas em escalas espaciais restritas e sob condições controladas de laboratório. Ambos os mecanismos considerados no modelo são padrões recorrentes em diversos grupos o que sugere que estados alternativos de equilíbrio poderiam ocorrer em diversos sistemas. Por fim, o uso de um experimento natural para testar as predições do modelo permitiu identificar os mecanismos responsáveis por mudanças na dinâmica do sistema e reitera a importância da compreensão dos mecanismos e da dinâmica do sistema para o estabelecimento de planos de manejo.
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 +=================================================Predação==============================================================
 +
 +=Paine (1966). Food Web Complexity and Species Diversity. The American Naturalist. 100 (910): 65-75====================
 +
 +Alunos: Herbert Serafim de Freitas e Vinicius Soares Antunes
 +
 +O autor (Paine) chama a atenção para o fato de que há uma boa descrição zoogeográfica da diversidade de espécies, porém ressalta que os processos biológicos são pouco compreendidos e podem ser fundamentalmente diferentes na região tropical. Entre os entraves destaca-se a ausência de dados sinecológicos para situações particulares (escala local), e a dificuldade de inferir mecanismos a partir de dados de descrição e comparação de faunas sob uma escala zoogeográfica. Tendo isto em vista, Paine busca compreender quais os mecanismos que determinam os padrões de diversidade em uma escala local, e procura ainda investigar se há variação entre os mecanismos nos gradientes latitudinal e longitudinal. Para tal, foram realizadas observações no Costão Rochoso, na zona entre marés, de três comunidades distintas (Sub-teias) situadas em diferentes latitudes. Foram quantificados o número de predações e a quantidade de calorias obtida por cada espécie/grupo taxonômico e registrados regularmente o número e a densidade de macroinvertebrados e algas bentônicas em duas situações, sem manipulação da sub-teia (controle), e, após a remoção experimental do predador de topo (estrela-do-mar). 
 +O autor verificou que há um mecanismo de coexistência mediada por predação, no qual a diversidade de espécies está relacionada ao número de predadores no sistema e a eficiência destes em evitar que espécies monopolizem um recurso limitante. Após a remoção do predador de topo (ou na ausência de um) há uma diminuição na riqueza de espécies da sub-teia e um domínio do espaço por uma ou poucas espécies, além de uma mudança sucessional na comunidade. Além disso, há um aumento na produção primária. Estas mudanças devem-se ao fato de os predadores removidos serem os principais responsáveis por controlarem as espécies competitivamente superiores. Na ausência dos predadores estas espécies proliferam e monopolizam o espaço (recurso limitante neste ambiente), deslocando outras espécies competitivamente inferiores. Diante das observações o autor conclui que a predação interrompe o processo sucessional, e em uma escala local tende a aumentar a diversidade. 
 +O presente estudo apresentou alguns pontos falhos ou que podem ter reduzido o poder das suas predições, são eles: imprecisões taxonômicas ou falta de conhecimento de auto-ecologia (e.g. não delimitação de spp.), problemas de amostragem (diferentes nos tratamentos, quantitativas e qualitativas), tratamento simples dos dados (ausência de variância), análise de parte da teia (sub-teia), etc. De fato a predação parece ter um papel importante na manutenção da diversidade de espécies nestas comunidades, porém há um limite, a partir do qual outros fatores, como a temperatura, heterogeneidade ambiental, produção e entrada de nutrientes nos sistemas (correntes), etc., passam a preponderar. Dentre estes fatores o autor destaca a importância da estabilidade e da taxa da produção primária, a qual irá influenciar o número e variedade de consumidores não-primários nas sub-teias. Estas observações encontram respaldo no fato de as comunidades tropicais serem as mais diversas, apresentarem mais carnívoros de níveis superiores em suas teias, e possuírem muitas espécies com reduzida abundância individual. Para melhor compreender a importância da predação torna-se importante verificar quão freqüentes os monopólios de recursos se apresentam e investigar os fluxos de energia em diversos sistemas.
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 +===Schmitz et al., (2010). Predator control of ecosystem nutrients dynamics. Ecology Letters========================= 
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 +Alunos: Herbert Serafim de Freitas e Vinicius Soares Antunes
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 +Animais podem diretamente ou indiretamente controlar o destino de nutrientes nos ecossistemas. Pesquisas revelam que predadores de topo podem ter efeito cascata que se estendem para além de sua base de presas no impacto da dinâmica de nutrientes. Sendo assim, o presente artigo propõe uma revisão científica do papel funcional dos predadores na dinâmica e ciclagem de nutrientes em ecossistemas, principalmente de água doce.
 +Primeiramente foram identificadas algumas literaturas no site Web of Science, usando as seguintes palavras chaves: predador, ecossistema e nutrientes. Adicionalmente foram identificadas outras literaturas nas seções de referência desta busca. Foram apenas incluídos estudos que não foram incluídos na síntese de Vanni (2002) e nem estudos de efeito modelo, mas ao invés disso apresentaram-se somente estudos que demonstraram empiricamente a relação entre predador e o destino dos nutrientes.
 +A pesquisa revelou que predadores podem controlar os nutrientes via ciclagem rápida (forma orgânica) e lenta (forma inorgânica) nos ecossistemas através de mecanismos clássicos, bem como outros que agora estão se tornando evidentes após esforços deliberados de estudos de interações tróficas e função do ecossistema, embora a cobertura destes estudos, dos diferentes mecanismos identificados, tenha sido desigual. Esta desigualdade necessita de mais pesquisa que explora se certos mecanismos são realmente idiossincrático à tipos específicos de ecossistemas ou à espécies de predadores mais representativas. Além do mais, a concepção dessa hipótese pode refletir o fato de que estudos empíricos sobre a relação entre predadores e a dinâmica de nutrientes são predominantemente de sistemas aquáticos.
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 +====Diversidade e redundância funcional====
 +===Hector, A. et al. Plant Diversity and Productivity Experiments in European Grasslands. Science 286, 1123, 1999.===
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 +Fernanda D. Abra e Joyce M. Barbosa
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 +As espécies diferem em seus atributos e funções ecológicas, portanto a perda de biodiversidade em algumas comunidades locais podem ser prejudiciais para os seres humanos quando ocorrem mudanças como perda de alguns serviços ambientais e artigos de consumo. Para simular a perda de diversidade em algumas comunidades, os autores simularam pela primeira vez uma manipulação experimental em oito diferentes lugares da Europa utilizando protocolos padronizados a fim de estabelecer conjuntos de espécies “savânicas” que variassem em riqueza de espécies. Os lugares escolhidos para experimentação variaram muito em fatores ambientais e isso influenciou os padrões de riqueza e medidas de biomassas locais. O experimento consistiu na retirada de todas as plantas e bancos de sementes dos locais escolhidos (no total 480 plots e 200 diferentes conjuntos de plantas) e então foram estabelecidas comunidades de plantas a partir de sementes selecionadas para simular diferentes gradientes de riqueza. Os níveis de riqueza de espécies variaram de 1 a 5. A hipótese de trabalho apresentada era que diminuindo o número de espécies seria reduzida a produtividade, dado que isso gerasse uma diminuição na diversidade funcional, portanto, o esperado era que para um certo número de espécies a produtividade seria baixa em comunidades com poucos grupos funcionais. Para testar essa hipótese as espécies de plantas foram divididas em três grupos funcionais: graminóides, herbáceas e fixadoras de nitrogênio.
 +Os efeitos gerais para a diminuição da riqueza de espécies foi melhor descrito por numa relação linear entre produtividade e o logaritmo natural do número de espécies de plantas, resultado o qual foi muito semelhante a outros padrões reportados em estudos prévios em outras localidades. O autor também enfocou a importância da escala em seu trabalho evidenciando que, quando todos os locais foram analisados juntos isso gerava somente um modelo de produtividade e quando os locais eram analisados separadamente foi produzido uma variedade de diferentes modelos. Houve duas explicações para essas diferenças: (i) tamanho amostral baixo entre alguns locais e (ii) locais diferiram em suas respostas e as análises não eram poderosas o suficiente para revelar uma significativa interação de riqueza na localização por espécie quando os locais eram analisados juntos. Por essas razões o autor foi favorável a fazer análises mais generalistas as quais mostram que as diferenças entre locais não são significativas e sugeriu que pode haver uma única relação geral entre riqueza de espécies e diversidade entre todos os locais.
 +O experimento ainda revelou que a função relativa de riqueza, localização e composição de espécies são determinantes na produtividade, essas variáveis chaves explicaram 18, 28 e 39% da soma total dos quadrados, no entanto a composição de espécies não foi estatisticamente significante na produtividade. Na média, a omissão de apenas uma única espécie pode reduzir a produtividade em aproximadamente 360 gramas m -2, como foi o caso da espécie Trifolium pratense, que apresentou um efeito marcante na análise. O autor por fim cita 3 processos dos quais a perda de riqueza de espécies poderia diminuir a produtividade: (i) efeito da amostra), (ii) efeito de seleção e (iii) redução das interações mutualísticas. Os padrões de biomassa predizem um declínio log-linear da produtividade com a perda de riqueza de espécies, nas quais a redução da complementaridade de nicho, interações positivas ou ambas podem desempenhar uma função.
 +
 +===Díaz, S. et al. The plant traits that drive ecosystems: Evidences from three continents. Journal of Vegetation Science 15: 295-304, 2004.===
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 +Fernanda D. Abra e Joyce M. Barbosa
 +
 +O clima e o uso da terra estão sofrendo mudanças em escalas sem precedentes e as evidencias de que atributos ou conjunto de atributos de plantas podem ser preditores de impacto ambiental são cada vez maiores, entretanto muitos desses atributos exigem muito investimento para serem mensurados. Frente a esse fato a autor se propõe a responder as seguintes perguntas: 1) Existem tendências gerais de especialização nas plantas ?, 2) As tendências são similares em floras diferentes ?; 3) As tendências são consistentes em diferentes grupos taxonômicos ?; 4) Os atributos de importância comprovada para o funcionamento do ecossistema são consistentes com atributos mais fáceis de mensurar ?
 +Para atingir o proposto foi construído um conjunto de dados de 640 plantas vasculares com ampla cobertura em quatro países (Argentina,Inglaterra, Irã e Espanha) que apresentam grandes diferenças quanto ao clima, a biogeografia e o uso da terra. Foram selecionados 12 atributos comprovadamente importantes para: 1) Fases de regeneração e  estabelecimento das plantas; 2) Repostas das plantas para o ambiente e/ou 3) Efeito de plantas sobre o ecossistema. Os dados foram organizados em uma matriz de 12 atributos x 640 espécies e analisados por meio de PCA (Principal Component Analysis) baseados na correlação das variáveis. Os resultados indicaram padrões gerais de especialização nos quatro países testados e indicam que os padrões encontrados são consistentes em grupos filogenéticos quanto ao tamanho das espécies mas não apresentam papel importante quanto à aquisição de recursos. Por fim, foi confirmada a relação entre atributos fortes e os atributos fáceis de serem mensurados. 
 +O artigo apresenta contribuições em dois aspectos principais. Primeiro os padrões gerais encontrados nos quatro países, indicando que resultados em uma escala local tem potencial para serem aplicados em escalas maiores. Em segundo lugar, a relação entre atributos fortes e os atributos simples, fáceis de serem mensurados, indicam a possibilidade de realizar medidas de forma menos trabalhosa e que garantam bons resultados quanto à predição de impactos ambientais. Entretanto, como o próprio autor coloca, é necessário verificar se os resultados encontrados em seu trabalho podem ser extrapolados para ambientes heterogêneos. O autor também coloca que os resultados encontrados indicam um trade-off fundamental entre aquisição e conservação de recursos, porém pelo fato de não avaliar o ciclo de vida das espécies estudadas e avaliar somente a parte aérea das mesmas essa conclusão pode estar enviesada.
  
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