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ensaios:helbert_medeiros_prado [2009/10/02 19:15] – criada helbert | ensaios:helbert_medeiros_prado [2011/07/20 14:40] (atual) – edição externa 127.0.0.1 | ||
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- | {{:ensaios:ensaio_helbert.doc|}} | + | ====== O papel da agricultura de corte e queima em florestas tropicais visto pela ecologia teórica ====== |
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+ | **Helbert Medeiros Prado** | ||
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+ | A agricultura de corte e queima, também conhecida como coivara, consiste em um sistema no qual pequenas áreas de floresta são desmatadas para serem cultivadas durante curtos períodos de tempo, depois dos quais a área é abandonada para o “descanso” ou pousio, durante um período mais longo (Conklin 1961). Essa atividade, através do seu sistema de pousio e rotatividade, | ||
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+ | Atualmente, a coivara é praticada por toda a região tropical do planeta, além de algumas regiões subtropicais (Pedroso et al. 2008), sendo a principal atividade de subsistência de cerca de 250 a 500 milhões de pessoas (Lanly 1982). Dada a sua ampla abrangência, | ||
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+ | Neste ensaio pretendo discutir se a hipótese de que a agricultura de corte e queima promove a biodiversidade nos trópicos é pertinente à luz da ecologia teórica, mais especificamente sob a ótica da vertente ecológica que investiga há décadas os mecanismos de coexistência de espécies. Para tanto, o desenvolvimento dessa linha da ecologia teórica ao longo do século XX será brevemente sintetizado e alguns dos principais modelos de coexistência serão resumidamente descritos. | ||
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+ | ===== Modelos Lotka-Volterra e a inclusão do espaço ===== | ||
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+ | Uma das hipóteses de maior repercussão na ecologia do século XX foi o “princípio da exclusão competitiva”, | ||
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+ | Em meados da década de 1970, estavam sendo empregadas duas abordagens((diria que iniciava-se o desenvolvimento de uma abordagem alternativa à clássica)) distintas para modelar matematicamente a competição entre espécies, uma clássica baseada nos referidos modelos de Voterra (1926) e Gause (1934), e outra que começara a incorporar a dimensão espacial nos modelos | ||
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+ | Uma das principais características dos modelos que incorporam as subdivisões do espaço é a dispersão das espécies entre manchas de habitat inseridas num dado contexto de paisagem. A dispersão possibilita que espécies com habilidades competitivas distintas co-ocorram numa escala regional, ainda que no contexto local a exclusão de uma delas seja inevitável (Giacomini, 2007). A existência de mecanismos que incorporam o espaço também((não é " | ||
+ | Nesses modelos, uma espécie com maior habilidade competitiva na escala local não é capaz de excluir outras espécies no âmbito regional, pois sua habilidade de dispersão é reduzida. Já as espécies pouco competitivas tem alta capacidade de colonizar novas áreas submetidas à perturbações periódicas. Nesse cenário, as condições para a coexistência seriam: (1) existir uma probabilidade maior que zero da espécie localmente superior ser extinta localmente após um determinado distúrbio e (2) uma velocidade de exclusão local tal que as manchas de habitat em estádio intermediário de sucessão (contendo espécies colonizadoras e competidoras) possam funcionar como fonte de propágulos para novos sítios que venham a se tornarem vagos (Slatkin 1974). | ||
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+ | Assumindo que a abertura de roças de coivara funcione como distúrbios localizados em pequenas porções de uma matriz florestal, é viável supor que a dinâmica descrita nos modelos de coexistência acima mencionados como, trade-offs entre espécies colonizadoras e competidoras e mudanças na composição local de espécies ao longo do tempo sucessional, | ||
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+ | ===== A inclusão de heterogeneidade no tempo e espaço ===== | ||
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+ | ((esta seção me pareceu fora de lugar, já que a anterior já apresenta esta inclusão do espaço nos modelos de coexistẽncia)) Em artigo de revisão recente Giacomini (2007) argumenta que grande parte dos modelos clássicos utilizados em ecologia desconsidera as variações espaciais e temporais no ambiente. Adicionalmente, | ||
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+ | ===== Variações ambientais ao longo do tempo ===== | ||
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+ | Hutchinson (1961), ao especular sobre a grande diversidade de plânctons((plâncton já designam uma comunidade, portanto creio que este plural não seja necessário)) em ambientes relativamente homogêneos, | ||
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+ | Posteriormente, | ||
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+ | A hipótese de que a coivara promove a agricultura((civara promove agricultura? | ||
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+ | Vale mencionar que, apesar do termo “agricultura de corte e queima” se referir a uma categoria geral, sabe-se que a mesma apresenta variações no modo como é praticada, e que suas consequências sobre a biodiversidade dependem do contexto regional no qual a mesma se insere (Pedroso et al. 2008). Nesse sentido, a analogia que faço entre distúrbio intermediário e agricultura de corte e queima é um exercício teórico((todo o ensaio é)), de modo que sua validade deve ser testada a partir de dados empíricos((o que está em questão aqui é o grau de perturbação causado pela coivara?)). | ||
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+ | ===== Heterogeneidade espacial ===== | ||
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+ | A partir da década de 1980 novos modelos teóricos passaram a considerar a heterogeneidade espacial nos processos ecológicos. O conceito de heterogeneidade espacial se refere à variação a disponibilidade de recursos e nas condições ambientais entre diferentes pontos do espaço. Tilman (1982), por exemplo, demonstrou que a variação espacial nas taxas de suprimento de recursos pode promover((aumentar? | ||
+ | Outro mecanismo de coexistência baseado em trade-offs entre espécies e heterogeneidade espacial é demonstrado por Tilman e Pacala (1993). Esse modelo basicamente mostra que diferentes espécies apresentam suas habilidades competitivas ótimas sob diferentes condições ambientais, que por sua vez variam entre diferentes pontos no espaço. Nesse caso, os trade-offs são mediados por fatores físicos como, por exemplo, temperatura, | ||
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+ | Em geral, a agricultura de corte e queima | ||
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+ | ===== Considerações Finais ===== | ||
+ | ((Considerações gerais sobre o ensaio: Vc atendeu muito bem a proposta de articular conceitos discutidos na disciplina com sua pesquisa. | ||
+ | Em tese, é possível afirmar que a prática da agricultura de corte e queima em florestas tropicais reúne um conjunto de características presentes em algumas das principais teorias ecológicas sobre a riqueza de espécies em comunidades biológicas, | ||
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+ | =====Referências Bibliográficas ===== | ||
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+ | ANDRADE, G.I., RUBIO-TORGLER, | ||
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+ | ARMSTRONG, R.A. & MCGEHEE, R. 1980. Competitive exclusion. The American | ||
+ | Naturalist, 115: 151-170. | ||
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+ | CARNEIRO, R.L. 1988. Indians of the Amazonian Forest. In: DENSLOW, J.S., PADOCH, C. (Eds.) People of the Tropical Rain Forest. London / Berkeley: University of California Press. | ||
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+ | CONNELL, J.H. 1978. Diversity in tropical rain forest and coral reefs. Science, 199: | ||
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+ | CONKLIN, H.C. 1961. The study of shifting cultivation. Current Anthropology, | ||
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+ | LINARES, O. 1976. “Garden Hunting” in the American Tropics. Human Ecology 4(4): | ||
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+ | DEAN, W. 1996. A Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras. | ||
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+ | GAUSE, G.F. 1934. The Struggle for Existence. Williams & Wilkins, Baltimore. | ||
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+ | GIACOMINI, H.C. 2007. Mecanismos de coexistência de espécies como vistos pela teoria ecológica. Oecol. Bras., 11(4): 521-543. | ||
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+ | Naturalist, 113: 81-101. | ||
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+ | University Press, Princeton, NJ. | ||
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+ | TILMAN, D. & PACALA, S. 1993. The maintenance of species richness in plant communities. Pp 13-25. In: Ricklefs, R. E. & Schluter, D. C. (eds.) Species diversity in ecological communities. The University of Chicago Press VL. | ||
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+ | VOLTERRA, V. 1926. Variazione e fluttuazione del numero d’individui in specie animali conviventi. Mem. Accad. Nazionale Lincei, (6)2: 31-113. | ||
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+ | ===== Arquivo do Ensaio ===== | ||
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