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 ====== Ensaios 2010 ====== ====== Ensaios 2010 ======
  
-=====Herbert Serafim de Freitas===== +====Riqueza de espécies: padrões e processos==== 
- +===Herbert Serafim de Freitas===
-**Riqueza de espécies: padrões e processos**+
  
 A pesquisa em Ecologia de Comunidades tem buscado respostas a questões como: Por que algumas comunidades possuem mais espécies que outras?; Existem padrões ou gradientes na riqueza de espécies?; Se há, quais as razões para estes padrões? Riqueza de espécies pode ser definida como o número de espécies presente em uma unidade geográfica definida (Begon et al. 2006). O uso deste conceito tem sido extensamente empregado para descrever e comparar comunidades. Porém, em muitas circunstâncias torna-se necessário considerar a equitabilidade das espécies (abundância) de maneira combinada com a riqueza, tendo-se assim a diversidade de uma comunidade. Apesar de simples em seu conceito, na prática a riqueza de espécies de um local esbarra em dificuldades de ordem taxonômica (determinação de táxons) e de amostragem. O número de espécies registradas depende do número de amostras tomadas ou do volume de habitat considerado, o que dificulta sobremaneira a comparação entre estudos (Begon et al. 2006). Apesar da simplicidade do conceito, ainda é insipiente a compreensão dos mecanismos responsáveis pelos padrões de riqueza em diferentes escalas. O conhecimento sobre estes mecanismos somado a informações referentes à distribuição espacial da riqueza é premente tendo em vista a enorme demanda de informações para fins de conservação e recuperação da biodiversidade (Myers et al. 2000).  A pesquisa em Ecologia de Comunidades tem buscado respostas a questões como: Por que algumas comunidades possuem mais espécies que outras?; Existem padrões ou gradientes na riqueza de espécies?; Se há, quais as razões para estes padrões? Riqueza de espécies pode ser definida como o número de espécies presente em uma unidade geográfica definida (Begon et al. 2006). O uso deste conceito tem sido extensamente empregado para descrever e comparar comunidades. Porém, em muitas circunstâncias torna-se necessário considerar a equitabilidade das espécies (abundância) de maneira combinada com a riqueza, tendo-se assim a diversidade de uma comunidade. Apesar de simples em seu conceito, na prática a riqueza de espécies de um local esbarra em dificuldades de ordem taxonômica (determinação de táxons) e de amostragem. O número de espécies registradas depende do número de amostras tomadas ou do volume de habitat considerado, o que dificulta sobremaneira a comparação entre estudos (Begon et al. 2006). Apesar da simplicidade do conceito, ainda é insipiente a compreensão dos mecanismos responsáveis pelos padrões de riqueza em diferentes escalas. O conhecimento sobre estes mecanismos somado a informações referentes à distribuição espacial da riqueza é premente tendo em vista a enorme demanda de informações para fins de conservação e recuperação da biodiversidade (Myers et al. 2000). 
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 Em minha dissertação concluída em abril (Serafim 2010) investiguei os efeitos relacionados a fragmentação, em especial associados ao tamanho dos remanescentes. Para isso busquei descrever e comparar a composição florística, a estrutura e aspectos ecológicos do componente arbóreo de três fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual situados na bacia do rio Paraíba do sul (o fragmento maior tem 300 ha e os dois menores 14 ha cada). Na região predominam fragmentos com até 20 ha. Todos os fragmentos estudados apresentaram elevados valores de riqueza e diversidade, principalmente quando comparados aos registrados na bacia do rio Paraíba do Sul. Diversas famílias, gêneros, e principalmente, espécies estão restritos a apenas um dos três fragmentos estudados, ressaltando a heterogeneidade florística destes. Das 13 espécies que tiveram seu primeiro registro no estado de São Paulo realizado neste estudo, oito foram encontradas apenas nos fragmentos pequenos. O fragmento maior (300 ha) apresentou valores de riqueza e diversidade intermediários entre os apresentados pelos fragmentos menores. Tais resultados contrariam a literatura referente aos efeitos da fragmentação, que prevê maiores valores para o fragmento de maior tamanho. Esses aspectos ressaltam a importância de todos os fragmentos, independentemente de seu tamanho para a preservação da diversidade regional. Tal visão tem só recentemente recebido a atenção, e terá importantes reflexos para a conservação de regiões extensamente fragmentadas. A inclusão de análises envolvendo dispersão e heterogeneidade ambiental em consonância com questões relacionadas ao tamanho dos remanescentes deve trazer novas perspectivas para esta área de pesquisa. Em minha dissertação concluída em abril (Serafim 2010) investiguei os efeitos relacionados a fragmentação, em especial associados ao tamanho dos remanescentes. Para isso busquei descrever e comparar a composição florística, a estrutura e aspectos ecológicos do componente arbóreo de três fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual situados na bacia do rio Paraíba do sul (o fragmento maior tem 300 ha e os dois menores 14 ha cada). Na região predominam fragmentos com até 20 ha. Todos os fragmentos estudados apresentaram elevados valores de riqueza e diversidade, principalmente quando comparados aos registrados na bacia do rio Paraíba do Sul. Diversas famílias, gêneros, e principalmente, espécies estão restritos a apenas um dos três fragmentos estudados, ressaltando a heterogeneidade florística destes. Das 13 espécies que tiveram seu primeiro registro no estado de São Paulo realizado neste estudo, oito foram encontradas apenas nos fragmentos pequenos. O fragmento maior (300 ha) apresentou valores de riqueza e diversidade intermediários entre os apresentados pelos fragmentos menores. Tais resultados contrariam a literatura referente aos efeitos da fragmentação, que prevê maiores valores para o fragmento de maior tamanho. Esses aspectos ressaltam a importância de todos os fragmentos, independentemente de seu tamanho para a preservação da diversidade regional. Tal visão tem só recentemente recebido a atenção, e terá importantes reflexos para a conservação de regiões extensamente fragmentadas. A inclusão de análises envolvendo dispersão e heterogeneidade ambiental em consonância com questões relacionadas ao tamanho dos remanescentes deve trazer novas perspectivas para esta área de pesquisa.
  
-**Referências Bibliográficas **+==Referências Bibliográficas ==
  
 Begon, M.; Townsend, C.R. & Harper, J.L. 2006. Ecology: From individuals to ecosystems. Blackwell Publishing, Oxford. Begon, M.; Townsend, C.R. & Harper, J.L. 2006. Ecology: From individuals to ecosystems. Blackwell Publishing, Oxford.
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 Wiens, J.J. & Donoghue, M.J. 2004. Historical biogeography, ecology, and species richness. Trends in Ecology and Evolution 19: 639-44.  Wiens, J.J. & Donoghue, M.J. 2004. Historical biogeography, ecology, and species richness. Trends in Ecology and Evolution 19: 639-44. 
  
-===== Diogo B. Provete ===== +====Nicho ecológico==== 
- +=== Diogo B. Provete ===
-**Nicho ecológico**+
  
 O conceito de nicho ecológico tem permeado a história da ecologia desde a sua proposição, primeiramente por Grinnell (1917) significando o conjunto de característica de um hábitat no qual uma espécie é capaz de viver. Ainda no mesmo artigo seminal, Joseph Grinnell (1917: 433) expõe brevemente um conceito de que duas espécies não poderiam ter as mesmas relações de nicho. Ao longo do tempo, o conceito foi redefinido por outros autores, como Elton (1927) e Hutchinson (1957). Diferentemente, o conceito de nicho de Elton propõe que o nicho ecológico é o impacto de uma espécie no ambiente (Elton 1927). Uma grande inovação teórica foi trazida por Hutchinson que definiu o nicho como sendo um espaço hipervolumétrico (n-dimensional) composto pelas variáveis abióticas no qual a população de uma espécie poderia manter-se em equilíbrio.  O conceito de nicho ecológico tem permeado a história da ecologia desde a sua proposição, primeiramente por Grinnell (1917) significando o conjunto de característica de um hábitat no qual uma espécie é capaz de viver. Ainda no mesmo artigo seminal, Joseph Grinnell (1917: 433) expõe brevemente um conceito de que duas espécies não poderiam ter as mesmas relações de nicho. Ao longo do tempo, o conceito foi redefinido por outros autores, como Elton (1927) e Hutchinson (1957). Diferentemente, o conceito de nicho de Elton propõe que o nicho ecológico é o impacto de uma espécie no ambiente (Elton 1927). Uma grande inovação teórica foi trazida por Hutchinson que definiu o nicho como sendo um espaço hipervolumétrico (n-dimensional) composto pelas variáveis abióticas no qual a população de uma espécie poderia manter-se em equilíbrio. 
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 Atualmente muito do meu esforço tem sido direcionado para entender como processos locais influenciam a coexistência de espécies (Provete 2010) em ecossistemas de água doce utilizando larvas de anuros como organismo modelo. Logo, o conceito de nicho parece muito útil para abordar questões nesta escala de estudo. Apesar de processos históricos e regionais (Ricklefs & Schulter 1993) não poderem ser desconsiderados, as relações de nicho e adaptações das espécies às condições locais são capazes de explicar muito dos padrões encontrados. Especificamente no meu estudo anterior, a distribuição das espécies de larvas de anuros ao longo de gradientes de cobertura de dossel e de hidroperíodo de poças encaixou-se grandemente em uma perspectiva de species sorting (Leibold et al. 2004) de metacomunidades (Provete 2010). Esta perspectiva reforça que a distribuição de espécies pode ser explicada por adaptações locais das espécies ao ambiente, com pouca importância dada a processos de dispersão.  Atualmente muito do meu esforço tem sido direcionado para entender como processos locais influenciam a coexistência de espécies (Provete 2010) em ecossistemas de água doce utilizando larvas de anuros como organismo modelo. Logo, o conceito de nicho parece muito útil para abordar questões nesta escala de estudo. Apesar de processos históricos e regionais (Ricklefs & Schulter 1993) não poderem ser desconsiderados, as relações de nicho e adaptações das espécies às condições locais são capazes de explicar muito dos padrões encontrados. Especificamente no meu estudo anterior, a distribuição das espécies de larvas de anuros ao longo de gradientes de cobertura de dossel e de hidroperíodo de poças encaixou-se grandemente em uma perspectiva de species sorting (Leibold et al. 2004) de metacomunidades (Provete 2010). Esta perspectiva reforça que a distribuição de espécies pode ser explicada por adaptações locais das espécies ao ambiente, com pouca importância dada a processos de dispersão. 
  
-**Literatura citada**+==Literatura citada==
  
 Adler, P. B. et al. (2010). Coexistence of perennial plants: an embarrassment of niches. Ecology Letters 13: 1019–1029. Adler, P. B. et al. (2010). Coexistence of perennial plants: an embarrassment of niches. Ecology Letters 13: 1019–1029.
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 Williams, R. J. and N. D. Martinez (2000). Simple rules yield complex food webs. Nature 404: 180-183. Williams, R. J. and N. D. Martinez (2000). Simple rules yield complex food webs. Nature 404: 180-183.
   
- +====Trade-offs===
-===== Daniela Zanelato ===== +=== Daniela Zanelato ===
- +
-**Trade-offs**+
  
 Por que as espécies não são igualmente bem sucedidas em todos os ambientes do planeta? Porque uma única espécie não é capaz de dominar todas as comunidades? Uma explicação recorrente em ecologia é baseada no conceito de trade-off, que tem como uma de suas possíveis traduções para o português a expressão “demandas conflitantes”. O termo expressa o conflito (evolutivo) entre características relacionadas às atividades fundamentais de todos os organismos: sobreviver, crescer e se reproduzir. A idéia por detrás do conceito de trade-off é que os organismos não podem, ao mesmo tempo, ser extremamente eficientes na realização de todas as suas atividades, como por exemplo, na colonização, na captura de recursos e na resistência a inimigos (Kneitel & Chase, 2004). Isso ocorre porque o bom desempenho em relação a uma função implica em prejuízo em relação a uma outra função (Kneitel & Chase, 2004), por exemplo, devido a restrições fisiológicas e de alocação de biomassa (Mooney, 1972). Talvez, fazer uma analogia com as restrições mecânicas que impedem que um veículo seja ao mesmo tempo muito potente e muito econômico ajude a compreender a idéia de trade-off: se especializar em fazer bem uma coisa implica em não fazer outras coisas tão bem.   Por que as espécies não são igualmente bem sucedidas em todos os ambientes do planeta? Porque uma única espécie não é capaz de dominar todas as comunidades? Uma explicação recorrente em ecologia é baseada no conceito de trade-off, que tem como uma de suas possíveis traduções para o português a expressão “demandas conflitantes”. O termo expressa o conflito (evolutivo) entre características relacionadas às atividades fundamentais de todos os organismos: sobreviver, crescer e se reproduzir. A idéia por detrás do conceito de trade-off é que os organismos não podem, ao mesmo tempo, ser extremamente eficientes na realização de todas as suas atividades, como por exemplo, na colonização, na captura de recursos e na resistência a inimigos (Kneitel & Chase, 2004). Isso ocorre porque o bom desempenho em relação a uma função implica em prejuízo em relação a uma outra função (Kneitel & Chase, 2004), por exemplo, devido a restrições fisiológicas e de alocação de biomassa (Mooney, 1972). Talvez, fazer uma analogia com as restrições mecânicas que impedem que um veículo seja ao mesmo tempo muito potente e muito econômico ajude a compreender a idéia de trade-off: se especializar em fazer bem uma coisa implica em não fazer outras coisas tão bem.  
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-**Referências bibliográficas**+==Referências bibliográficas==
  
  
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- +====Processos que atuam na dinâmica das comunidades em escala local e regional==== 
-===== Cybele de Oliveira Araujo ===== +=== Cybele de Oliveira Araujo ===
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-**Processos que atuam na dinâmica das comunidades em escala local e regional**+
  
 Por muitas décadas os ecologistas procuraram explicar diferenças na diversidade das comunidades biológicas apenas pela atuação de processos locais e interações entre as espécies, como competição, predação, parasitismo, entre outras (e.g. Connell 1961, Paine 1966). Hipóteses que relacionavam a diversidade local de maneira determinística às condições ambientais locais eram frequentes, sendo comuns predições como a convergência das comunidades sob condições ambientais similares, resistência das comunidades a invasão e a independência das diversidades locais e regionais (Ricklefs 1987). De maneira divergente, biogeógrafos, paleontólogos e sistematas já aceitavam amplamente a influência dos processos históricos na estruturação das comunidades locais e regionais (ver Ricklefs 1987, Wiens e Donoghue 2004). Nas décadas de 50 e 60, em uma época ainda dominada por esta visão mais tradicional na qual os processos em escala mais ampla eram ignorados pelos ecólogos, Hutchinson (1957) supera o conceito de isolamento ecológico ao considerar as espécies em um nicho multidimensional no espaço e MacArthur e Wilson (1967), na teoria de Biogeografia de Ilhas, explicitamente incorporam os processos regionais ao demonstrarem a importância da dispersão para o aumento da diversidade local. Em resposta a ênfase que grande parte dos ecólogos concederam aos processos locais na determinação da estrutura das comunidades, Ricklefs (1987) e outros autores (Cornell & Lawton 1992, Ricklefs & Schluter 1993, Brown 1995) ampliaram os “horizontes” ao reconhecerem a relevância de processos que ocorrem em uma escala espacial e temporal mais ampla no entendimento dos padrões locais. Segundo os autores, a composição e a diversidade de espécies em escala local dependem e muito da diversidade regional de espécies. Neste cenário, na tentativa de entender a abundância e a distribuição das espécies em uma escala espacial e temporal ampla, a macroecologia reconhece a importância dos processos em escala regional e o conjunto regional de espécies para a estrutura da comunidade local (Brown 1995). Mais recentemente, o conceito de metacomunidade discute a dispersão entre as comunidades locais atuando nos padrões da comunidade em múltiplas escalas (Leibold et al. 2004). Por muitas décadas os ecologistas procuraram explicar diferenças na diversidade das comunidades biológicas apenas pela atuação de processos locais e interações entre as espécies, como competição, predação, parasitismo, entre outras (e.g. Connell 1961, Paine 1966). Hipóteses que relacionavam a diversidade local de maneira determinística às condições ambientais locais eram frequentes, sendo comuns predições como a convergência das comunidades sob condições ambientais similares, resistência das comunidades a invasão e a independência das diversidades locais e regionais (Ricklefs 1987). De maneira divergente, biogeógrafos, paleontólogos e sistematas já aceitavam amplamente a influência dos processos históricos na estruturação das comunidades locais e regionais (ver Ricklefs 1987, Wiens e Donoghue 2004). Nas décadas de 50 e 60, em uma época ainda dominada por esta visão mais tradicional na qual os processos em escala mais ampla eram ignorados pelos ecólogos, Hutchinson (1957) supera o conceito de isolamento ecológico ao considerar as espécies em um nicho multidimensional no espaço e MacArthur e Wilson (1967), na teoria de Biogeografia de Ilhas, explicitamente incorporam os processos regionais ao demonstrarem a importância da dispersão para o aumento da diversidade local. Em resposta a ênfase que grande parte dos ecólogos concederam aos processos locais na determinação da estrutura das comunidades, Ricklefs (1987) e outros autores (Cornell & Lawton 1992, Ricklefs & Schluter 1993, Brown 1995) ampliaram os “horizontes” ao reconhecerem a relevância de processos que ocorrem em uma escala espacial e temporal mais ampla no entendimento dos padrões locais. Segundo os autores, a composição e a diversidade de espécies em escala local dependem e muito da diversidade regional de espécies. Neste cenário, na tentativa de entender a abundância e a distribuição das espécies em uma escala espacial e temporal ampla, a macroecologia reconhece a importância dos processos em escala regional e o conjunto regional de espécies para a estrutura da comunidade local (Brown 1995). Mais recentemente, o conceito de metacomunidade discute a dispersão entre as comunidades locais atuando nos padrões da comunidade em múltiplas escalas (Leibold et al. 2004).
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 Meu projeto de pesquisa insere-se neste contexto, uma vez que pretendo identificar quais os possíveis fatores que explicariam a similaridade na composição de espécies de anfíbios anuros presentes em localidades de Cerrado e floresta estacional semidecidual do estado. Considerando que a composição de espécies pode estar correlacionada às condições ambientais ou a proximidade espacial, irei investigar se o padrão encontrado (existência de similaridade, ou não entre as taxocenoses) pode ser atribuído a distância geográfica entre as localidades, ou se é derivado do gradiente de condições ambientais (variáveis climáticas) existente na região. As localidades selecionadas para este estudo foram as estações ecológicas de Assis, Angatuba, Bauru, Caetetus e Santa Bárbara (escala local), inseridas nas bacias hidrográficas do Alto e Médio Paranapanema (escala regional). Muitos autores demonstraram que a composição de espécies está fortemente relacionada com as condições ambientais, o que seria um indicativo de seleção (Vellend 2010). No entanto, a similaridade na composição de espécies entre as localidades pode estar também relacionada à proximidade espacial, independentemente do ambiente, o que seria uma indicação indireta da atuação de eventos estocásticos (Cottenie 2005). Meu projeto de pesquisa insere-se neste contexto, uma vez que pretendo identificar quais os possíveis fatores que explicariam a similaridade na composição de espécies de anfíbios anuros presentes em localidades de Cerrado e floresta estacional semidecidual do estado. Considerando que a composição de espécies pode estar correlacionada às condições ambientais ou a proximidade espacial, irei investigar se o padrão encontrado (existência de similaridade, ou não entre as taxocenoses) pode ser atribuído a distância geográfica entre as localidades, ou se é derivado do gradiente de condições ambientais (variáveis climáticas) existente na região. As localidades selecionadas para este estudo foram as estações ecológicas de Assis, Angatuba, Bauru, Caetetus e Santa Bárbara (escala local), inseridas nas bacias hidrográficas do Alto e Médio Paranapanema (escala regional). Muitos autores demonstraram que a composição de espécies está fortemente relacionada com as condições ambientais, o que seria um indicativo de seleção (Vellend 2010). No entanto, a similaridade na composição de espécies entre as localidades pode estar também relacionada à proximidade espacial, independentemente do ambiente, o que seria uma indicação indireta da atuação de eventos estocásticos (Cottenie 2005).
  
-**Referências Bibliográficas**+==Referências Bibliográficas==
  
 Brown, J.H. 1995. Macroecology. Chicago University Press, Chicago, IL. Brown, J.H. 1995. Macroecology. Chicago University Press, Chicago, IL.
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 Wiens, J.J. & Donoghue, M.J. 2004. Historical biogeography, ecology, and species richness. Trends in Ecology and Evolution 19: 639-44. Wiens, J.J. & Donoghue, M.J. 2004. Historical biogeography, ecology, and species richness. Trends in Ecology and Evolution 19: 639-44.
  
-===== Joyce Marques Barbosa===== +==== Nicho ecológico ==== 
- +=== Joyce Marques Barbosa===
-** Nicho ecológico **+
  
 O conceito inicial de nicho foi proposto por Joseph Grinnell (1917) e Charles Elton (1927), determinando a função do habitat e do alimento como principais fatores para definir a distribuição de espécies (Silvertown, 2004). Desde então foram sendo incorporados mais fatores no conceito de nicho, tornando-o cada vez mais amplo. Hutchinson, em 1957, a fim de responder quais e quantos eram os fatores que constituíam o nicho, propôs um modelo em que definia nicho como um volume multidimensional, ou seja de n-fatores, que permite a existência de espécies de forma indefinida (Pulliam, 2000). Esse modelo incluiu também a diferenciação entre o nicho fundamental, sendo este o próprio volume multidemensional que uma espécie é capaz de ocupar, e o nicho realizado, aquele que a espécie é capaz de ocupar quando outra espécie está presente (Hutchinson, 1957). O conceito inicial de nicho foi proposto por Joseph Grinnell (1917) e Charles Elton (1927), determinando a função do habitat e do alimento como principais fatores para definir a distribuição de espécies (Silvertown, 2004). Desde então foram sendo incorporados mais fatores no conceito de nicho, tornando-o cada vez mais amplo. Hutchinson, em 1957, a fim de responder quais e quantos eram os fatores que constituíam o nicho, propôs um modelo em que definia nicho como um volume multidimensional, ou seja de n-fatores, que permite a existência de espécies de forma indefinida (Pulliam, 2000). Esse modelo incluiu também a diferenciação entre o nicho fundamental, sendo este o próprio volume multidemensional que uma espécie é capaz de ocupar, e o nicho realizado, aquele que a espécie é capaz de ocupar quando outra espécie está presente (Hutchinson, 1957).
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 Segundo Silvertown (2004) existem duas respostas para o enigma da coexistência: a teoria do nicho está errada ou está incompleta, sendo necessário incorporar mais eixos de variáveis no nicho. Estudos recentes da teoria do nicho, em contraposição a teoria neutra, tem apontado a incorporação de caracteres das espécies como variáveis importantes para determinar a distribuição de espécies (Harpole & Tilman, 2006). Nesse sentido, talvez a resposta para a coexistência de epífitas esteja nos caracteres associados às estratégias contrastantes apresentadas para lidar com a seca, sendo as plantas divididas entre: resistentes a dessecação, ou homehohídricas, sendo capazes de manter estável seu conteúdo relativo de água (Kranner et al, 2008); e tolerantes a dessecação, ou pecilohídricas, que permitem com que seus tecidos entrem em equilíbrio com o ar de baixa umidade relativa (Levitt, 1980).   Segundo Silvertown (2004) existem duas respostas para o enigma da coexistência: a teoria do nicho está errada ou está incompleta, sendo necessário incorporar mais eixos de variáveis no nicho. Estudos recentes da teoria do nicho, em contraposição a teoria neutra, tem apontado a incorporação de caracteres das espécies como variáveis importantes para determinar a distribuição de espécies (Harpole & Tilman, 2006). Nesse sentido, talvez a resposta para a coexistência de epífitas esteja nos caracteres associados às estratégias contrastantes apresentadas para lidar com a seca, sendo as plantas divididas entre: resistentes a dessecação, ou homehohídricas, sendo capazes de manter estável seu conteúdo relativo de água (Kranner et al, 2008); e tolerantes a dessecação, ou pecilohídricas, que permitem com que seus tecidos entrem em equilíbrio com o ar de baixa umidade relativa (Levitt, 1980).  
  
-** Referências bibliográficas **+== Referências bibliográficas ==
  
 Cipriotti P.A ; Aguiar, M. R. 2010. Resource partitioning and interactions enable coexistence in a grass-shrub steppe. Journal of Arid Environments 74:1111-1120 Cipriotti P.A ; Aguiar, M. R. 2010. Resource partitioning and interactions enable coexistence in a grass-shrub steppe. Journal of Arid Environments 74:1111-1120
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 Slobodkin, L. B. & N. G. Slack. 1999. George Evelyn Hutchinson: 20th-century ecologist. Endeavour 23: 24–29. Slobodkin, L. B. & N. G. Slack. 1999. George Evelyn Hutchinson: 20th-century ecologist. Endeavour 23: 24–29.
  
-===== Leandro Kodama Kasamatsu ===== 
  
-*Predação e estrutura de comunidades*+====Predação e estrutura de comunidades==== 
 +=== Leandro Kodama Kasamatsu ===
  
  A predação é um dos principais fatores que governam os padrões em sistemas naturais (Sih et al.,1998) e pode ser definida de maneira simples como o consumo de um organismo (presa) por outro organismo (predador), levando-se em consideração que a organismo consumido encontra-se vivo. Sih et al. (1985) definem a predação como qualquer interação na qual a energia passa de um organismo para o outro, segundo essa definição todos os animais e algumas plantas podem ser considerados predadores.  A predação é um dos principais fatores que governam os padrões em sistemas naturais (Sih et al.,1998) e pode ser definida de maneira simples como o consumo de um organismo (presa) por outro organismo (predador), levando-se em consideração que a organismo consumido encontra-se vivo. Sih et al. (1985) definem a predação como qualquer interação na qual a energia passa de um organismo para o outro, segundo essa definição todos os animais e algumas plantas podem ser considerados predadores.
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  No trabalho com ouriços-do-mar em particular, me interessa a compreensão da predação visto que esses animais são forrageadores extremamente ativos, capazes de consumir quantidades altíssimas de algas e de mudar a composição de um costão rochoso de maneira radical. Para Miyamoto & Kohshima (2006) esta alta pressão predatória causa grandes danos às comunidades costeiras de algas. Os ouriços são apontados como os maiores responsáveis pela devastação de muitas áreas, ocasionando o sumiço, algumas vezes, completo das espécies ali presentes (Lawrence, 1975; Gagnon et al., 2004). Portanto, considerando estes animais como predadores-chave neste ecossistema, e considerando o impacto que eles causam nos locais onde ocorrem e os efeitos observados em toda cadeia alimentar da qual participam, entender sua biologia alimentar é imprescindível para o manejo e conservação destes organismos, assim como a de animais e algas a ele associados.  No trabalho com ouriços-do-mar em particular, me interessa a compreensão da predação visto que esses animais são forrageadores extremamente ativos, capazes de consumir quantidades altíssimas de algas e de mudar a composição de um costão rochoso de maneira radical. Para Miyamoto & Kohshima (2006) esta alta pressão predatória causa grandes danos às comunidades costeiras de algas. Os ouriços são apontados como os maiores responsáveis pela devastação de muitas áreas, ocasionando o sumiço, algumas vezes, completo das espécies ali presentes (Lawrence, 1975; Gagnon et al., 2004). Portanto, considerando estes animais como predadores-chave neste ecossistema, e considerando o impacto que eles causam nos locais onde ocorrem e os efeitos observados em toda cadeia alimentar da qual participam, entender sua biologia alimentar é imprescindível para o manejo e conservação destes organismos, assim como a de animais e algas a ele associados.
  
-**Referências Bibliográficas**+==Referências Bibliográficas==
  
 Bertness, M.D., Trussell, G.C., Ewanchuk, P.J., Silliman, B.R. & Crain, C.M.  2004. Consumer-controlled community states on gulf of Maine rocky shores. Ecology. 85(5): 1321 – 1331. Bertness, M.D., Trussell, G.C., Ewanchuk, P.J., Silliman, B.R. & Crain, C.M.  2004. Consumer-controlled community states on gulf of Maine rocky shores. Ecology. 85(5): 1321 – 1331.
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 Werner, E.E. & Peacor, S.D.  2006. Lethal and nonlethal predator effects on an herbivore guild mediated by system productivity. Ecology. 87(2): 347 – 361. Werner, E.E. & Peacor, S.D.  2006. Lethal and nonlethal predator effects on an herbivore guild mediated by system productivity. Ecology. 87(2): 347 – 361.
  
-===== Mathias Mistretta Pires ===== 
  
-**Análise de viabilidade de comunidades e o conceito de resiliência ecológica**+====Análise de viabilidade de comunidades e o conceito de resiliência ecológica==== 
 +=== Mathias Mistretta Pires ===
  
 O conceito de estabilidade tem sua origem na matemática e na física. Nessa áreas estabilidade refere-se a uma propriedade de sistemas dinâmicos simples, nos quais é possível, em geral, definir um dado estado de equilíbrio ao qual o sistema tende a retornar após ser perturbado. No entanto, sistemas ecológicos são sistemas complexos cujas propriedades emergem das interações entre seus elementos. Perturbações, portanto, podem gerar efeitos diversos em sistemas complexos, de forma que a concepção de um estado único de equilíbrio é pouco parcimoniosa (Grimm & Wissel 1997). A adaptação do termo à ecologia sem levar em conta a diferença na complexidade dos sistemas estudados é, em parte, responsável por uma grande confusão na literatura no uso de termos relacionados à estabilidade (Grimm & Wissel 1997). Há diversos termos que referem-se a uma mesma propriedade ou que apesar de possuírem definições teóricas distintas tem definição operacional similar (Grimm & Wissel 1997). Optei por considerar como sugerido por Grimm & Wissel (1997) todos os diferentes conceitos como propriedades distintas que, em conjunto, compõem a estabilidade de um sistema. Dentre essas propriedades o conceito de resiliência tem sido bastante usado em ecologia (Grimm & Wissel 1997). Contudo, podemos encontrar ao menos duas definições distintas de resiliência. A primeira refere-se ao tempo necessário para retorno a uma condição de equilíbrio após uma perturbação (Pimm 1984). A segunda, denominada resiliência ecológica, refere-se à quantidade de perturbação que um sistema pode receber sem mudanças qualitativas na sua estrutura e função (Holling 1973; Levin & Lubchenco 2008). Uma comunidade resiliente, segundo essa última definição, é capaz de absorver perturbações e alterar-se. Ambas as propriedades estão associadas a dois pontos de vista distintos. A primeira propriedade, está associada a idéia de que as comunidades possuem um ponto de equilíbrio e após perturbações retornam a esse estado (Peterson et al. 1998). A resiliência ecológica faz mais sentido em um contexto no qual admite-se que a comunidade possui múltiplos estados possíveis e pertubações fazem com que o sistema varie entre esses estados (Peterson et al. 1998). A segunda definição é portanto mais condizente com o estudo de sistemas ecológicos complexos e, a partir desse ponto, sempre que me referir a resiliência de um sistema estarei me referindo ao conceito de resiliência ecológica. O conceito de estabilidade tem sua origem na matemática e na física. Nessa áreas estabilidade refere-se a uma propriedade de sistemas dinâmicos simples, nos quais é possível, em geral, definir um dado estado de equilíbrio ao qual o sistema tende a retornar após ser perturbado. No entanto, sistemas ecológicos são sistemas complexos cujas propriedades emergem das interações entre seus elementos. Perturbações, portanto, podem gerar efeitos diversos em sistemas complexos, de forma que a concepção de um estado único de equilíbrio é pouco parcimoniosa (Grimm & Wissel 1997). A adaptação do termo à ecologia sem levar em conta a diferença na complexidade dos sistemas estudados é, em parte, responsável por uma grande confusão na literatura no uso de termos relacionados à estabilidade (Grimm & Wissel 1997). Há diversos termos que referem-se a uma mesma propriedade ou que apesar de possuírem definições teóricas distintas tem definição operacional similar (Grimm & Wissel 1997). Optei por considerar como sugerido por Grimm & Wissel (1997) todos os diferentes conceitos como propriedades distintas que, em conjunto, compõem a estabilidade de um sistema. Dentre essas propriedades o conceito de resiliência tem sido bastante usado em ecologia (Grimm & Wissel 1997). Contudo, podemos encontrar ao menos duas definições distintas de resiliência. A primeira refere-se ao tempo necessário para retorno a uma condição de equilíbrio após uma perturbação (Pimm 1984). A segunda, denominada resiliência ecológica, refere-se à quantidade de perturbação que um sistema pode receber sem mudanças qualitativas na sua estrutura e função (Holling 1973; Levin & Lubchenco 2008). Uma comunidade resiliente, segundo essa última definição, é capaz de absorver perturbações e alterar-se. Ambas as propriedades estão associadas a dois pontos de vista distintos. A primeira propriedade, está associada a idéia de que as comunidades possuem um ponto de equilíbrio e após perturbações retornam a esse estado (Peterson et al. 1998). A resiliência ecológica faz mais sentido em um contexto no qual admite-se que a comunidade possui múltiplos estados possíveis e pertubações fazem com que o sistema varie entre esses estados (Peterson et al. 1998). A segunda definição é portanto mais condizente com o estudo de sistemas ecológicos complexos e, a partir desse ponto, sempre que me referir a resiliência de um sistema estarei me referindo ao conceito de resiliência ecológica.
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 Os estudos com análises de viabilidade de comunidades podem ser peças fundamentais para compreendermos porque algumas comunidades permanecem por muito tempo praticamente inalteradas ao passo que outras sucumbem frente a perturbações. Nesse sentido, as análises de viabilidade de comunidades usando simulações de cascatas de extinções podem ser uma ferramenta útil para elucidar os processos que levaram a desestruturação de comunidades do passado (Roopnarine et al. 2006, 2007). A maioria dos estudos sobre grandes extinções atribuem suas causas a fatores externos como mudanças climáticas, desastres naturais, ou sobrecaça do homem (Scott 2010). Fatores intrínsecos das comunidades como a dinâmica das populações e estrutura das interações foram historicamente negligenciadas (Scott 2010; Palombo & Brugal 2010). Avanços na capacidade de datação de fósseis e estudos taxonômicos e de paleoecologia mais refinados permitem maior segurança em reconstruir redes de interações que representam as comunidades do passado (Dunne et al. 2008). É possível, portanto, usando as ferramentas de análises de viabilidade de comunidades avaliar em que grau a estrutura dessas redes pode ser responsável pelo colapso dessas comunidades. É nesse contexto que se encaixa meu projeto. Usando as ferramentas da análise de viabilidade de comunidades que permitem avaliar a resiliência de comunidades pretendo testar a hipótese de que o colapso de paleocomunidades deve-se, ao menos em parte, à estrutura das interações entre as espécies que as compunham. Os estudos com análises de viabilidade de comunidades podem ser peças fundamentais para compreendermos porque algumas comunidades permanecem por muito tempo praticamente inalteradas ao passo que outras sucumbem frente a perturbações. Nesse sentido, as análises de viabilidade de comunidades usando simulações de cascatas de extinções podem ser uma ferramenta útil para elucidar os processos que levaram a desestruturação de comunidades do passado (Roopnarine et al. 2006, 2007). A maioria dos estudos sobre grandes extinções atribuem suas causas a fatores externos como mudanças climáticas, desastres naturais, ou sobrecaça do homem (Scott 2010). Fatores intrínsecos das comunidades como a dinâmica das populações e estrutura das interações foram historicamente negligenciadas (Scott 2010; Palombo & Brugal 2010). Avanços na capacidade de datação de fósseis e estudos taxonômicos e de paleoecologia mais refinados permitem maior segurança em reconstruir redes de interações que representam as comunidades do passado (Dunne et al. 2008). É possível, portanto, usando as ferramentas de análises de viabilidade de comunidades avaliar em que grau a estrutura dessas redes pode ser responsável pelo colapso dessas comunidades. É nesse contexto que se encaixa meu projeto. Usando as ferramentas da análise de viabilidade de comunidades que permitem avaliar a resiliência de comunidades pretendo testar a hipótese de que o colapso de paleocomunidades deve-se, ao menos em parte, à estrutura das interações entre as espécies que as compunham.
  
-**Referências Bibliográficas:**+==Referências Bibliográficas==
  
  
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-===== Vinícius Soares Antunes ===== 
  
-**Competição**+====Competição==== 
 +=== Vinícius Soares Antunes ===
  
 Em interações entre espécies, a competição é algo comum em populações naturais de plantas e animais, e particularmente forte entre os herbívoros. Segundo Ricklefs (2003), a competição é qualquer uso ou defesa de um recurso por um indivíduo que reduz a disponibilidade daquele recurso para outros indivíduos. No seu sentido mais amplo a competição se refere à interação de dois ou mais organismos que estão à procura de um mesmo recurso, como por exemplo, alimento, território, água ou luminosidade. Em interações entre espécies, a competição é algo comum em populações naturais de plantas e animais, e particularmente forte entre os herbívoros. Segundo Ricklefs (2003), a competição é qualquer uso ou defesa de um recurso por um indivíduo que reduz a disponibilidade daquele recurso para outros indivíduos. No seu sentido mais amplo a competição se refere à interação de dois ou mais organismos que estão à procura de um mesmo recurso, como por exemplo, alimento, território, água ou luminosidade.
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 Entender a organização dos animais no espaço e no tempo é uma questão central da ecologia, já que a dinâmica populacional está diretamente ligada ao arranjo espacial e aos movimentos causados por pressões internas e externas sobre a população (KERNOHAN et al., 2001). Sendo assim, em meu projeto de pesquisa estimar do tamanho da área de vida do veado-catingueiro e as possíveis diferenças nos tamanhos, em função da abundância e distribuição de alimentos no Pantanal sul-matogrossense e pela densidade da população, pode ser também fortemente influenciada e explicada pela competição intra-específica destes animais pelos recursos como os abrigos, alimentos e o acesso ou restrição à parceiros sexuais. Entender a organização dos animais no espaço e no tempo é uma questão central da ecologia, já que a dinâmica populacional está diretamente ligada ao arranjo espacial e aos movimentos causados por pressões internas e externas sobre a população (KERNOHAN et al., 2001). Sendo assim, em meu projeto de pesquisa estimar do tamanho da área de vida do veado-catingueiro e as possíveis diferenças nos tamanhos, em função da abundância e distribuição de alimentos no Pantanal sul-matogrossense e pela densidade da população, pode ser também fortemente influenciada e explicada pela competição intra-específica destes animais pelos recursos como os abrigos, alimentos e o acesso ou restrição à parceiros sexuais.
  
-**Literatura Citada**+==Literatura Citada==
  
 BURT, W. H. Territoriality and home range as applied to mammals. Journal of mammalogy, v.24, p.346-352, 1943. BURT, W. H. Territoriality and home range as applied to mammals. Journal of mammalogy, v.24, p.346-352, 1943.
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-===== Camilla Presente Pagotto ===== 
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-== Trade-off == 
  
 +==== Trade-off ====
 +=== Camilla Presente Pagotto ===
  
 Um trade-off refere-se a uma correlação negativa entre os efeitos do fitness de dois atributos em um organismo, que podem ser fisiológicos, morfológicos, comportamentais ou ecológicos de tal forma que ambos não podem ser otimizados ao mesmo tempo (Tilman, 1990; Chaise & Leibold, 1992; West-Eberhard, 2003). Segundo Stearns (1994) pelo menos 45 trade-offs são facilmente definidos entre os atributos de história de vida de um organismo. O conceito de trade-off parece remontar à antiga lei da “Compensação do Crescimento”,  proposta por Saint-Hilaire & Goethe (1859, apud Darwin, 1859, p. 163), ou a idéia de “a fim de poder despender de um lado, a natureza é forçada a economizar por outro” citada no livro “Origem das espécies” (Darwin, 1859).  Um trade-off refere-se a uma correlação negativa entre os efeitos do fitness de dois atributos em um organismo, que podem ser fisiológicos, morfológicos, comportamentais ou ecológicos de tal forma que ambos não podem ser otimizados ao mesmo tempo (Tilman, 1990; Chaise & Leibold, 1992; West-Eberhard, 2003). Segundo Stearns (1994) pelo menos 45 trade-offs são facilmente definidos entre os atributos de história de vida de um organismo. O conceito de trade-off parece remontar à antiga lei da “Compensação do Crescimento”,  proposta por Saint-Hilaire & Goethe (1859, apud Darwin, 1859, p. 163), ou a idéia de “a fim de poder despender de um lado, a natureza é forçada a economizar por outro” citada no livro “Origem das espécies” (Darwin, 1859). 
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-=====Vanda Lúcia Ferreira===+====Diversidade local e regional==== 
- +===Vanda Lúcia Ferreira===
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-**Diversidade local e regional** +
  
 Diversidade biológica (ou biodiversidade), um dos atributos estruturais da comunidade, tem sido amplamente utilizada como ferramenta na biologia da  conservação. Essa pode ser avaliada em escala inferior e superior a da espécie (e.g. diversidade genética, evolutiva) conferindo a biodiversidade, uma variedade de significados. A riqueza e equitabilidade combinam-se para determinar a diversidade de uma comunidade, mas na sua definição mais simplificada,  tem sido associada como sinônimo de riqueza de espécies.  A riqueza de especies local e regional está associada aos nichos efetivos (e.g. Veech & Crist  2007), grau de sobreposição e gama de recursos disponiveis, forças efeitos das interações (MacArthur 1972, May 1972), saturação de espécies (ver Ricklefs 1987, Soares et al 2001).  Diversidade biológica (ou biodiversidade), um dos atributos estruturais da comunidade, tem sido amplamente utilizada como ferramenta na biologia da  conservação. Essa pode ser avaliada em escala inferior e superior a da espécie (e.g. diversidade genética, evolutiva) conferindo a biodiversidade, uma variedade de significados. A riqueza e equitabilidade combinam-se para determinar a diversidade de uma comunidade, mas na sua definição mais simplificada,  tem sido associada como sinônimo de riqueza de espécies.  A riqueza de especies local e regional está associada aos nichos efetivos (e.g. Veech & Crist  2007), grau de sobreposição e gama de recursos disponiveis, forças efeitos das interações (MacArthur 1972, May 1972), saturação de espécies (ver Ricklefs 1987, Soares et al 2001). 
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-**Literatura Citada**+==Literatura Citada==
  
 Chase, J.M. & Leibold, M.A. (2002). Spatial scale dictates the productivity-biodiversity relationship. Nature, 416, 427-430.  Chase, J.M. & Leibold, M.A. (2002). Spatial scale dictates the productivity-biodiversity relationship. Nature, 416, 427-430. 
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-===== Fernanda D. Abra =====+====Metacomunidades==== 
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 +=== Fernanda D. Abra ===
  
-**Metacomunidades** 
  
 Ecologia de comunidades é um campo de conhecimento que visa explicar os padrões da distribuição, abundancia e as interações das espécies (Townsend et al.; 2006). Tais padrões ocorrem em diferentes escalas espaciais e podem variar com a escala de observação, sugerindo que diferentes princípios devem ser aplicados em diferentes escalas (Cassemiro & Pardial, 2008). Entretanto, estudos sobre a teoria das comunidades são focados em uma única escala, assumindo que as comunidades locais são fechadas e isoladas (Leibold et al., 2004). Dentro das comunidades locais, as populações interagem diretamente umas com as outras afetando os índices de natalidade e mortalidade, como mostra o modelo clássico da equação de Lotka Volterra , mas as interações e a demografia de comunidades locais podem também ser influenciadas por tipos de dinâmicas espaciais tal como o fluxo de indivíduos que criam o efeito de massa e a dinâmica de machas “fonte-sumidouros” (source sink), essas dinâmicas envolvem interações entre comunidades locais e são denominadas como metacomunidades (Leibold et al., 2004). Metacomunidade, portanto, é um conjunto de comunidades locais que são ligadas pela dispersão da interação de múltiplas espécies. O primeiro trabalho foi publicado por Wilson em 1992, mas a introdução do termo foi feita por Gilpin & Hanski (1991). O conceito de metacomunidades descreve processos que ocorrem em escalas regionais e sugerem um novo modo de se pensar sobre a interação de espécies. Esse novo conhecimento contribui para explicar os padrões de distribuição, abundancia e interações de organismos em escalas locais e regionais, o que tem sido inovador para a Teoria das Comunidades e para a Teoria Ecológica em geral (Leibold et al., 2004). Ecologia de comunidades é um campo de conhecimento que visa explicar os padrões da distribuição, abundancia e as interações das espécies (Townsend et al.; 2006). Tais padrões ocorrem em diferentes escalas espaciais e podem variar com a escala de observação, sugerindo que diferentes princípios devem ser aplicados em diferentes escalas (Cassemiro & Pardial, 2008). Entretanto, estudos sobre a teoria das comunidades são focados em uma única escala, assumindo que as comunidades locais são fechadas e isoladas (Leibold et al., 2004). Dentro das comunidades locais, as populações interagem diretamente umas com as outras afetando os índices de natalidade e mortalidade, como mostra o modelo clássico da equação de Lotka Volterra , mas as interações e a demografia de comunidades locais podem também ser influenciadas por tipos de dinâmicas espaciais tal como o fluxo de indivíduos que criam o efeito de massa e a dinâmica de machas “fonte-sumidouros” (source sink), essas dinâmicas envolvem interações entre comunidades locais e são denominadas como metacomunidades (Leibold et al., 2004). Metacomunidade, portanto, é um conjunto de comunidades locais que são ligadas pela dispersão da interação de múltiplas espécies. O primeiro trabalho foi publicado por Wilson em 1992, mas a introdução do termo foi feita por Gilpin & Hanski (1991). O conceito de metacomunidades descreve processos que ocorrem em escalas regionais e sugerem um novo modo de se pensar sobre a interação de espécies. Esse novo conhecimento contribui para explicar os padrões de distribuição, abundancia e interações de organismos em escalas locais e regionais, o que tem sido inovador para a Teoria das Comunidades e para a Teoria Ecológica em geral (Leibold et al., 2004).
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 Meu interesse sobre o conceito de metacomunidades no meu projeto de mestrado é entender e avaliar os impactos das rodovias sobre as comunidades animais, principalmente no tocante aos atropelamentos desses animais em rodovias em que não foram instaladas medidas mitigatórias a esses impactos (como cercas e passagens de fauna aéreas ou subterrâneas) e sobre o isolamento genético das populações e comunidades do entorno, em rodovias em que foram instaladas medidas mitigatórias para reestabelecer a conectividade entre fragmentos e evitar os atropelamentos. A teoria de metacomunidades resgata o conceito de Ecologia ao abranger a importância das interações das espécies que compõem as comunidades, suas dispersões e as conseqüentes relações decorrentes dessa estrutura biológica, sob um aspecto pratico, o avanço teórico conseguido com os estudos de metacomunidades pode alcançar novas possibilidades no avanço de medidas para a conservação de biodiversidade  Meu interesse sobre o conceito de metacomunidades no meu projeto de mestrado é entender e avaliar os impactos das rodovias sobre as comunidades animais, principalmente no tocante aos atropelamentos desses animais em rodovias em que não foram instaladas medidas mitigatórias a esses impactos (como cercas e passagens de fauna aéreas ou subterrâneas) e sobre o isolamento genético das populações e comunidades do entorno, em rodovias em que foram instaladas medidas mitigatórias para reestabelecer a conectividade entre fragmentos e evitar os atropelamentos. A teoria de metacomunidades resgata o conceito de Ecologia ao abranger a importância das interações das espécies que compõem as comunidades, suas dispersões e as conseqüentes relações decorrentes dessa estrutura biológica, sob um aspecto pratico, o avanço teórico conseguido com os estudos de metacomunidades pode alcançar novas possibilidades no avanço de medidas para a conservação de biodiversidade 
  
-**Literatura Citada**+==Literatura Citada==
  
 Bond, A.R.; Jones, D.N. Temporal trends in use of fauna-friendly underpasses and overpasses. Wildlife Research, 35, p. 103-112, 2008. Bond, A.R.; Jones, D.N. Temporal trends in use of fauna-friendly underpasses and overpasses. Wildlife Research, 35, p. 103-112, 2008.
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 Wilson, D.S. Complex interactions in metacommunities, with implications for biodiversity and higher levels of selection Ecology, 73, 1984-2000, 1992. Wilson, D.S. Complex interactions in metacommunities, with implications for biodiversity and higher levels of selection Ecology, 73, 1984-2000, 1992.
  
-=====Hamanda Badona Cavalheri===== 
  
-**Filtros Ambientais**+====Filtros Ambientais==== 
 +===Hamanda Badona Cavalheri===
  
 A composição de espécies em uma comunidade varia com o tempo e o espaço, sendo determinada por processos ecológicos e evolutivos (Ricklefs & Schluter 1993). Essa variação afeta o pool regional de espécies, o qual limita a diversidade de espécies disponível para ocupar as comunidades locais. Sendo que o pool regional de espécies é por definição a soma das espécies presentes nas comunidades locais (Cornell & Lawton, 1992). No entanto a ocorrência das espécies pode ser limitada por fatores intrínsecos da comunidade local (MacArthur & Levins, 1967). Essa limitação de coexistência de espécies em certa área é influenciada por interações entre as espécies e entre as espécies e o meio abiótico (Cornwell et al. 2006). Assim, pode-se atribuir a coexistência de espécies devido à competição e aos filtros ambientais (Cornwell et al. 2006). Neste ensaio o enfoque da será sobre os filtros ambientais. O conceito de filtro ambiental pode ser definido como restrições impostas pelo ambiente, as quais exigem que as espécies possuam atributos semelhantes para sobreviverem nas condições impostas pelo ambiente (Cornwell et al. 2006). Portanto, nem todas as espécies presentes no pool regional são capazes de ocupar todos os ambientes devido às diferentes restrições impostas por eles (Keddy, 1992; Grime, 2006). A composição de espécies em uma comunidade varia com o tempo e o espaço, sendo determinada por processos ecológicos e evolutivos (Ricklefs & Schluter 1993). Essa variação afeta o pool regional de espécies, o qual limita a diversidade de espécies disponível para ocupar as comunidades locais. Sendo que o pool regional de espécies é por definição a soma das espécies presentes nas comunidades locais (Cornell & Lawton, 1992). No entanto a ocorrência das espécies pode ser limitada por fatores intrínsecos da comunidade local (MacArthur & Levins, 1967). Essa limitação de coexistência de espécies em certa área é influenciada por interações entre as espécies e entre as espécies e o meio abiótico (Cornwell et al. 2006). Assim, pode-se atribuir a coexistência de espécies devido à competição e aos filtros ambientais (Cornwell et al. 2006). Neste ensaio o enfoque da será sobre os filtros ambientais. O conceito de filtro ambiental pode ser definido como restrições impostas pelo ambiente, as quais exigem que as espécies possuam atributos semelhantes para sobreviverem nas condições impostas pelo ambiente (Cornwell et al. 2006). Portanto, nem todas as espécies presentes no pool regional são capazes de ocupar todos os ambientes devido às diferentes restrições impostas por eles (Keddy, 1992; Grime, 2006).
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 Como mostrado anteriormente, a composição de espécies em uma taxocenose pode ser determinada pela estrutura do habitat, por meio da seleção das espécies do pool regional que sejam capazes de ocupar o ambiente (Moermond, 1979). Entende-se por taxocenose como um grupo de espécies de uma mesma linhagem que coexistem em uma área definida (Strong Jr. et al. 1984; Diamond & Case, 1986). Dessa forma, espera-se que a composição de taxocenoses de ambientes similares sejam semelhantes (Ricklefs & Schluter, 1993). É dentro desse contexto que uma das perguntas do meu projeto se encaixa. No meu estudo busco entender os efeitos da estrutura do habitat sobre os padrões morfológicos e de composição em taxocenoses de serpentes. Uma das questões que procuro elucidar é se existe um filtro que impede que linhagens de serpentes primariamente arborícolas ocorram em fisionomias vegetais com estruturação simples (e.g. campos), ou seja, verificar se as taxocenoses de fisionomias vegetais simples são uma amostra aleatória ou enviezada do pool regional de espécies. Dessa forma, eu espero que linhagens nas quais o hábito arborícola seja predominante serão pouco representadas em habitats abertos, assim, a composição das taxocenoses reflete a manutenção de atributos imposta pela filogenia. Como mostrado anteriormente, a composição de espécies em uma taxocenose pode ser determinada pela estrutura do habitat, por meio da seleção das espécies do pool regional que sejam capazes de ocupar o ambiente (Moermond, 1979). Entende-se por taxocenose como um grupo de espécies de uma mesma linhagem que coexistem em uma área definida (Strong Jr. et al. 1984; Diamond & Case, 1986). Dessa forma, espera-se que a composição de taxocenoses de ambientes similares sejam semelhantes (Ricklefs & Schluter, 1993). É dentro desse contexto que uma das perguntas do meu projeto se encaixa. No meu estudo busco entender os efeitos da estrutura do habitat sobre os padrões morfológicos e de composição em taxocenoses de serpentes. Uma das questões que procuro elucidar é se existe um filtro que impede que linhagens de serpentes primariamente arborícolas ocorram em fisionomias vegetais com estruturação simples (e.g. campos), ou seja, verificar se as taxocenoses de fisionomias vegetais simples são uma amostra aleatória ou enviezada do pool regional de espécies. Dessa forma, eu espero que linhagens nas quais o hábito arborícola seja predominante serão pouco representadas em habitats abertos, assim, a composição das taxocenoses reflete a manutenção de atributos imposta pela filogenia.
  
-Referências bibliográficas+==Referências bibliográficas==
  
 CADLE, J.E.; GREENE, H.W. Phylogenetic patterns, biogeography, and the ecological structure of Neotropical snake assemblages. In: RICKLEFS, R. E.; SCHLUTER, D. Species diversity in ecological communities: historical and geographical perspectives. Chicago: University of Chicago Press, 1993. p. 281-293. CADLE, J.E.; GREENE, H.W. Phylogenetic patterns, biogeography, and the ecological structure of Neotropical snake assemblages. In: RICKLEFS, R. E.; SCHLUTER, D. Species diversity in ecological communities: historical and geographical perspectives. Chicago: University of Chicago Press, 1993. p. 281-293.
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